Cotidiano

Retenção de talentos garante melhores resultados ao negócio

61169779_BC EXCLUSIVO Rio de Janeiro RJ 30-08-2016 Voce investe - Empresas capazes de reter seus.jpg Boa RIO – A empresa gerida por Liliane Ferrentini é um daqueles pontos fora da curva. Fundada há dez anos, a agência Cake, especializada em eventos, nunca teve um pedido de demissão por parte de seus funcionários. Esse trunfo, segundo ela, é resultado de um forte entrosamento entre a equipe e a garantia de bons resultados no negócio.

? Sinto que todos acreditam muito no trabalho, já que estamos crescendo e ganhando juntos. Eles vibram com as conquistas e fazem tudo para irmos cada vez mais longe. É como se fosse uma cooperativa ? compara Liliane.

Ter um baixo índice de funcionários desligados por conta própria é um ótimo sinal de boa saúde da firma, segundo especialistas. Em geral, isso é o desdobramento de um ambiente de trabalho sadio e com possibilidade de crescimento, além de salários competitivos. Mas, de acordo com a professora de recursos humanos da Mackenzie Rio, Nayara Cardoso, casos assim ainda são exceções no mercado brasileiro.

? Acho que é uma questão cultural. As empresas ainda não pararam para fazer o cálculo dos impactos financeiros desses aspectos. Os empresários devem entender que a retenção de talentos se transforma em benefícios, como fidelização de clientes e crescimento, além de evitar gastos com ações trabalhistas ? menciona Nayara.

No caso da Cake, os sete funcionários são remunerados por projeto e, quando conquistam um novo cliente, são recompensados financeiramente.

? Também temos muita flexibilidade e um ótimo clima no ambiente de trabalho ? completa Liliane.

Os empregados confirmam. Responsável por atendimento e produção, Rodrigo d’Almeida está na agência desde a fundação e já recebeu, pelo menos, três propostas de emprego neste período, inclusive de companhias maiores.

? Aprendi muito aqui e acho que outros empregadores poderiam impedir meu desenvolvimento pessoal e profissional ? destaca ele, sobre os motivos pelos quais recusou as ofertas.

Alcançar esse nível de satisfação entre os funcionários não é exclusividade das pequenas empresas. Segundo lugar este ano no ranking de melhores empresas de grande porte para trabalhar no Rio, feito pelo Instituto Great Place to Work, a administradora de shopping centers Ancar Ivanhoe tem cerca de 3.800 empregados e taxas de pedidos de demissão pelos funcionários perto de zero. A média anual nunca passa de 0,02% do total de contratados, segundo a gerente nacional de recursos humanos, Leia Cardoso.

? Temos uma forte cultura voltada para as pessoas ? destaca ela, citando a criação de uma universidade interna para o aperfeiçoamento profissional e as ações de bem-estar. ? Nosso trabalho é para que a pessoa seja feliz sem utopias. Os funcionários têm desafios e metas, mas se comprometem, porque são engajados com o negócio.

ALÉM DA BOA REMUNERAÇÃO

A companhia de cartões e vouchers Edenred Brasil, que tinha 880 funcionários e acaba de saltar para aproximadamente 2 mil por causa de uma fusão, manteve nos últimos anos uma média anual de pedidos de demissão pelos empregados correspondente a cerca de 4% do quadro. Segundo o diretor de recursos humanos da empresa, Ricardo Amaro, esse resultado se justifica por algumas ações e políticas. É o caso da valorização dos funcionários, com benefícios e premiações, e das oportunidades de crescimento na empresa, estimulada por formação continuada e planos de carreira.

Como ele acrescenta, também entram na lista várias atividades ligadas à qualidade de vida e ao bem-estar, por meio de programas de flexibilidade e cuidados com a saúde dos empregados.

? Temos vários ganhos com isso. Obviamente, conseguimos atrair e reter funcionários mais capacitados e reduzimos gastos com processos de admissão e demissão, que muitas vezes passam despercebidos ? destaca. ? E os desligamentos também causam custos indiretos, como perda de histórico do empresa e do conhecimento adquirido ao longo dos anos pelo funcionário. Empresas com muita rotatividade têm dificuldade em dar continuidade aos trabalhos.

16018-087.jpg A professora da Business School São Paulo, Laura Marques Castelhano, especialista em gestão de carreira, reconhece que o caminho até a retenção de talentos não é fácil. Mas, para ela, quem investe da maneira correta tem retorno garantido.

? Muitos gestores optam por não olhar para isso, porque não sabem como fazer ou consideram uma grande bobagem, por priorizarem apenas o aspecto financeiro. Mas isso é um erro ? adverte ela.

Laura destaca, inclusive, que boa remuneração não basta para manter os funcionários na empresa. Segundo ela, além de aspectos como os listados por Amaro, um bom líder faz toda a diferença.

? As pessoas que geralmente permanecem na empresa são inspiradas pelo líder, numa relação de respeito, admiração e confiança naquela pessoa. E é muito difícil ter isso ? diz ela.

Por isso, segundo Laura, cabe à companhia capacitá-los para que estejam atentos à sua equipe, não apenas cobrando resultados, mas cuidando dos aspectos humanos também.

COMPETÊNCIAS MANTIDAS

Com 3.200 funcionários no Brasil, a Scania tem uma média de pedidos de demissão que não passa de 2% do quadro ao ano. Por trás desse desempenho estão o bom clima organizacional e uma forte política de aproveitamento de talentos internos, segundo o gerente executivo de Recursos Humanos, Helder Lotto.

? Quando temos uma vaga, primeiro olhamos para os nossos funcionários. Em 2015, 91% das oportunidades foram preenchidas por integrantes da organização ? afirma ele, explicando que tal política abrange também os programas de estágio e trainee. ? Isso significa que as competências são mantidas e conseguimos perpetuar nossos negócios de maneira satisfatória.