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Real, Bayern e Barcelona chegam ao mata-mata da Liga dos Campeões em ?crise de ricos?

Nem sempre é fácil ser rico. O futebol moderno, global, criou superclubes tão pujantes que, de tantas estrelas que têm, tanto dinheiro que ganham, tantos jogos e títulos que acumulam, vivem flertando com a infelicidade. Porque assumiram com o mundo um pacto velado, um compromisso que vai além de vencer. Precisam encantar, ser sublimes duas vezes na semana, como o artista que sobe ao palco para dar sempre sua melhor versão. A vitória vulgar gera desdém e desapontamento. Uma excelência que escraviza.

Futebol europeu – 13.02

Chega a ser curioso como Barcelona, Real Madrid e Bayern de Munique, os três mais endinheirados dentre os 16 clubes que iniciam nesta terça-feira as oitavas de final da Liga dos Campeões, tenham passado boa parte da temporada europeia lidando com olhares atravessados. O mata-mata, aberto nesta terça-feira com Paris Saint-Germain x Barcelona, em Paris, às 17h45m (de Brasília, com transmissão do EI Maxx) e Benfica x Borussia Dortmund, no mesmo horário, tem certo ar de suspense. Porque, até aqui, os gigantes, e ainda favoritos, tiveram momentos, mas não trajetórias de deslumbramento.

No livro “Pep Guardiola, a metamorfose”, mais recente obra do jornalista catalão Marti Perarnau sobre o treinador do Manchester City, um depoimento de Manel Estiarte, auxiliar de Guardiola, resume o tema: “Os grandes de hoje são maiores do que nunca, batem recordes de todo tipo em seus campeonatos. Quanto maiores somos, menos podemos imaginar um tropeço”.

Há menos de uma semana, o jornal espanhol “El País” publicava que “O Barça esqueceu de jogar futebol”. Em futebol, nem sempre se trata apenas de ganhar, mas de como ganhar. O texto falava da classificação para a final da Copa do Rei, no sufoco, contra o Atlético de Madrid. Mas o Barcelona que joga nesta terça-feira, em Paris, além de finalista da copa e de candidatíssimo à Liga dos Campeões, tem só um ponto a menos do que o Real Madrid, líder do Espanhol, ainda que o time da capital tenha dois jogos a menos.

O que choca neste Barcelona é a ausência do estilo a que o mundo se habituou. O controle do jogo no meio-campo deu lugar à busca direta dos atacantes. E destes, não há como se queixar: Messi, Suárez e Neymar fizeram 41 gols até agora no Campeonato Espanhol. Na Liga dos Campeões, Messi marcou dez vezes.

Em novembro, o jornal espanhol “El Periódico” fazia um inventário dos problemas da “crise do Barcelona”. Os rivais têm total respeito. Thiago Silva, zagueiro do PSG, falou em “não errar e orar a Deus” após o sorteio colocar os catalães no caminho dos parisienses. Só lhe resta mesmo rezar: foi vetado com problemas médicos e não joga.

REAL E BAYERN SOB CRÍTICAS

O Real Madrid, que nesta quarta-feira enfrenta o Napoli, na Itália, viu uma enxurrada de críticas ao perder uma invencibilidade de nada menos do que 40 jogos. Sobre o time de Zidane, o “El País” chegou a dizer que ganhava “até quando não jogava”, referindo-se à falta de um jogo consistente, ao sofrer mesmo diante dos pequenos na Espanha. Afirmou que, “descontínuo como é”, o time venceu o Kashima Antlers. Tratava-se da final não de um torneio qualquer, mas do Mundial de Clubes, hoje quase obrigação dos europeus.

Este Real Madrid, de um Cristiano Ronaldo que acaba de ser melhor do mundo embora não viva sua temporada mais exuberante, é candidato ao 12º título europeu e favoritíssimo na liga espanhola. Mas viveu turbulências ao perder a invencibilidade para o Sevilla e, depois, cair na Copa do Rei diante do Celta.

O Bayern de Munique, que nesta quarta-feira abre a eliminatória contra o Arsenal, vive o ano pós-Guardiola: do jogo que flertava com os limites da ousadia, passou ao estilo mais convencional, embora supervitorioso, do italiano Carlo Ancelotti.

? Merecemos as críticas ? aceitou o italiano, já perto do fim do ano passado.

O Bayern vivia uma realidade pouco usual nos últimos anos. Passou às oitavas da Liga dos Campeões como segundo de seu grupo, perdendo até uma partida para o Rostov, da Rússia. No Alemão, somente no último jogo do primeiro turno se desvencilhou do Leipzig, sensação do país no ano de sua estreia na elite.

Aos poucos, a força de um elenco com Lahm, Thiago, Vidal, Thomas Muller, Robben, Lewandowski e Douglas Costa foi colocando as coisas nos devidos lugares. Já são sete pontos de vantagem e o pentacampeonato alemão é questão de tempo.

São crises de ricos.