RIO – Professor de Filosofia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e pesquisador do Laboratório de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da mesma instituição, Renato Noguera diz que o livro de Crivella ?demonstra nitidamente o racismo cultural.?
Segundo ele, o texto reforça a ideia de que apenas alguns povos têm ?o direito de produzir uma cultura legítima?:
? O livro contribui para a reprodução de estigmas, preconceitos e estereótipos, é um elemento da cultura de conversão forçada, missionária e perigosa.
Para o pesquisador, um dos ?efeitos colaterais? da publicação pode ser a violência, já que o livro ?cria condições e possibilidades para uma intervenção mais agressiva?:
? O racismo anti-negro traz consequências terríveis, como a prática de analisar fora de contexto alguns rituais específicos de cada povo ? completa. O pesquisador ressalta desconhecer qualquer religião africana que pratique sacrifício de crianças.
Para Noguera, ?Evangelizando a África? mistura conceitos, tradições e práticas religiosas de diferentes regiões.
? Não se pode considerar homogêneo um continente que reúne 55 países e mais de 800 povos ?frisa.
Ele ressalta que o conteúdo do livro não condiz com elementos do próprio cristianismo, ?que não demonstra xenofobia?. O pesquisador cita que a tradição cristã africana é tão antiga quanto a europeia.
Procurado, o arcebispo do Rio, D. Orani João Tempesta, afirmou por sua assessoria, que a ?a agenda cheia? impossibilitaria qualquer comentário sobre o livro de Crivella.