Cotidiano

Reflexão: Dia dos namorados (das outras)

Dia 12 de junho está aí, mas a sina de quem gosta de viver com liberdade começou já na semana passada. “E aí? Vai jantar com quem no dia dos namorados?” Vida a dois é opção, mas sempre tem quem fique de olhos bem abertos querendo saber que desfecho estão tendo os relacionamentos por aí. Não devia. Cada um sabe o que é melhor para si. Há quem se adapte à vida de casado enquanto outros preferem estar solteiros, havendo também o grupo que alterna esses estados entre si.

O dia dos namorados, com ou sem modernidade, segue uma data problemática, ainda mais para quem já está enjoando da vida sem compromisso ou se tem uma família gigantesca que está sempre sedenta por definições. Quem vem alimentando a esperança de seu ficante finalmente deixar a vida livre e assumir estar apaixonado vai ter sua chance nesse dia. Será que a coisa vai andar? Pois é, quem sabe? O inverso também ocorre e há quem se esconda de todo mundo para não ser visto e deixar claro que desta vez foi fisgado. E se depois cobrarem casamento?

Nesse contexto, a vida conjugal até que tem suas vantagens. A identidade de casada basta para passar batido pelo dia 12. Uma mulher casada obviamente não está à procura de marido. E para quem segue na vida dos descompromissados, o bom é que a pressão de parentes e familiares sobre o celibato alheio já não é como anos atrás. Se tem, tem; se não tem, tá de boa.

Desatrelar sexo de relacionamentos oficiais abriu a porta para que muita gente desistisse de vez de tentar encontrar a metade da sua laranja. Isso pelos mais variados motivos. Muitas de minhas colegas não têm namorado e se mostram confortáveis com essa situação. Homem manipula, é mandão e irritante. Idem para as mulheres, complementam alguns amigos. As moças do departamento de criação já planejam sair juntas no dia 12, dividir um sushi e dar muitas risadas deixando claro pra Deus, Santo Antônio e todo mundo que casamento não é objetivo. Ser solteira é isso, é ser livre, e liberdade é algo que se usufrui da maneira que se quiser.

Essa total liberdade pode causar nos homens avulso no mercado, acredito eu, sentimentos contraditórios. Que bom que a mulherada está independente, mas às vezes parece que elas sucumbem à necessidade compulsiva de mostrar para os homens o quanto eles estão rebaixados em sua escala de prioridade, não raro considerando-os energúmenos seres solicitados apenas para a questão da maternidade.

Mulher não quer mais protetor, me disse Scheila outro dia. Aliás, uma mulher se quer precisa de homem para ter companhia, essa que pode vir também em forma de um bom espumante – já vendem garrafinhas em dose individual – sem ninguém para reclamar que a marca é doce demais, que tem prato e copo sujo dentro da pia e ficar competindo pelo controle remoto da televisão.

É, a vida mudou. O controle remoto pode até estar mais tempo sob domínio feminino, mesmo assim a sina continua: no dia dos namorados parece que todas as emissoras combinaram entre si exibirem apenas filmes românticos, como se mulher só pensasse nisso – e naquilo – o tempo todo.

Não, diz Scheila, minha feminista de plantão. Mulheres não precisam mais ser rotuladas e elas sabem disso. Para algumas, namorado é alguém para ir ao cinema, dividir a conta no restaurante e lhe dar razão quando ela discute com a mãe. Se não for assim, não vale a pena. É mais um bebê em busca de uma substituta de mãe.

Deixados de lado os pontos de vista, dia 12 é apenas um dia e o 13 já se aproxima. A sina tem das para terminar. O pijama não parece suficiente para esquentar nessas noites mais frias mas ar condicionado existe para isso. E o controle, sabemos, está exclusivamente na mão dela. Adormecer no sofá vendo televisão dá uma preguiça danada e Scheila diz que se quer vai escovar os dentes nesse dia 12. Não precisa. Vai dormir sozinha, e de seu bafo ninguém vai reclamar. E lá vai minha mais fiel representante da vida livre e descompromissada, a moderna mulher do século XXI, deitar sozinha. Já é tarde, hora de ela dormir, e, no caso de Scheila, algo me diz que será a mesma hora de secar aquela insistente lágrima que não para de cair.

 

Vivian Weiand