Política

“Quero entrar com o pé no acelerador”

Paranhos fala sobre desafios e metas para o segundo mandato à frente da Prefeitura de Cascavel

Prefeito Paranhos comemora a conquista e já faz novos planos - Foto: Nery Cardoso
Prefeito Paranhos comemora a conquista e já faz novos planos - Foto: Nery Cardoso

Reeleito com o voto de 112.181 eleitores, quase 72% dos votos válidos, Leonaldo Paranhos pretende iniciar o segundo mandato com ainda mais gás com que comandou o primeiro. Em entrevista ao Jornal O Paraná, o prefeito de Cascavel fala sobre acertos e erros, metas e desafios que terá pela frente, a exemplo da licitação da coleta do lixo e da permissão do transporte público. A íntegra você confere no site oparana.com.br.

O Paraná – Para começar: o que te dá orgulho do primeiro mandato e o que acredita que poderia ter sido feito?

Leonaldo Paranhos – O que sempre destaquei nesse mandato que está se encerrando foi a interação com a população. Acho que o restante é consequência. Você consegue enxergar as expectativas das pessoas e elas são muito diferentes. Uma coisa é você falar do aeroporto para um segmento que não usa avião, outra coisa é falar de abrigos para quem não usa ônibus. A interação é o que te dá o mapa mais próximo da realidade.

O que mais me deu satisfação foi ter criado uma ferramenta muito próxima do cidadão: o Território Cidadão. É uma ferramenta extraordinária em que a gente leva a equipe, ouve a população e aí faz um cardápio de ações que podem ser feitas hoje, na semana, no mês, no ano ou mesmo durante o mandato.

As avenidas que estamos fazendo nos bairros, 14 ao total, incluindo duas do interior, em Rio do Salto e Juvinópolis, elas nascem de uma demanda de 2017, porque não é fácil. É preciso projeto, procurar engenheiros, mudar a rede elétrica, colocar paver e assim por diante. Eu classifico como um grande patrimônio do mandato a interação próxima com a população.

 

O Paraná – Isso propiciou um mapeamento melhor da cidade?

Paranhos – Lembro que, quando estava fazendo o plano de governo, em 2016, dava uma sensação de impotência olhar para uma cidade desse tamanho, com tanta gente. Então eu a imaginei fracionada. Criando territórios, a administração ficaria mais fácil. Também fizemos o censo em 2017. A gente ia a um território e realizava uma pesquisa: aqui tem escola? Tem. Mas tem demanda reprimida? Tem Cmei (Centro Municipal de Educação Infantil), unidade de saúde, lazer, esporte, parque? Então, nós tivemos um cardápio daquilo de pontos frágeis e positivos. A partir disso, é possível ter um retrato, inclusive, para não desperdiçar recursos, porque às vezes uma obra é feita por visão pessoal e não necessariamente porque era o que a população precisava.

 

O Paraná – E o que faltou ser feito?

Paranhos – Nós batemos recordes de obras. Ficamos em primeiro lugar no Paraná – claro, Curitiba investiu muito mais dinheiro, mas, per capita, nós investimos quase três vezes mais por habitante do que a capital. Mas eu queria muito ter feito o centro de eventos. Eu havia lançado inicialmente os olhares em duas obras neste governo: o aeroporto municipal e o centro de eventos. Sempre achei que Cascavel, sendo uma cidade do agro, tendo o Show Rural, precisava se consolidar como receptiva, lidar melhor com nosso DNA, item proposto neste novo mandato.

O que nós também não fizemos foi o CD (Centro de Distribuição), que é onde nós queríamos colocar todas as compras do Município, uniformes escolares, remédios e tudo isso. Mas, como não conseguimos fazer, achamos uma opção mais interessante, que foi contratar um CD virtual. É uma modalidade que só é usada pelo governo federal e em Cascavel. A gente compra como se fosse uma licitação, mas o estoque buscamos conforme a necessidade. Não tem servidor, manutenção nem desperdício. Cada secretaria vai lá, entra no site e, semelhante a uma compra na internet, coloca o que deseja no carrinho. Em 48 horas o pedido é entregue. Isso foi muito legal.

 

O Paraná – Qual a diferença entre o Paranhos que assumiu em 2017 para o que assume dia 1º de janeiro?

