Cotidiano

Republicanos conservadores criticam abandono do líder da Câmara a Trump

WASHINGTON ? Principal líder republicano no Congresso dos EUA, o presidente da Câmara dos Representantes Paul Ryan afirmou na segunda-feira que não fará campanha ou defenderá o candidato presidencial do partido, Donald Trump. A decisão irritou o magnata e outros representantes linha-dura da legenda, evidenciando um racha dentro da sigla.

“Paul Ryan deveria gastar mais tempo equilibrando o Orçamento, empregos e a imigração ilegal, e não perder seu tempo combatendo o indicado republicano”, disse Trump em um tuíte. trump

Fontes ouvidas pela imprensa americana afirmaram que Ryan teria orientado membros do partido a “fazerem o necessário” para proteger seus distritos. O presidente da Câmara dos Representantes já havia cancelado uma aparição ao lado do magnata no fim de semana depois do vazamento de um áudio constrangedor de 2005, em que Trump se gaba, com linguagem vulgar e palavrões, dos seus métodos para seduzir mulheres. Na ocasião, ele condenou as declarações machistas do empresário e se disse “enojado” pelos comentários.

Ryan, que disse anteriormente que votaria em Trump, teria afirmado sua decisão em uma ligação telefônica, na qual estaria bastante “nervoso”. Em uma teleconferência de emergência com deputados republicanos, Ryan disse que agora irá se concentrar em proteger as maiorias do partido no Congresso para que “Hillary não tenha um cheque em branco” com um Capitólio controlado por democratas, disse uma fonte a par da conversa. Ele disse aos congressistas para “fazer o que for melhor para você e o seu distrito”, de acordo com a CNN.

Ao contrário de mais de 40 líderes republicanos que retiraram o apoio a Trump após as declarações vazadas, congressistas conservadores apelaram pela manutenção do endosso ao magnata e atacaram Ryan. O representante Dana Rohrabacher (Califórnia) disse que os colegas que se afastaram de Trump são covardes, assim como Trent Franks, do Arizona, que foi bastante além:

? Hillary na Casa Branca significaria fetos sendo destruídos membro por membro.

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Após receber a série de críticas dos setores mais ligaods a Trump no partido, Ryan assegurou que não retiraria o apoio formal a ele. Mas uma porta-voz afirmou que “a única prioridade do líder na Câmara seria fortalecer o partido para eleger mais colegas.

Outros congressistas advertiram que a situação do bilionário pode se tornar ainda mais delicada em breve.

? Há um consenso, mesmo entre os apoiadores, de que a chance de que alguma outra surpresa muito vergonhosa ou negativa aconteça é maior que 50% ? disse o representante Scott Rigell, da Virgínia. ? O comitê está se preparando para outro episódio.

É extremamente raro um presidente da Câmara dos Deputados dar as costas ao candidato presidencial de seu partido. O gesto de Ryan ilustrou a extensão da revolta desencadeada pela divulgação, na sexta-feira, de um vídeo de 2005 que mostra Trump se vangloriando despudoradamente sobre como apalpa mulheres e fazendo insinuações sexuais.

ABANDONADO POR REPUBLICANOS

Este é o mais recente revés na campanha de Trump, que vem perdendo apoio dentro do seu próprio partido nos últimos dias. Líderes republicanos vêm pedindo, inclusive, que ele renunciasse à candidatura. Mas não demorou para que o magnata descartasse por completo essa possibilidade.

Quatro senadores republicanos anunciaram formalmente que não votarão no magnata depois do escândalo. O principal deles é John McCain, ex-candidato presidencial e que já se viu em confusão com Trump após o magnata não considerá-lo um herói de guerra (McCain foi feito prisioneiro no Vietnã).

“Pensei que fosse importante respeitar o fato de Trump ter vencido a maioria dos delegados pelas regras do partido. Mas seu comportamento nesta semana, incluindo seus comentários depreciativos sobre mulheres e sua ostentação sobre agressões sexuais, tornam impossível até dar apoio condicional a sua campanha”, condenou. “Escreverei na cédula o nome de um bom republicano conservador que seja qualificado para ser presidente.”

O ex-senador Mike Kirk pediu para o partido substitui-lo. O ex-governador do Utah e ex-embaixador Jon Huntsman, disse que “chegou a hora de (Mike) Pence liderar a chapa”, pedindo que o candidato a vice do magnata assuma a função no lugar dele. Huntsman defendera o voto em Trump uma semana antes. Até o senador Ted Cruz, que recentemente deu apoio a Trump após ser derrotado por ele nas primárias republicanas, foi duro. “Estes comentários são perturbadores e inapropriados, e não há desculpa para eles. Toda mulher, mãe, filha – toda pessoa – deve ser tratada com dignidade e respeito”, disse em nota. Seis líderes republicanos que abandonaram Trump após declarações obscenas

Sua ex-rival na disputa, Carly Fiorina, pediu que ele se retirasse da corrida. Nunca um grande partido americano substituiu seu candidato presidencial tão perto das eleições.

A direção de seu partido também fez críticas após a divulgação do áudio. “Nenhuma mulher deve ser descrita nestes termos ou ser alvo de comentários desta maneira. Nunca”, criticou duramente o presidente do Comitê Nacional Republicano, Reince Priebus.

O ex-candidato presidencial Mitt Romney atacou: “Dar em cima de mulheres casadas? Minimizar agressão? Essas degradações vis diminuem nossas mulheres e filhas e corrompem a imagem dos EUA para o mundo”, criticou pelo Twitter.

O vice de Trump, Mike Pence, emitiu um comunicado sobre o caso:

“Como marido e pai, eu fiquei ofendido pelas palavras e ações descritas por Donald Trump no vídeo de onze anos atrás divulgado ontem. Eu não desculpo seus comentários e não posso defendê-los. Eu sou grato que ele expressou remorso e se desculpou ao povo americano”, disse o republicano.

A mulher de Trump, Melania, disse que se sentiu ofendida pelos comentários “inaceitáveis e ofensivos”, mas pediu que os eleitores aceitem as desculpas.

“Isto não representa o homem que conheço. Ele tem o coração e a mente de um líder. Espero que aceitem a desculpa dele, como eu aceitei, e foquem em temas importantes que dizem respeito a nossa nação e ao mundo”, afirmou em comunicado.