Cotidiano

Recuo na globalização é sério risco, diz diretora-gerente do FMI

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WASHINGTON – Em um tom pessimista, a Agenda Política Global do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgada na manhã desta quinta-feira em Washington por Christine Lagarde, diretora-gerente da entidade, afirma que o crescimento global continua a decepcionar e que, se algumas mudanças não forem feitas, o mundo poderá conviver com um novo ciclo de desempenho fraco, que ela chamou de ?novo medíocre?.

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Em novo recado indireto do FMI à eleição americana ? em que o candidato republicano Donald Trump baseia sua campanha em propostas nacionalistas e protecionistas ? o documento alerta sobre questionametos à globalização, que, segundo o Fundo, tanto contribuiu para a economia global, mas é vista como um problema crescente.

?Um recuo da globalização e do multilateralismo é um sério risco, quando a cooperação e a coordenação internacional são mais críticas que nunca?, diz o documento, que afirma que os avanços de tecnologia e a globalização ?levaram a ganhos de bem-estar sem precedentes nas últimas décadas?, incluindo ?a expansão do acesso dos consumidores a bens e serviços que ajudou a tirar milhões de pessoas da pobreza?.

Na campanha eleitoral americana, que começou há cinco meses, Trump tem defendido ?colocar os Estados Unidos em primeiro lugar?, propondo rever, se eleito, em 8 de novembro, acordos comerciais e criando barreiras para as exportações ao país. O nacionalismo também tem crescido em outras partes do mundo, em especial na Europa.

?Em muitas economias avançadas e em alguns mercados emergentes, a lenta adaptação às transformações tecnológicas e à globalização reduziu o crescimento dos salários para trabalhadores de média e baixa qualificação, enquanto aumentou o rendimento do capital e dos trabalhadores altamente qualificados?, afirma o documento, que em um mea culpa, indica que, ?em retrospectiva, não foi feito o suficiente para abordar as preocupações daqueles que têm sido afetados, criando tensões sociais e reações políticas?.

?Esses problemas criam um clima político que favorece políticas introspectivas, tornando mais difícil aprovar as reformas e colocando em risco os ganhos gerais bem estabelecidos com a produtividade da globalização e das mudanças tecnológicas?, alerta o texto.

O FMI sugere a adoção de políticas sociais para mitigar os efeitos nefastos da globalização para as populações mais pobres, dividindo melhor os ganhos obtidos com este progresso. O documento afirma que, enquanto isso não for alcançado, ?trabalhadores e comunidades devem ter incentivos e assistência para mitigar o impacto das transformações em curso?.

O texto cita como exemplo que trabalhadores que sejam demitidos pela terceirização ou pela transferência da produção para o exterior sejam ajudados por meio de ?educação e desenvolvimento de novas competências?. De modo mais geral, ?as políticas para resolver o desemprego juvenil e feminino, bem como a integração dos migrantes, devem ser priorizados para dar a todos o oportunidade de ganhar com uma maior abertura e rápida mudança tecnológica?, conclui o documento.

O texto do FMI alerta que os formuladores de políticas devem agir e usar uma ?combinação equilibrada de todas as alavancas?, para reanimar a demanda e aumentar a produtividade. Para os países com espaço fiscal, o Fundo defende, inclusive, mais gastos com investimentos para estimular a demanda global, enquanto fazem outras reformas para garantir um crescimento sustentável no futuro.

O FMI destaca ainda que é preciso aumentar a produtividade, expandir oportunidades em meio a mudanças rápidas na economia global, e cooperar com parceiros internacionais para evitar que o crescimento se estabeleça em um fase que chamou de ?novo medíocre”.

O Fundo manteve sua previsão de crescimento para a economia global em 3,1% neste ano e em 3,4% em 2017, mas alertou que os Estados Unidos, maior economia do mundo, estão tendo desempenho decepcionante e que isso está sendo compensando pelo desempenho um pouco melhor de algumas economias emergentes.

Nesta reunião de outono (no Hemisfério Norte), o FMI já havia alertado para o risco de excesso de endividamento do mundo, que atingiu o recorde de US$ 152 trilhões (225% do PIB global) e que o fraco desempenho aumenta os riscos de instabilidade a longo prazo, embora os riscos tenham caído no curto prazo com muito menos turbulências que o previsto anteriormente à decisão do Reino Unido em sair da União Europeia, o chamado Brexit, aprovado em referendo em junho.

A vulnerabilidade elevada em bancos de países desenvolvidos ? notadamente da Europa, que está vivendo um temor de contágio com os problemas do Deutsche Bank ? é outro fator de risco à estabilidade mundial, segundo o Fundo.