Paranhos – Cabelos brancos, rugas, mais velho… Mas é esse fator o que discuti na pré-campanha e até fui indagado pela nossa coordenação. Eu considero a reeleição perigosa, porque ela é. A maioria dos municípios que reelegeram teve problemas. Analisei 80 cidades e percebi que havia um comodismo no segundo mandato, um relaxamento. Então apliquei uma vacina em mim mesmo. Não há sentido o segundo mandato ser ruim porque estou muito mais experiente do que quando entrei em 2017, sem nunca ter administrado uma prefeitura, não conhecendo os trâmites, com 23 obras paradas, orçamento não feito por nossa equipe, sem convênios com Itaipu, sem o governo do Estado do meu lado… Era muito pior do que o cenário que enfrento agora, tirando a pandemia.

Se eu desligar as luzes da prefeitura, caminho tranquilamente, pois sei onde estão os problemas, aquilo que a gente fez e precisamos consolidar ou mesmo aquilo que ainda precisamos fazer. Então, não tem sentido um segundo mandato pior, a não ser que haja relaxamento.

O que temos que cuidar? Nossa equipe tem que ter um mandato novo, com problemas novos. O que já resolvemos está resolvido. Aquilo que nós fizemos, por exemplo, o aeroporto. Daqui a alguns anos, estarão questionado onde está o terminal de cargas ou mais um finger. Sempre vão evoluindo, entende? Estou convencido de que o segundo mandato será bem melhor, desde que haja consciência de que precisamos botar o pé no acelerador.

 

O Paraná – Tem algo que queira fazer diferente do que no primeiro mandato?

Paranhos – Perder menos tempo com projetos para obras públicas. Nós não tínhamos um banco de projetos na época e hoje temos, por conta disso já estou discutindo as ações de 2021. Quando cheguei aqui, no primeiro mandato, demoraram 90, 120 dias para prontificar o projeto e buscar engenheiros. Lembro que, quando cheguei ao FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento e Educação), o Município tinha R$ 3 milhões de demandas, agora já chegamos a R$ 55 milhões de projetos prontos. É isso o que precisa ser feito e acho que vamos perder menos tempo.

 

O Paraná – No início do mandato, cada secretário fez um plano de ação, mapeando as principais necessidades de cada pasta. Tudo o que foi apontado foi cumprido?

Paranhos – Chegamos a 96% de êxito, mas fizemos muito mais coisas que não constavam no plano: abrigos de ônibus, avenidas, o aeroporto e as estradas rurais. Eu pedi para que cada secretaria apresentasse como estava a pasta e como foi entregue. Nós criamos um setor na prefeitura para acompanhamento das realizações, então a equipe acompanhava e cobrava. Isso é uma das coisas que vamos voltar a fazer agora.

No início do ano, a gente volta com o programa Escola de Governo, com apresentação das metas quadrimestrais, sejam reformas pequenas e médias ou grandes construções, porque é uma ferramenta pública. A imprensa vem e consegue perceber o que foi feito.

 

O Paraná – Falando em secretarias, vem aí uma nova composição?

Paranhos – Estou discutindo isso. Nós tivemos êxito na eleição, então, até por uma questão de justiça, preciso compartilhar esse resultado positivo com esses secretários. Grande parte do secretariado vai continuar. Mas, para continuar, vamos sentar na mesa e conversar com cada um sobre estar disposto a continuar, sobre ter vontade de seguir dessa maneira e até mesmo entender qual é o projeto de cada um. Porque, na prefeitura, não tem como fazer bico. Precisamos de uma dedicação acima de um dia inteiro de trabalho. É preciso ir para casa pensando na prefeitura, sair dela pensando na prefeitura. O poder público, por natureza, já é muito burocrático, então, se não houver dedicação, será uma amarra muito pesada.

 

O Paraná – Grandes licitações vêm por aí, como o contrato da coleta do lixo e do transporte público. Como organizar isso? Algum deles terá outorga?

Paranhos – Parece que a gente tem bastante tempo, mas não temos. O contrato que mais me preocupa é do transporte coletivo, o lixo a gente já fez até mesmo uma publicação. Nós vamos contratar uma assessoria para desenhar o novo sistema que vamos chamar de Coleta Sustentável de Lixo.

