Cotidiano

Quatro em cada dez hectares de feijão nem serão colhidos

Excesso de chuva atrasa colheita e lavouras inteiras estão brotando e apodrecendo

Cascavel – A situação é caótica, afirma a economista Jovir Ésser, do Deral (Departamento de Economia Rural) do Núcleo Regional da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento) de Cascavel, diante dos efeitos do excesso de chuva nas lavouras de feijão em toda a regional.

Dos 4,2 mil hectares destinados ao cereal neste cultivo, 60% foram colhidos, nos quais já se cogita uma quebra na produtividade de 30%. No início do ciclo, o que se esperava eram 2.150 quilos por hectare, mas o que vem se confirmando não passa de 1,5 mil quilos por hectare.

Porém, situação ainda mais crítica está com as lavouras a serem colhidas. “Muito provavelmente os produtores nem vão fazer a colheita porque não há condições”, avalia a economista.

Nesse cenário, significa que quatro em cada dez hectares cultivados vão se perder no campo, pois não há sequer condições para que as máquinas entrem para fazer a colheita. E, quando puderem entrar, não se paga nem o custo do combustível da máquina.

Como toda a área já poderia ser colhida, o excesso de umidade está fazendo as plantas brotarem e os grãos estão apodrecendo sem a possibilidade da secagem. E o prejuízo já começa a ser contabilizado pelos produtores, como é o caso de Luiz Roberto Macanhão.

Ele vem reduzindo sua área comercial com feijão ano após ano e, neste ciclo, no chamado feijão das águas – em que a cultura nunca levou tão à risca essa nomenclatura -, as plantas estão praticamente submersas. Na sexta-feira passada, com a trégua dada pela chuva, ele conseguiu colher cerca de dois dos cinco hectares, mas o que ele vê é só decepção. “Acho que vou ter que descartar tudo o que colhi porque a qualidade é muito ruim. Foram cerca de cem sacas, mas ainda não sei exatamente o que será delas. Restam três hectares para serem colhidos, mas, se a chuva desta semana se confirmar, nem vou entrar na lavoura para fazer a colheita. Vou deixar tudo lá”, desabafa.

Macanhão lembra que o que foi colhido passa longe de cobrir os custos de produção e, como as perdas têm se potencializado nos últimos anos, ele, que é um produtor tradicional de feijão na região, já analisa a possibilidade de abandonar de vez a cultura. “Em setembro faltou chuva e depois foi o excesso de chuva que prejudicou. A gente investe, cuida, gasta o tempo e depois na hora de colher é isso. Não dá mais”, afirma.

Preços

Apesar da quebra regional, o preço do feijão nos supermercados não deverá disparar para o consumidor. Isso porque um dos maiores produtores de feijão brasileiro e que abastece o mercado regional é o estado de Goiás e por lá as condições climáticas estão mais favoráveis, com a promessa de uma boa safra.