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Raulino de Oliveira, o estádio que nunca enche

27263376081_fc1380b38a_k.jpgDa redução de preços dos ingressos aos ônibus grátis para sócios, da troca de um quilo de alimento por entradas à gratuidade para mulheres, é difícil encontrar uma estratégia que ainda não tenha sido tentada para colocar gente no Estádio Raulino de Oliveira, em Volta Redonda. Uma das raras alternativas restantes com boa estrutura para receber Flamengo, Fluminense e, eventualmente, o Botafogo, o trio de grandes do Rio sem casa em ano olímpico, o estádio do Sul-Fluminense é razoavelmente novo, tem boas instalações e um gramado que oscila entre o bom e o razoável. Mas tem um problema: está sempre vazio.

Em 2016, recebeu 21 jogos dos grandes do Rio com ingressos cobrados, entre partidas de Estadual, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro. O público total dos jogos não seria suficiente para lotar o Maracanã: foram 67.742 pagantes, o que dá uma média de 3.225 pessoas por partida. E nem mesmo o descrédito em torno do Estadual pode ser apontado como vilão. No torneio, a média de público dos clubes grandes no estádio ficou em 3.173 pagantes. No Brasileiro, são 3.432 pagantes por jogo. Pela Copa do Brasil, a média é de apenas 3.108 pessoas.

– Não é problema só de Volta Redonda. Os clubes do Rio não estão com tanto respaldo da torcida, mesmo em outros estádios. Se o Flamengo tiver boa sequência no Brasileiro, pode melhorar – diz Roberto Parente, administrador do estádio, que pertence à prefeitura da “cidade do aço”.

De fato, os cariocas levaram bons públicos, em 2016, a praças onde fizeram aparições esparsas, como no Fla-Flu do Pacaembu. Mesmo levando-se em conta o cenário nacional, com públicos baixos, os números de Volta Redonda são ruins. O Campeonato Brasileiro tem média de ocupação de 31% de estádios, enquanto o Raulino, em 2016, preencheu 15% de seus assentos. A média de público do campeonato é de 11.899 pagantes.

– O estádio fica a 130km do Rio e tem capacidade para 20 mil pessoas numa cidade bem menos populosa. Quanto mais jogos, mais difícil encher. Nem todos podem vir sempre – argumenta Parente.

Fizemos ações para mobilizar cidades vizinhas e não atraímos. Tentamos estimular a ida do torcedor do Rio, mas não é fácil Ele cita como possíveis causas a crise do país e a redução de atividade da Companhia Siderúrgica Nacional, que teve impacto na economia do município. No entanto, a estreia do Fluminense na temporada foi no estádio, contra o Atlético-PR, pela Primeira Liga. A entrada custava um quilo de alimento. Mas a promoção só seduziu 6 mil pessoas.

– Estamos tentando entender, ainda não temos um diagnóstico – disse Bruno Spindell, gerente de marketing do Flamengo, há 15 dias, enquanto circulava pelos corredores do Raulino antes da estreia com o Sport, no Brasileiro.

O jogo teve 7.863 pagantes, recorde do ano. Contando os não pagantes, 9.382 pessoas estavam no estádio. Deu trabalho. Neste dia, o Flamengo disponibilizou 500 lugares em ônibus para sócios e ofereceu gratuidades às 3 mil primeiras mulheres que chegassem ao Raulino acompanhadas.

O Flamengo, que usará Brasília em jogos do Brasileiro, atuou 10 vezes no Raulino em 2016. O Fluminense, nove. Três delas, em clássicos com o Botafogo que, juntos, reuniram 10.800 pessoas. O menor público foi pelo Brasileiro, no último domingo, com 2.860 pagantes.

– É uma incógnita. Fizemos ações para mobilizar cidades vizinhas com propaganda em mídia local, painéis eletrônicos e não atraímos. Tentamos estimular a ida do torcedor do Rio, mas não é fácil – lamenta Marcone Barbosa, diretor de marketing do Fluminense.

Ele concorda que o baixo público do jogo com o Atlético-PR contrapõe a tese da crise financeira.

– Uma explicação pode ser o fato de que muita gente trabalha na cidade e deixa Volta Redonda no fim de semana. E, nos meios de semana, não vai porque trabalha cedo – pondera Barbosa. O Fluminense, em fase final de reforma do gramado de Édson Passos, estádio do América, planeja novos ares a partir do jogo com o Grêmio, no dia 12 de junho ou, no mais tardar, contra o Santos, no dia 22.