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Revezamento: Americanas ganham segunda chance após toque de brasileira que desclassificou o país

Em um estádio já marcado pelas vaias ao francês Renaud Lavillenie, do salto com vara, não foram nada surpreendentes os gritos de comemoração em diversos idiomas quando o bastão dos Estados Unidos caiu na manhã de quinta-feira. Na babel olímpica da zona mista do Engenhão, um labirinto cercado de jornalistas por onde passam os mais nobres atletas, era fácil se perder na empolgação de ver um rival duro de bater ficar pelo caminho, ainda que injustamente. A redenção das americanas, e do público, veio somente à noite, quando, em uma prova na qual desafiavam apenas o tempo, os Estados Unidos foram à final do revezamento 4x100m feminino hoje, às 22h15m. E receberam aplausos. Links atletismo

Antes de três americanas subirem ao pódio para receberam as medalhas dos 100m com barreiras, as quarto do time de revezamento 4x100m correram sozinhas na pista do Engenhão. A odisseia rumo à decisão começou com um empurrãozinho de uma brasileira.. Pela manhã, na classificatória, Kauiza Venâncio tocou no braço de Allyson Felix, que perdeu a passada justo na troca de bastão com English Gardner. A americana lembrou que precisava concluir a prova para poder recorrer. Os EUA chegaram em último e as rivais na zona mista vibraram. O Brasil, em nono no geral, já não pegaria tempo de final, mas foi desclassificado mesmo assim. E as americanas ganharam nova chance.

? Foi toque braço com braço. Eu vi a Kauiza toda na raia, o pé estava correto e, mesmo se desequilibrando, não saiu da raia. Então, não sei por que fomos desclassificadas ? disse Rosângela Santos, que compôs o time com Bruna Farias, Franciela Krasucki e Kauiza Venâncio.

? Eu senti o toque, mas estava na minha raia ? completou Kauiza.

As imagens, no entanto, mostraram o contrário para a comissão da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF), que analisou o caso em sessenta minutos, possibilitando a nova corrida das americanas. Elas precisariam fazer pelo menos o oitavo tempo geral dos times na final, que era da China, com 42s70.

‘TREINÃO’ DE LUXO

As americanas conseguiram não apenas a marca, mas passaram em primeiro no geral, com 41s77, contra os 41s79 das rivais jamaicanas, que haviam feito a melhor marca pela manhã, mas sem Elaine Thompson, campeã dos 100m e 200m no Rio e poupada para a final.

Ao sair da pista ontem à noite, já bem mais tranquilas que de manhã, quando reclamaram muito do toque da brasileira, as americanas confessaram um certo receio de serem vaiadas. Afinal, o recurso do país havia desclassificado ninguém menos que as donas da casa. Diante de um público surdo para os pedidos de silêncio durante as provas, estrondosas e críticas palavras eram o que esperavam ouvir, e não os incentivos e aplausos que fecharam um dia que tinha tudo para dar errado para Felix e cia.

? Estava esperando vaias, mas ouvi aplausos ? disse Gardner, que compõe o time com Tianna Bartoletta, Felix e Morolake Akinosun.

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O público que foi ao estádio ontem à noite era formado por quem desejava ver Usain Bolt. Foram brindados com um show de competência das americanas diante da pressão de correrem sozinhas, no maior ?treino? com torcida da vida delas, provavelmente. E também pelo fato de a a qualificação americana para a decisão do revezamento só levar mais brilho e lenha para a fogueira da rivalidade com a Jamaica.

Ontem, ainda pela manhã, quando as notícias davam conta de que os EUA estavam fora, o revezamento jamaicano se exibia na zona mista como quem passeia pela pista após a vitória. Falando quase que exclusivamente aos jornalistas da Jamaica, Shelly-Ann Fraser-Pryce fez apenas um sinal de positivo quando perguntada sobre o clima no Brasil. Disse, ainda aos repórteres de seu país, que se correrem da mesma maneira, com aquele que foi o melhor tempo jamaicano no ano, o ouro poderia vir. Ela só não contava com a marca mais baixa das americanas horas depois, em um aquecimento de luxo para uma prova que tem tudo para ser a mais disputada até agora no Engenhão.

SEM SEGUNDA CHANCE PARA O BRASIL

Já as brasileiras não tiveram segunda chance e estão fora dos Jogos em casa. Além de não fazerem o tempo necessário, foram desclassificadas e quase interferiram diretamente nos rumos de uma final da qual nem fariam parte.

A reta final do ciclo até a classificatória, inclusive, foi marcada por problemas que desembocaram no Rio-2016 na pior hora possível. Ana Cláudia Lemos, a principal velocista, não correu ontem porque está lesionada. Ela havia cumprido cinco meses de suspensão a partir de fevereiro por ter testado positivo para o anabolizante Oxandrolona.

Mais experiente do grupo, e que nos último dias herdou a medalha de bronze de Pequim-2008 devido à desclassificação da Rússia por doping naqueles Jogos, Rosângela dos Santos negou que o episódio com Ana Cláudia tenha influenciado o desempenho do time.

? Entramos da mesma forma que entraríamos com ela na equipe, porque as seis que treinaram estes dois anos estavam prontas para estar ali e fazer um grande resultado ? explicou Rosângela dos Santos. Conheça todas as provas do atletismo