Cotidiano

Rob Baker, diretor de marketing: 'Afrouxar a gravata é bom para um museu'

“Tenho 39 anos e nasci em Kent, cidade perto de Londres. Sou diretor-chefe de marketing da Tate, rede de quatro galerias na Inglaterra, sendo a Tate Modern e a Tate British as mais conhecidas. Antes , ocupei o mesmo cargo no Barbican Centre por mais de cinco anos. Meu maior amor é o cinema, passo muito tempo assistindo a filmes.”

Conte algo que não sei.

Não tenho qualificação em marketing. Minha primeira graduação foi em filosofia, e fiz um mestrado em artes visuais e cinema. Mas sempre pensei que o marketing é basicamente entender as pessoas, ter uma abordagem prática e ser curioso. Ter uma formação em marketing pode ser uma desvantagem. Mas não sempre. Acho que é preciso pensar criativamente.

Hoje, os museus se posicionam de forma diferente. O quão recente é a tendência?

O papel do museu na sociedade e na cultura mudou nos últimos 20, 30 anos. De um lugar acadêmico e formal, onde se dispõem objetos, procura-se torná-lo um espaço de comunidade, debate, discussão. Quando abrimos a Tate Modern, em 2000, vimos que as audiências procuram experiências diferentes, mais imersivas e participativas. O museu, de certa forma, torna-se um espaço que é seu. Há menos hierarquia com a audiência, e passa a haver diálogo entre artista, curador e audiência. O foco é a democratização, é garantir que o museu seja acessível e receptivo.

Como romper com essa impressão “intimidadora”?

O desafio é atrair as pessoas que têm uma ideia muito preconcebida do que é uma galeria. Uma caixa branca com arte difícil, que não entendemos, em que não nos sentimos confortáveis. Nossa missão é fazer com que não achem que aquilo está fora do seu alcance. Sei que há um grande trabalho com isso no Brasil, com o Museu do Futebol, o Museu do Amanhã. Eles fazem exatamente isso.

Esta postura também depende dos artistas, não?

A maneira como os artistas trabalham hoje é muito mais engajada com a audiência. Por exemplo, temos obras do grupo Guerrilla Girls, que falam sobre discriminação no mundo da arte, particularmente. Elas fizeram residência de um ano no museu com o projeto “Departamento de reclamações”. Qualquer um poderia ir lá e reclamar sobre o que quisesse, e a manifestação ficaria numa parede. E as pessoas reclamaram sobre o museu, inclusive. Criou discussão, diálogo. Há uma tendência entre artistas nesse sentido da crítica social. Vamos ver o que acontece nos próximos anos, com tanta mudança. Brexit, Trump… Será interessante ver como os artistas respondem a isso, e acredito que vão.

Quais são os limites para essas novas propostas?

Espaços só de discussão, sem arte ou artistas, estão fora do alcance da instituição. Se tornaria outra coisa. Lançamos um programa para a noite, com DJs para criar música e projeções no museu. Isso traz um público jovem, torna o museu um “espaço comum”. É bom para o museu afrouxar a gravata, relaxar. Faz o espaço físico ser relevante. Você ainda precisa controlar a qualidade, ter um DJ muito bom (risos).

A forma como as pessoas experimentam a arte mudou?

Sim, é fascinante, porque é uma maneira mais rápida, experimental e fotográfica. Os museus devem pensar em como as pessoas querem consumir arte hoje, ou estão perdidos.

Como a tecnologia se inseriu nessa experiência?

Preferimos não entulhar o museu de aparelhos, mas criar um aplicativo que melhore a experiência concreta, com smartphones. As pessoas querem fotografar, e acho errado julgar isso, porque é ótimo que estejam no museu. O desafio é se isso compromete a experiência dos outros. Nós permitimos paus de selfie.