Cotidiano

Reintegração de posse deve ser cumprida na Baixo Iguaçu

Conforme o tenente Cesar Sebastião da Silva, o interdito deve ser cumprido somente após todas as tentativas de negociação falharem

Capanema – A expectativa do cumprimento de ordem judicial que pede a retirada dos agricultores acampados há 23 dias em frente ao portão de entrada do canteiro de obras da Usina Hidrelétrica Baixo Iguaçu cresce a cada dia. Isso porque a Polícia Militar tem em mãos interdito proibitório expedido pela juíza de Capanema, Roseana Assumpção, que exige a saída dos atingidos do local, embora as negociações não tenham sido finalizadas.

Conforme o tenente Cesar Sebastião da Silva, o interdito deve ser cumprido somente após todas as tentativas de negociação falharem. “A proposta é de que as famílias saiam de forma pacífica, sem a necessidade de força policial. Se o movimento persistir haverá a intervenção da PM”, relata.

Os atingidos, por sua vez, se mantêm resistentes e garantem que só vão deixar o local caso o governador Beto Richa marque para os próximos dias uma reunião com o Consórcio Empreendedor Baixo Iguaçu e os proprietários das terras a serem alagadas para que seja feito um acordo definitivo em relação às indenizações. O recado já foi repassado à PM, que até o início da noite de ontem mantinha diálogo com os acampados.

Prejuízos

As famílias atingidas pela construção do futuro reservatório da usina permanecem a quase um mês acampadas em barracas improvisadas e dependendo de doações para se alimentarem. “Ninguém dá nada para nós. O que comemos aqui é o que cada agricultor traz de sua casa e divide. Tudo isso é necessário porque a empresa simplesmente não participa das rodadas de negociação e quando aparece, traz uma proposta totalmente excludente”, conta o agricultor João Pereira dos Santos.

A espera por um acordo já dura três anos, data em que o caderno de preços foi estabelecido, mas que até agora não foi praticado. O desacordo, segundo os agricultores, é referente ao valor a ser pago pelas áreas alagadas, o que preocupa, já que os alagamentos devem ocorrer no início de 2017. “A empresa quer pagar um valor que nem cobre os custos das benfeitorias, além de apresentar uma proposta que não atende cerca de 90% dos atingidos”, ressalta Santos.

Sem trabalhar

Durante as três semanas de acampamento, os mais de 100 agricultores que permanecem na entrada do canteiro de obras da usina estão sem trabalhar. “Para que a gente consiga uma proposta decente, tivemos que abandonar temporariamente as nossas atividades agrícolas. Trabalho com plantação de fumo e mais da metade que tinha na lavoura já foi perdido. Mas, se for para resolver o problema, vale a pena”, diz João Pereira dos Santos.

O ritmo da obra também caiu, já que aproximadamente 450 funcionários foram demitidos nos últimos dias. Segundo o consórcio, os desligamentos ocorreram por conta do bloqueio dos agricultores, que impedem a entrada e saída dos trabalhadores. Ontem, no entanto, o acesso aos funcionários estava totalmente liberado. Os agricultores afirmam que as demissões já estavam programadas e faziam parte do cronograma da hidrelétrica.

“O preço não paga nem o que construí”

Ao contrário do apelo do consórcio às famílias para que deixem os técnicos da empresa entrarem nas propriedades para concluir as medições topográficas, o agricultor Arlindo Franco de Melo, que tem 17 hectares dedicados à pecuária em Capitão Leônidas Marques, diz que os valores registrados durante a medição de sua propriedade não condizem com o preço real de mercado. “A obra vai atingir apenas uma parte de minha propriedade, exatamente no espaço em que tenho várias benfeitorias. O valor repassado pelo técnico não chega nem perto do que gastei para construir. Pedi uma revisão, vou ao escritório para negociar, mas ninguém me atende”, lamenta Melo.