Cotidiano

Queda da segurança trava avanço de governos na África, diz estudo

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RIO ? A deterioração na segurança dos países africanos é o maior impedimento aos progressos da boa governança no continente, segundo um estudo divulgado nesta segunda-feira pela Fundação Mo Ibrahim. Quase dois terços dos cidadãos africanos vivem em nações que assistiram na última década a expressivas quedas em questões relativas à segurança e ao Estado de Direito. E, com isso, a qualidade dos serviços e bens oferecidos pelos seus líderes ficou praticamente estagnado desde 2006, apesar dos avanços no desenvolvimento humano, na participação social e nos direitos humanos para os cidadãos.

A Fundação Mo Ibrahim avalia o avanço da liderança e da boa governança na África a partir de um índice anual. O estudo leva em conta 95 indicadores extraídos de 34 fontes independentes sobre as 54 nações do continente. Para a África em geral, segundo a fundação, o índice de boa governança avançou apenas 1 ponto nos últimos dez anos, com progressos em 37 países que abrangem 70% dos cidadãos africanos.

O avanço, no entanto, é considerado ainda decepcionante ? puxado para baixo, sobretudo, pela acentuada queda de 2,8 pontos na segurança do continente. A queda foi registrada em 33 países desde 2006, onde vivem quase dois terços da população. E a organização chama atenção a um dado alarmante: quase metade destas nações tiveram, nos últimos três anos, os seus piores resultados já registrados para a categoria.

ESPERANÇAS NO DESENVOLVIMENTO HUMANO

Em contrapartida, a África progrediu em outras questões importantes na última década em termos de desenvolvimento humano, com avanços em 43 países que abrangem 87% dos cidadãos. Dentre elas, incluem-se o empoderamento feminino, a saúde e, no geral, a educação ? apesar de algumas quedas neste último quesito.

As conquistas foram destacadas pelos membros do comitê de especialistas da fundação em entrevista coletiva nesta segunda-feira. No entanto, os avanços também evidenciam a necessidade de trabalhar outras deficiências presentes em diversos países, explicou o painel, assim como garantir a distribuição da riqueza das economias em crescimento.

? Tivemos o segundo maior declínio da mortalidade infantil na História, mas também quedas na qualidade da educação. Estes são dois resultados que caminham em sentidos opostos ? disse Donald Kaberuka, que até o ano passado era presidente do Banco de Desenvolvimento Africano (BAD).

Outro questão levantada pela fundação é a importância de registrar numericamente os avanços em todos os tipos de governo, incluindo os regimes anti-democráticos. Embora este seja um valor fundamental, disseram os membros do conselho, este é apenas um dos quesitos avaliados pelo estudo. É necessário analisar o desenvolvimento no governo e na vida dos seus cidadãos enquanto os países percorrem seus caminhos à democracia.

A organização, no entanto, mais uma vez não concedeu seu prêmio anual de boa liderança. O objetivo é destacar a atuação de um governante capaz de promover a democracia e os direitos humanos em circunstâncias desafiadoras. Mas, pela sexta vez em oito anos, a Fundação Mo Ibrahim preferiu não escolher um vencedor por não ter encontrado líderes que merecessem tal destaque no cenário atual.