Cotidiano

Rio recebe Pat Thomas, o embaixador do highlife

RIO – Pat Thomas é um dos mais legítimos representantes do highlife, música do Gana com inspiração de Cuba, tocada em instrumentos elétricos, especialmente guitarras. Popularizado pela influência que exerceu no disco africano de Paul Simon, ?Graceland? (1986), o estilo encontrou em Thomas sua voz mais eloquente ? e também uma espécie de embaixador informal. Nascido em 1951, o cantor africano se apresenta no Rio amanhã, às 22h30m, com sua Kwashibu Area Band. Pela primeira vez no Brasil, ele é uma das principais atrações do Mimo, que acontece de hoje a domingo, com shows em dois palcos na Praça Paris, na Glória. Com a proposta de mostrar a riqueza musical de várias partes do mundo, o festival traz, ainda, entre outros, o caboverdiano Mário Lúcio, a ?rainha da cúmbia? da Colômbia Totó La Momposina, os jazzistas franceses Jacky Terrasson e Stéphane Belmondo e o grupo inglês de fusões Sons of Kemet. Link Mimo

? O highlife é o highlife, mas ele continua se modernizando ? aposta Thomas, em entrevista ao GLOBO por telefone.

Intérprete que, em 1978, foi eleito o Mr. Golden Voice of Africa (O Senhor Voz Dourada da África), ele desconversa sobre o assunto:

? Ah, isso foi um título que me deram, não fui eu que escolhi…

Pat começou sua carreira em 1971, quando se fixou em Acra, capital do Gana, um dos países mais multiculturais do continente africano. Lá, passou a fazer parte de uma das bandas mais importantes do highlife, os Blue Monks (do guitarrista, arranjador e mito da música ganense, Ebo Taylor), que se notabilizaram pelas noites quentes que proporcionaram em sua residência no Tip Toe Nite Club.

? Comecei cantando músicas de Stevie Wonder, que é um mentor para mim, e um tanto de reggae, principalmente de Jimmy Cliff, que chegou às paradas de sucessos antes de Bob Marley. Mas eu também adoro Bob Marley! ? corrige-se Pat. ? Gostava também muito do meu tio (o lendário guitarrista King Onyina, colaborador de Nat King Cole) e de um monte de outros músicos que eu não vou mencionar porque posso esquecer algum.

Em meados dos anos 1970, o cantor, já em carreira solo e muito bem situado na cena de seu país, acompanhou de perto o desenvolvimento de uma nova e poderosa música, nascida do encontro da tradição africana com o jazz, o funk, o reggae e novos estilos ? em especial, o afrobeat, criado na quase vizinha Nigéria pelo multi-instrumentista Fela Kuti.

? Foi ótimo estar nesse mesmo movimento musical de Fela e (do saxofonista camaronês Manu) Dibango ? conta Thomas. ? Fela costumava vir a Gana muitas vezes, e chegou mesmo a viver um tempo no país com seus músicos. Com ele e Tony Allen (baterista da banda do nigeriano e criador da batida do afrobeat), montamos um quinteto. Aí aconteceu de o meu produtor ter a ideia de chamar Tony para gravar comigo algumas músicas para as quais escrevi a letra. E foi o que aconteceu agora no meu novo disco.

O cantor se refere a ?Pat Thomas & Kwashibu Area Band?, álbum que gravou no ano passado, em Acra, no estúdio Lovelite, em equipamento analógico, como 40 anos atrás. Além de Tony Allen, participaram das gravações Ebo Taylor, o organista e guitarrista Kwame Yeboah (que tocou com Stevie Wonder e Cat Stevens) e músicos jovens, como o baixista Emmanuel Ofori, o percussionista ?Sunday? Owusu e a filha de Thomas, a cantora Nannaya.

Dividido entre recriações de hits do cantor e novas músicas, esse é o primeiro disco do astro do highlife desde 1991, e seu primeiro lançamento para o mercado internacional. O burburinho causado foi suficiente para inseri-lo, com sua banda, na programação dos principais festivais de música da Europa.

? (Correr os festivais) não é nada difícil para mim, é algo que estou adorando fazer. Estamos tocando juntos há uns dois anos, mas parece bem mais tempo. Viver em turnê não é novidade, passei minha vida inteira viajando para tocar. Hoje, de vez em quando fico meio gripado, mas tudo bem, dá para levar ? conta Thomas, que propõe um intercâmbio musical entre seu país e o Brasil. ? Vocês aí têm o samba, assim como nós temos o highlife. Vamos fazer um encontro dos dois para ver no que é que dá.

A missão agora, ele diz, é espalhar seu som pelo mundo:

? As coisas aconteceram para o álbum na Europa, mas ele ainda nem foi lançado na África. E vamos tentar levar alguns discos aí para o Brasil, é claro.