Cotidiano

Refugiados desempregados sofrem mais rejeição entre europeus

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RIO e STANFORD ? Na avalanche de refugiados que chegam à Europa desde o ano passado, quem mais sofre para conquistar aceitação social são os requerentes de asilo que até então viviam o drama do desemprego em seus países afetados por guerras e pobreza. Segundo uma pesquisa publicada nesta quinta-feira pela revista “Science”, um refugiado que aparenta ter pouco a oferecer à economia das nações em que deseja viver tem até 15% menos de chance de ser bem recebido pelos europeus do que um profissional qualificado e empregado, como um médico, por exemplo. Mas, na hora de opinar sobre quem mereceria ser acolhido, os europeus também pesam a carga de sofrimento imposta aos refugiados e a sua bagagem religiosa. Nesta lógica, são mais aceitas as vítimas de tortura e, ainda, os cristãos em comparação aos muçulmanos – em uma tendência contrária aos apelos por abrigo universal para refugiados das organizações humanitárias.

A pesquisa ? que parte de um estudo realizado por três universidades em Stanford, Zurique e Londres ? pediu que 18 mil eleitores de 15 países europeus avaliassem os perfis de 180 mil requerentes de asilo. A principal pergunta era se eles deveriam ser recebidos nestas nações ou enviados de volta aos cenários caóticos dos seus lares. Deste total, em média, 55% dos refugiados foram reprovados. Mas, para a grande maioria dos participantes europeus, esta não é uma escolha aleatória. Apenas 9% dos eleitores rejeitaram categoricamente qualquer perfil apresentado pelo estudo, enquanto os outros 91% se basearam em critérios de seleção que, por vezes, surpreenderam os pesquisadores.

Jens Hainmueller, professor do Departamento de Ciências Políticas da Universidade de Stanford, explica que se mostraram pouco influentes fatores como a idade e o gênero dos refugiados ou os seus países de origem (que incluíam Ucrânia, Iraque, Afeganistão e Síria). Os resultados, em geral, também acabaram sendo relativamente homogêneos entre as nações de que vinham os europeus que responderam ao estudo.

? A primeira preocupação da população sobre os requerentes de asilo é a potencial contribuição ou fardo econômico que eles podem levar ao país ? afirmou Hainmueller ao GLOBO, explicando que este foi um fator de relevância mais alta do que se esperava. ? Mas muitas pessoas também concordam que os refugiados que sofreram perseguições e torturas têm pedidos de asilo legítimos e merecem proteção.

SENTIMENTO ANTI-ISLÂMICO

Os muçulmanos também são alvo de, em média, 11% mais resistência na hora de serem acolhidos pelos europeus em comparação aos cristãos. Mas esta não é uma tendência explicada por uma onda pró-cristã, mas sim pelo sentimento anti-islâmico no continente ? frequentemente relacionado aos temores da radicalização em grupos terroristas. Este desponta como um impasse-chave na atual questão migratória, uma vez que a maioria dos refugiados vem de países muçulmanos. E o estabelecimento de uma religião como fator de discriminação contraria os princípios da legislação internacional e de direitos humanos.

No entanto, descobertas como estas são importantes para mostrar aos políticos europeus o melhor caminho para construir políticas migratórias eficientes com a aprovação dos eleitores. O desafio, afirma o professor, deve ser garantir a integração dos requerentes de asilo a longo prazo, sobretudo com projetos de instrução, para que possam se tornar membros regularizados do mercado de trabalho europeu.

? Há espaço para que os políticos destaquem o potencial econômico e os atributos específicos dos requerentes de asilo para conquistar apoio social. Mas não se pode aceitar alguns e rejeitar outros com base na opinião popular ? explica.

A Europa já recebeu mais de 1,25 milhão de refugiados desde 2015. Eles fogem, sobretudo, dos conflitos e das condições precárias nos países do Norte da África e do Oriente Médio. O fluxo de imigrantes foi muito intensificado pela guerra civil síria, que já completa cinco anos e fez centenas de milhares de vítimas fatais. Esta é a maior crise migratória do continente desde a Segunda Guerra Mundial.