Cotidiano

Quadros de artistas indicam sinais precoces de demência, diz estudo

3200.jpgRIO ? As pinceladas de um artista plástico podem revelar pequenos sinais de declínio cognitivo anos antes de ele ser diagnosticado com algum tipo de demência, de acordo com um estudo feito por psicólogos. Publicada nesta quinta-feira pelo periódico científico “Neuropsychology”, a pesquisa da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, analisou cerca de 2 mil quadros de sete pintores renomados, entre eles artistas que nunca desenvolveram demência e outros que morreram com doenças como Alzheimer e Parkinson, que atuam no cérebro provocando graves perdas de cognição.

demenciaEnquanto, por exemplo, o francês Claude Monet, expoente do impressionismo morto em 1926, jamais apresentou nenhum tipo de demência, o holandês De Kooning, mestre do expressionismo abstrato, foi diagnosticado com mal de Alzheimer cerca de dez anos antes de morrer, em 1997. Também foram incluídos no trabalho científico obras de Pablo Picasso e Marc Chagall, que não tiveram doenças mentais; de Salvador Dali e Norval Morrisseau, que desenvolveram o mal de Parkinson mais tarde na vida; e de James Brooks, que, assim como Kooning, morreu com Alzheimer, em 1985.

A psicóloga Alex Forsythe, da Universidade de Liverpool, principal autora do controverso estudo, reconhece que, devido ao número reduzido de pintores envolvidos em sua pesquisa, o trabalho não pode ser classificado como uma nova forma de diagnosticar a demência de forma precoce. Mas ela acha que sua iniciativa pode abrir caminho para linhas de pesquisa médica nesse sentido.

? Não acho que isso pode ser chamado de ferramenta para diagnóstico, mas penso que vai levar as pessoas a considerar novos caminhos na pesquisa sobre demência ? disse ela ao site britânico “The Guardian” .

Alex e sua equipe usaram um software de imagens digitais para fazer uma análise fractal sobre as pinturas dos sete artistas, procurando padrões recorrentes em seus trabalhos. Fractais são figuras geométricas que se repetem em qualquer escala, algo que pode ser observado tanto na natureza quanto na matemática. Árvores e nuvens são fractais, por exemplo, porque apresentam muitas formas repetidas, assim como nossas ondas cerebrais e batidas de coração têm padrões recorrentes.

Na pintura, fractais aparecem quando as pinceladas de um artista apresentam padrões que se repetem em escalas maiores. De acordo com a psicóloga da universidade britânica, as pinturas demonstraram uma variação na densidade fractal ao longo da carreira de um artista, mas sua pesquisa indica que, no caso de de Kooning, por exemplo, essa medida se alterou drasticamente enquanto o holandês envelhecia. Para a psicóloga, trata-se de um indício do Alzheimer impresso em seus trabalhos.

Segundo o artigo publicado nesta quinta-feira, a dimensão fractal de Monet, Picasso e Chagall aumentou com a idade. No caso de Dali e Morrisseau, a medida de complexidade subiu bastante, mas depois caiu vertiginosamente. Os exemplos mais claros de alteração seriam mesmo os conjuntos de obras de Kooning e Brooks, que morreram com Alzheimer. Alex e seus colegas notaram um declínio vigoroso na dimensão de fractais nos quadros de ambos a partir dos 40 anos.