Nós fizemos um grande investimento nos Ecopontos, são seis, ao todo. Por que isso? Nós estamos tendo um grande prejuízo ao entregar esse lixo reciclável, levando todo ele para o aterro, porque, sendo volumoso, ocupa muito espaço, então a gente quer migrar esse serviço para esse sistema dos Ecopontos. Primeiro que isso vai dar um upgrade no salário das cooperativas e, com a gente desenhando isso, vamos contratar uma proposta  que vá estudar o perfil do lixo que nós temos, seja no Centro, em bairros medianos ou em periferias. Tudo isso tem que ser desenhado agora.

Queremos contratar isso rapidamente. Vou autorizar já em janeiro para a gente realizar o estudo do perfil e aí seriam três coisas: a primeira delas é a coleta orgânica, a segunda é a coleta reciclável, que queremos integrar parte com as cooperativas, e a terceira é a operação do aterro, porque hoje, quem faz as células, é a própria prefeitura. A empresa coleta e nós temos que ir lá fazer… Isso nos custa R$ 700 mil… Mas também queremos incentivar a exploração do aterro. O aterro é uma fábrica de dinheiro, mas não temos expertise. Queremos trabalhar isso, desonerando o valor do lixo, oferecendo talvez uma proposta para que alguém possa explorar. Nós já estamos lá, tirando em torno de R$ 700 mil de energia ao ano, com apenas quatro, cinco motores, mas dá para dar um upgrade. E não é só do lixo que vai para lá, mas também do lixo que já está lá.

Vamos contratar uma proposta ideal para uma cidade de 300 mil habitantes? Vamos fazer um contrato por cinco anos? Temos que pensar que daqui a cinco anos nossa expectativa de crescimento será maior, então precisamos pensar em todos esses fatores durante a pesquisa.

 

O Paraná – Existe a chance de fatiar essa licitação em lotes, por exemplo, orgânico para um, aterro para outro?

Paranhos –  Então, esse estudo é que vai determinar isso. Pretendo fazê-lo em parceria com a Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel) e as pessoas ligadas a esse tema, porque, se a gente fatiar muito, poderá onerar. Um dos contratos mais volumosos que temos aqui é o do lixo, custa R$ 3,5 milhões por mês. Se vamos fazer uma licitação para isso, quanto nos custa conceder o aterro, o que trará de benefícios?

Outra que dá para tirar é a varredura, a poda de árvores e a coleta reciclável, que já temos uma infraestrutura criada, agora só precisa ser consolidada. Grande parte da coleta funciona assim: o caminhão normal de lixo vai pegando e jogando tudo lá dentro, eles têm a coleta reciclável, mas vai muito lixo sem ser separado. Nosso grande desafio é criar essa cultura das pessoas separarem.

 

O Paraná – E o transporte coletivo?

Paranhos – Bom, essa licitação do transporte me preocupa muito. Primeiro, porque é um serviço de primeira necessidade. A grande massa da população usa o ônibus como ferramenta de trabalho. Esse transporte tradicional tem tido uma queda no mundo todo em número de passageiros, principalmente nos grandes centros. Cada vez mais pessoas procuram usar bicicletas, aplicativos, caronas compartilhadas, sempre opções alternativas aos ônibus, o que faz esse número de usuários cair e, com as concessões que as Câmaras aprovam para idosos e deficientes, fica ainda mais cara a passagem sem que o transporte tenha qualidade. A gente precisa achar uma saída para isso. Mas é em um momento complicado, porque todas as empresas estão quebradas neste momento de pandemia. Tenho medo de fazer uma licitação e dar deserta. Imagino que devemos ter transportes alternativos, linhas diretas dos principais bairros, temos que ter ônibus elétricos, claro, vai ficar mais caro, mas é preço do conforto. Também tenho visto outra modalidade chamada VLP (Veículo Leve sobre Pneus), que já existe em cidades como São José dos Campos, em São Paulo. Eu quero que alguém traga uma proposta diferente para nós, com esses tipos de transporte.

 

O Paraná – Sobre a pandemia, quais foram as decisões mais difíceis de serem tomadas?

Paranhos – A pandemia foi uma questão terrível, primeiro que ela nos limitou, nos sufocou. Estamos desde março falando desse tema. Além dos prejuízos financeiros, tivemos queda de arrecadação porque o problema se iniciou com a crise no comércio e por consequência chegou ao poder público. As decisões mais difíceis foram as de fechar ou abrir. Como que eu fecho uma igreja? Essa é uma decisão do bispo, do pastor.

