Cotidiano

Região oeste vive estagnação econômica

Briga de egos trava novos investimentos, como Aeroporto Regional e até mesmo melhoria das rodovias

Toledo – Um empresário que por décadas lutou pelo desenvolvimento da região hoje se vê incrédulo com a possibilidade de antigas demandas saírem do papel diante de tantas promessas que nunca foram cumpridas. Augusto Sperotto é um daqueles líderes empresariais altamente atuantes e engajados, mas admite: está perdendo a fé. Ele é o vice-presidente do Sistema de Garantia da Faciap (Federação das Associações Comerciais e Industriais do Paraná) e há quase 30 anos luta por bandeiras regionais que, apesar de muita promessa e discursos de palanque, nunca saíram do papel e, em sua visão, pode ser que jamais saiam.

Quase que em tom de desabafo, Sperotto diz não acreditar mais que o projeto do Aeroporto Regional, por exemplo, seja efetivado. “Há quase 30 anos na Associação Comercial de Toledo bancamos os projetos para o Aeroporto Regional e não é porque gostávamos de gastar o dinheiro da associação, mas porque acreditávamos que ele aconteceria, mas nada, foram só promessas, a exemplo de tantas outras obras de infraestrutura que jamais foram executadas. O que se precisa enxergar é que a ausência delas fez com que o crescimento do oeste fique estagnado, como já está ocorrendo”, alertou.

Sperotto afirma ainda que, enquanto essas questões regionais não deixarem de ser “bandeiras político-partidárias em período eleitoral”, elas continuarão sendo “apenas promessas de campanha”. “Os empresários da região precisam se unir e traçar um projeto de desenvolvimento para 20, 30, 40 anos e não esperar por propostas políticas que duram um mandato ou uma campanha eleitoral“, instigou.

Aeroporto Regional

Em junho passado os prefeitos de Cascavel, Leonaldo Paranhos, de Toledo, Lúcio de Marchi, e de Tupãssi, Aílton Caeiro, assinaram um termo que declara a área no Distrito de Espigão Azul de utilidade pública. O espaço entre os três municípios é onde se propõe a implantação do Aeroporto Regional do Oeste do Paraná. Calcula-se com isso que a obra fique pronta em 2030. Só que ainda não há previsão de desapropriação da área.

Destaque produtivo com o futuro ameaçado

Tida como uma das maiores produtoras agrícolas do País com um dos principais plantéis de aves e suínos, uma das maiores bacias leiteiras do Estado e um dos mais importantes celeiros de grãos no Brasil, isso sem contar nas importantes indústrias, a região oeste do Paraná assiste a uma expressiva soma de investimentos que deixam de vir para cá e seguem para outros cantos, levando junto potenciais investidores. “O nosso crescimento já está estagnado porque os investidores não virão para uma região onde não tem um aeroporto descente. O mesmo ocorre com o escoamento da produção com todos os percalços que enfrentamos com a ferrovia, além das rodovias que temos. A nossa infraestrutura é muito ruim e eu não acredito mais em promessas políticas sobre as melhorias. Só vou acreditar no dia que tiver um que disser que realmente vai fazer e fizer”, declara o vice-presidente do Sistema de Garantia da Faciap, Augusto Sperotto.

E não se pode dizer que obras assim não saíram do papel por falta de interesse ou de projetos: “Eu fui pessoalmente até os governadores dizendo que passaria o chapéu entre os empresários e as cooperativas da região e que bancaríamos metade da desapropriação da área do aeroporto, mas o atual governador [Beto Richa], por exemplo, me disse que iria ver e até hoje nada! Será que o oeste não vale R$ 25 milhões para a desapropriação da área por tudo o que produz para o Estado? São coisas como essa que eu não consigo entender”, lamentou.

Muito discurso e pouca ação

Elas estão no topo das obras essenciais para infraestrutura, mas ficaram esquecidas. Vez ou outra a discussão volta à tona, mas com o baixo índice de envolvimento, sobretudo de líderes políticos, são projetos que há 40 anos seguem engavetados.

