Cotidiano

Relatório sobre mudanças climáticas exclui Austrália a pedido do governo

RIO — No relatório “Patrimônio Mundial e turismo num clima em mudança”, divulgado nesta quinta-feira pela Unesco, foi sentida uma ausência. A Austrália, que abriga a Grande Barreira de Corais, um dos ecossistemas mais ameaçados do mundo por causa das mudanças climáticas, não teve uma linha de citação. O motivo não foi a inexistência de patrimônios em risco, mas uma intervenção do governo, que alegou que a informação poderia causar danos ao turismo.

De acordo com o “Guardian”, o documento original tinha um capítulo inteiro sobre a Grande Barreira de Corais, e pequenas seções sobre o Parque Nacional de Kakadu e as florestas da Tasmânia. Mas quando o departamento de meio ambiente australiano revisou o rascunho do relatório, apresentou a objeção e todas as referências à Austrália foram removidas pela Unesco.

Will Steffen, um dos cientistas que contribuíram para o estudo, considerou o ato da Austrália como uma remanescência da “antiga União Soviética”. Professor emérito da Universidade Nacional da Austrália e diretor do Conselho do Clima Australiano, ele considerou o ato do governo “surpreendente” e ressaltou que a Grande Barreira de Corais vive sua pior crise, sendo que os últimos estudos apontam que até 93% dos corais estão sofrendo os efeitos de branqueamento por causa do aquecimento das águas.

— Eu passei a maior parte da minha carreira em trabalhos internacionais — disse Steffen. — E é muito raro você ver algo desse tipo acontecer. Talvez na antiga União Soviética, onde governos poderiam cortar informações porque não gostavam. Mas não em democracias ocidentais. Eu nunca vi isso acontecer antes.

Em comunicado, o departamento de meio ambiente australiano reconheceu o pedido. De acordo com o órgão, “dar ao relatório o título de “destinos em risco” teria o potencial para causa considerável confusão. Em particular, o comitê de patrimônios mundiais tinha decidido apenas seis meses antes não incluir a Grande Barreira de Corais na lista de patrimônios em risco”.

“Experiências recentes na Austrália mostraram que comentários negativos sobre a condição de patrimônios mundiais impactam o turismo”, justifica o departamento.