Cotidiano

Renato Kherlakian lança livro em que conta a história da Zoomp

59332484_El Zoomp Matéria.jpgRIO ? Renato Kherlakian, sem um pingo de pudor, afirma que as bundas (?As mais bonitas e possíveis de serem levantadas?) foram os maiores outdoors das calças da Zoomp, grife que fundou em 1974. Era na altura do derrière que ficava o raio amarelo ? a logo da marca, reconhecível a quilômetros de distância, como são os dois ?C? da Chanel ou a Medusa da Versace. Mas a construção da etiqueta não se deve apenas aos bumbuns alheios. Fica evidente no livro ?Uns jeans… Uns não? (Ed. SENAI-SP), que Renato e Ronald Sclavi lançaram esta semana em São Paulo, que o sucesso da casa foi resultado, na verdade, de um trabalho agressivo de marketing, uma distribuição eficiente e investimento em tecnologia e inovação.

? Fazíamos, por exemplo, a numeração ímpar. Era inadmissível levar um jeans para a costureira ajustar. Se o 38 ou o 36 não caíssem bem, nós tínhamos o 37 ? aponta Renato, de 66 anos, que, hoje, atua como consultor.

Bem-humorado, ele conta que a ideia de criar a Zoomp surgiu numa ?viagem lisérgica? para Macaé, em 1973.

? Caiu do céu. O raio trouxe muita energia. Antes da marca, eu trabalhava com tecidos planos, subindo e descendo a rua Augusta, em São Paulo, vendendo o meu produto para as butiques da época ? relembra.

O primeiro jeans five pockets só veio em 1976, dois anos após o lançamento da grife. Até então, ele usava o denim para confeccionar saias, vestidos e chemises.

? O índigo era bruto e o trabalho era artesanal ? explica o empresário.

59332487_El Zoomp Matéria.jpgNo livro, Renato conta que as calças baggy e semibaggy foram alguns de seus maiores hits. Mas diz que foi o jeanskini, da coleção de verão 2006, o responsável por consolidar a imagem da Zoomp no mercado internacional.

? A foto da modelo Isabeli Fontana com a peça rodou o mundo. Os maiores pedidos vieram do Japão. As japonesas sempre gostaram do inusitado, do ousado.

Cheio de boas histórias, Renato recorda, aos risos, a passagem de Laetitia Casta pela marca nos anos 90. Na ocasião, a top francesa foi contratada para estrelar uma campanha e um desfile.

? Só a conhecia por fotografia. Fui surpreendido por sua altura. Ela era baixa para os padrões: tinha menos de 1.70m, além de ter seios avantajados. Tivemos que refazer as roupas que ela vestiria na passarela. Mas era nítida a sua desproporção. As outras modelos eram bem mais altas. No dia das fotos, não teve erro. Com Laetitia deitada, tudo ficava perfeito. Lidei com a situação com humor e tranquilidade ? diverte-se.

Ainda na década de 90, Renato apostou na então desconhecida Gisele Bündchen. Ela aparecia nos catálogos e nas apresentações da Zoomp na semana de moda paulistana. Em 1997, Gisele foi a protagonista do desfile inspirado na obra ?Alice no país das maravilhas?, de Lewis Carroll. A modelo, uma menina na época, entrou na passarela com um gato nas mãos.

? Gisele não tinha esse prestígio todo ? minimiza o empresário. ? Ela, inclusive, chegou a fazer uma caravana com a gente. Mas a estrela da turnê era Adriane Galisteu.

59332490_El Zoomp Matéria.jpgEntre os grandes nomes da moda que passaram pela Zoomp, três chamam a atenção: a editora de moda francesa Carine Roitfeld, o fotógrafo peruano Mario Testino e o estilista paulistano Alexandre Herchcovitch. No livro,Renato deixa claro que o estilista foi quem ?emprestou maior versatilidade às coleções da marca?.

? Mas tivemos outros talentos, como os designers Marcelo Sommer e Jum Nakao ? observa.

Os áureos tempos ficaram, por enquanto, para trás. Em 2006, 32 anos após ter fundado a Zoomp, Renato Kherlakian vendeu a marca para o grupo HLDC. Na sequência, a etiqueta passou a fazer parte da holding I’M (Identidade Moda). Em 2009, a Zoomp teve sua falência decretada e revogada. Recentemente, a grife foi comprada pelo grupo K2, presidido por Valéria Hiar, mulher de Alberto Hiar, o Turco Loco da Cavalera. O relançamento está previsto para o início de 2017.

Após a venda da Zoomp, Renato se dedicou a RK Denim, também uma marca focada no jeans. Hoje, como consultor, ele lamenta a situação do jeanswear nacional.

? O jeans atual é triste. Perdeu-se o conteúdo.