“Tudo o que estou relatando é a verdade daquilo que vivi e vivo. O Aeroporto Regional, a extensão da ferrovia até Dourados (MS), resolver o problema do gargalo da ferrovia de Guarapuava na Serra do Mar. São décadas de falta de vontade. Percebo que os políticos têm ciúmes uns dos outros, quando um quer fazer o outro impede. A região é um celeiro de produção agrícola e do agronegócio como um todo, o setor agroindustrial gera empregos de qualidade, mas estamos esquecidos. Estamos perdendo a nossa competitividade produtiva pela localização geográfica e pela dificuldade de transporte, temos um pedágio muito caro e líderes que prometem e não cumprem e que merecem ser chamados de mentirosos. Falta um governador com vontade e comprometido para fazer”, dispara Augusto Sperotto, vice-presidente do Sistema de Garantia da Faciap.

Para o industrial, a única alternativa para que as importantes obras saiam do papel depende exclusivamente de um pacto suprapartidário com um planejamento que transcende o mandato de quatro anos de qualquer político envolvendo essencialmente o setor produtivo. “Se isso não acontecer, esse aeroporto não vai sair nunca. Como empresário, estamos chegando à conclusão de que não estamos no lugar certo para investir. Grandes indústrias serão levadas para outras regiões, como já está acontecendo, e nós ficaremos cada vez menos competitivos”, alerta.

“A sensação que tenho é de que os líderes públicos enxergam o que está acontecendo com o oeste mas não veem realmente por que estamos relegados a segundo planto. Chegamos à conclusão que depois que passar a vida útil das máquinas na nossa indústria [de fiação, localizada em Toledo, e que emprega cerca de mil pessoas] vamos levá-la para outro lugar e transformar o espaço físico num shopping. Eu sei quanto de imposto sai todo mês da empresa, são milhões, e na hora do retorno ele nunca chega até nós”, desabafou.

CENTRO DO DEBATE

Conselho de Desenvolvimento quer mais envolvimento e ações

Criado há quatro anos para preencher lacunas deixadas pela falta de respostas às políticas de desenvolvimento e para estimular um plano de desenvolvimento para médio e longo prazos, o Programa Oeste em Desenvolvimento vai sair do campo das discussões e seguir com a ideia de propor ações práticas. Elas serão tratadas nesta semana durante o 4º Fórum do Programa Oeste em Desenvolvimento, que será realizado na cidade de Medianeira, no dia 11.

A infraestrutura, ou a deficiência e até a falta dela, tem dois dos quatro tópicos na lista de debate. Um deles diz respeito ao Aeroporto Regional e o outro à Ferroeste.

Participam do encontro o secretário de Estado de Infraestrutura e Logística, José “Pepe” Richa, representantes do programa, líderes políticos e empresariais. A primeira reunião, às 16h, será a portas fechadas antes do fórum para tratar desses temas considerados pelo grupo pra lá de emergenciais, dos quais não se pode mais esperar e que estão limitando o crescimento da região.

Segundo o presidente do Programa, Danilo Vendruscolo, serão apresentadas propostas ao secretário cobrando uma posição efetiva do Estado.

O encontro vai tratar de quatro temas estratégicos amplamente discutidos com o setor produtivo. Além da logística e da infraestrutura, estão na lista de discussões a implantação do Conselho de Sanidade Animal nos municípios e os problemas de abastecimento e qualidade da energia elétrica na região.

Lá estarão os principais líderes empresariais do oeste, prefeitos dos 12 maiores municípios, deputados estaduais e federais. “Isso vai acontecer justamente para que se tenha alinhamento político e está muito claro sobre essas demandas”, afirma Danilo.

Depois dessa reunião será elaborado um documento que resultará numa espécie de carta do desenvolvimento do oeste que será enviada para os governos estadual e federal e aos representantes políticos do oeste, aos quais se pedirá apoio, mais uma vez, a essas bandeiras.

Para Danilo, quando o assunto são as obras de infraestrutura na região, “nunca estivemos tão alinhados como estamos agora” e por isso o encontro é extremamente importante.