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Quando Verstappen será campeão mundial de F-1?

Fenômenos da natureza não avisam quando vão surgir; simplesmente acontecem. Mas todo mundo reconhece. Max Verstappen é um deles. Aos 19 anos, já quebrou quase todos os recordes referentes à idade. Tanto que, ao fim da sua segunda temporada da Fórmula 1, ela já deixou de ser assunto. A precocidade do belga que escolheu defender a bandeira holandesa, a mesma do pai, o ex-piloto Jos Verstappen, deu lugar a outro tema dominante nos paddocks: quando ele vai ser campeão mundial? Este ano ainda não deu, está em quinto, mas neste fim de semana, em Abu Dhabi, ele pode atrapalhar os planos de Nico Rosberg e Lewis Hamilton, ambos da Mercedes, que disputam o título no derradeiro GP. O treino classificatório será neste sábado, às 11h pelo horário de Brasília (o Sportv transmite).

O título é dado como favas contadas diante dos feitos do adolescente que obteve a superlicença antes mesmo de poder tirar a carteira de motorista. Ano passado, quando ainda não podia desfilar de carro pelas estradas da Europa, ele guiava um Toro Rosso pela primeira vez, no GP da Austrália, com 17 anos e alguns meses. E, na segunda corrida, na Malásia, marcava seus primeiros pontos. Ao fim de 2015, levou para casa os prêmios de personalidade e estreante do ano da FIA.

O assombro se confirmou neste ano. Aos 18 anos e meio, estourou a primeira champanhe do vencedor, algo que seria proibido nos EUA, por exemplo, onde o álcool só é liberado a partir dos 21. Foi na Catalunha, na Espanha, que ele se tornou o mais jovem vencedor e pódio de um GP de F-1. Com um adendo: era sua estreia na Red Bull Racing, carro que ele nunca pilotara até aquele fim de semana de maio deste ano. “Eu vou para o GP sem expectativas. Nunca dirigi o RB12 antes, vamos descobrir em Barcelona”, disse dias antes da corrida.

O feito se torna maior ao se saber que Verstappen corria de Kart até três anos atrás e fez apenas uma temporada em corridas de fórmula.

– Verstappen mostrou pé pesado e determinação desde suas primeiras corridas com a Toro Rosso. Ao sentar num Red Bull, no GP da Espanha deste ano, e ganhar logo na estreia, mostrou os documentos. Tem talento, habilidade, curiosidade técnica e, acima de tudo, confiança na sua capacidade e disposição para o risco – ressalta o colunista do GLOBO Celso Itiberê.

Provavelmente ninguém superará esses recordes. A partir deste ano, a FIA mudou o regulamento e só concede a superlicença a pilotos com 18 anos. Além disso, para pilotar um F-1 profissionalmente é necessária uma rodagem de 300km de testes.

O estilo rápido, agressivo e, sobretudo, a fome pelas ultrapassagens lhe renderam críticas de alguns companheiros que sofreram chegapralás dele. A falta de experiência foi dada como motivo por alguns. Outras pessoas do circo enxergaram um certo temor dos pilotos mais antigos diante do fenômeno. Um jeito de pilotar de quem ainda tem o Kart na veia, que busca espaço onde parece não ter para ultrapassar. Mas que também valeu algumas punições, como no GP de Mônaco do ano passado, quando bateu em Romain Grosjean, após tentativa frustrada de ultrapassagem.

A expectativa é que, em 2017, com as mudanças promovidas na aerodinâmica dos monopostos, o projetista Adrian Newey dê a Verstappen e a Daniel Ricciardo uma versão do RBR capaz de se igualar ou superar os Mercedes. O consultor da equipe, Helmut Marko, está otimista.

– Nós sempre fomos bem quando houve mudanças cujo foco não foi apenas o motor. Nosso objetivo é desafiar a Mercedes – afirmou em entrevista ao site oficial da F-1.

É o que também esperam os amantes da F-1, que percebem em Verstappen um renascimento da categoria. Não à toa, ele tem sido insistentemente comparado a Ayrton Senna e Michael Schumacher, que também encantaram o mundo quando surgiram. Nos sites especializados, todos acreditam que basta um carro mais competitivo para ele brigar pelo título e reeditar pegas com o jovem francês Esteban Ocon, da Force India, seu rival na Fórmula 3 europeia.

– Sua personalidade forte lembra, e muito, o Ayrton Senna da Lotus preta, que brigava por milésimos de segundos e não hesitava em jogar tudo contra a banca. Torço para que o chassi da RBR de 2017 seja um prodígio e que a Renault consiga evolução suficiente em seu V6 para enfrentar de igual para igual os motores de Mercedes e Ferrari. Se isso acontecer, Max estará na briga pelo título. Será campeão? Tomara, porque sua atitude pode revitalizar a categoria – acrescenta Itiberê.

Tanto talento tem origem. E está no ambiente onde Verstappen passou a infância, na fronteira entre a Bélgica e a Holanda. Fosse com a mãe, a belga Sophie Kumpen, que venceu dois campeonatos de Kart na Bélgica, batendo inclusive o atual chefe de equipe da RBR, Christian Honer; ou com o pai, o ex-piloto de Fórmula-1 Jos Verstappen, que indicou os caminhos ao filho desde que ele, aos sete anos, experimentou um kart. Esse contato frequente e precoce nos paddocks, ainda que, naquela época, preferisse brincar com carrinhos de controle remoto, lhe deu a capacidade de “sentir” o que um carro de corrida pede. Assim, se tornou um exímio acertador de carros, e em menos de duas temporadas, superou o progenitor, que teve apenas dois terceiros lugares de 1994 a 2003. Agora, o mais bem- sucedido piloto daquele país tomou a alcunha de “Holandês Voador” para si.