Discuti com o COE (Centro de Operações de Emergência), que me abastecia com informações técnicas, e fui ler sobre a pandemia. Tanto é que não há registro que um segundo lockdown dê resultado. Primeiro porque não há adesão. Lembram que nós fizemos um primeiro lockdown e chegamos a 72% de adesão, e a cidade deserta? Mas por que aquilo? Medo! Nós tínhamos condições, as pessoas tinham um pouquinho de dinheiro, estávamos cansados, todos precisavam de férias. Era um conjunto de coisas que nos levaram a aceitar um lockdown.

Sobre a segunda onda… A gente ouve isso e parece que é uma obrigação chegar, mas por que ela vem? A segunda onda no mundo inteiro é resultado do comportamento do cidadão. Porque ele sai do lockdown, vai se familiarizando com o vírus, vai perdendo o medo e relaxa. A segunda onda não é nada mais que o nosso comportamento.

Só que a pandemia tem fases. Na fase do lockdown, as pessoas ficam em casa para que o poder público possa chamar médicos, servidores, comprar remédios, respiradores, enfim, se preparar para a guerra. Depois disso, as pessoas vão trabalhando. As pessoas precisam ter disciplina e chega uma fase que você precisa tratar da economia. Se nós colocarmos mais cinco, dez, 20 leitos não vai resolver o problema. Claro, vai amenizar para essas pessoas internadas, mas não vai resolver o problema maior do vírus. O que decide esse problema é o comportamento individual e é nesta fase que estamos um pouco atrasados. A nossa fase de disciplina deveria ter começado em junho.

 

O Paraná – Quais foram as boas lições?

Paranhos – Tem alguns legados. Com a pandemia nós conseguimos criar um parque de atendimento médico muito próximo do que deveríamos ter. Se pudéssemos colocar um ponto positivo seria o resultado da infraestrutura, daquilo que é físico. Agora o desafio é não se deixar perder, temos que manter essa estrutura médica.

Outra coisa que venho falando é na educação. Não podemos perder o momento de reconhecimento do valor que uma sala de aula, uma escola tem. A gente estava meio acostumado a ver a escola como um depósito. Olha que falta faz a escola na vida de quem tem filhos, didaticamente e socialmente. Claro, também entendemos que ainda existe outra parte da população que leva seu filho à escola para educar e para alimentar, para que assim os pais consigam trabalhar, então claro que tem um cunho social na educação. Também acho que a gente precisa valorizar a educação de modo geral. Eu aprendi a valorizar ainda mais essas duas políticas públicas, que são a saúde e a educação.

 

O Paraná – Já existe previsão de volta às aulas?

Paranhos – Minha decisão está tomada: volta às aulas dia 2 de fevereiro. Só se tiver algum fator – o que eu acho que não -, aí talvez a gente tenha que adiar para março.

 

O Paraná – Pretende tirar alguns dias de férias?

Paranhos – Ah, eu quero tirar, sim! Mas a gente ainda tem posse, formação do novo governo… Eu preciso apresentar até o dia 10 os secretários com um plano do quadrimestre, o que vamos fazer nos quatro primeiros meses em ações efetivas. Para tudo isso eu quero entrar com o pé no acelerador. Depois terá o início do ano letivo e mais à frente espero conseguir, entre fevereiro ou março, dar uma saidinha.

 

O Paraná – O que o cascavelense pode esperar do segundo mandato do Governo Paranhos?

Paranhos – Minha fidelidade! Eu fui, além de votado, quase homenageado. Não é normal o percentual de votos que tivemos em uma eleição com oito  prefeituráveis, sendo dois deputados… Não é que aumentou a responsabilidade, se eu ganhasse por 50,01% seria a mesma responsabilidade. Mas isso te dá uma procuração extraordinária de eu ir lá ao governo do Estado ou a Brasília discutir algumas demandas com uma votação de 72%. Tem peso! Enfim, a população pode esperar minha retribuição, minha fidelidade e, claro, um prefeito mais experiente, que vai errar menos. Bom, posso cometer novos erros, mas os mesmos não são concebíveis.