Cotidiano

PSOL pede ao STF para revogar benefícios de Cunha

BRASÍLIA – O PSOL entrou, nesta quarta-feira, com uma reclamação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo que a Corte revogue ato da Mesa Diretora da Câmara que deu ao presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), direito a benefícios que, somados, passam dos R$ 540 mil, segundo cálculos de deputados do PSOL.

Eles argumentam que, tendo direito às mesmas regalias de quando era deputado e presidente em exercício, a Mesa afronta a decisão do STF, que afastou Cunha do mandato. Segundo eles, a avaliação mais correta é que o peemedebista mantivesse apenas o salário integral de deputado, no valor de R$ 33,7 mil, sem contar com verba de gabinete, estrutura de funcionários para a residência oficial do presidente da Câmara, motoristas e gastos com água, luz e telefone, entre outros.

“A manutenção de toda a estrutura de que dispõe o presidente da Câmara dos Deputados para um parlamentar que foi suspenso do exercício do seu mandato afronta a própria decisão do STF”, diz o texto da reclamação entregue à Corte, que diz ainda que Cunha mantém, com tais prerrogativas, um “exercício oculto, mas efetivo do mandato”: “A manutenção de tais prerrogativas ratifica a capacidade de influência que Eduardo Cunha mantém na Câmara dos Deputados, em uma espécie de exercício oculto mas efetivo do mandato”, ponderam os parlamentares na reclamação ao Supremo.

Eles dizem ainda que assessores técnicos da Casa se manifestaram no sentido de manter apenas o subsídio mensal de Cunha, mas que a Mesa Diretora decidiu estender a ele os demais benefícios.

? Consideramos que a estrutura material de exercício do mandato e da presidência que a Mesa Diretora garantiu ao Eduardo Cunha é um elemento muito concreto de possibilitação do desrespeito à decisão do Supremo. Ela ampara o exercício do mandato. Essa reclamação fala da ilegalidade da Mesa nesse ato. O que a manutenção desses benefícios ampara é o exercício do mandato. Isso não pode e não é normal ? criticou o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).

O parlamentar respondeu também a questionamentos que comparam o caso de Cunha com o da presidente afastada Dilma Rousseff, que teve direito aos benefícios de quando exercia o mandato.

? Tem uma lei que regula os direitos dela e é um afastamento por tempo determinado. Diferente do dele, que é por tempo indeterminado, e ele ainda ganha um aviso prévio como nenhum brasileiro ganharia ? respondeu Alencar.

Como O GLOBO antecipou na edição desta quarta-feira, a Câmara gasta ao menos R$ 400 mil mensais com o custeio da residência oficial que está sendo ocupada pelo deputado Eduardo Cunha, afastado do cargo de Presidente da Casa e do mandato pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Além disso, Cunha tem direito a salário mensal de R$ 33,7 mil e verba de R$ 92 mil para pagar os funcionários do gabinete, elevando os gastos para mais de R$ 500 mil por mês.

Os cálculos incluem o salário pago à servidora da Câmara que administra a residência oficial (R$ 28,2 mil); um contrato de prestação de serviços de copa e cozinha (R$ 35,9 mil, já incluídos os salários de um chefe de cozinha, três cozinheiros, dois auxiliares de cozinha, quatro garçons e duas arrumadeiras) e um contrato de serviço de vigilância terceirizada (R$ 60,3 mil). O partido também incluiu na conta um contrato de R$ 29,3 mil para o pagamento de quatro motoristas.

Para os gastos com a segurança pessoal de Cunha, garantida pelo ato da Mesa Diretora, o PSOL também calculou o pagamento de 16 agentes do Departamento de Polícia da Casa (Depol), estimando um gasto de R$ 217 mil. Há ainda despesas mensais com alimentação, água, luz e telefone, totalizando cerca de R$ 35 mil.

A Diretoria Geral diz não saber o gasto exato com a manutenção da residência oficial. Informa, no entanto, que Cunha usa o automóvel pessoal e um dos veículos da Casa como escolta. No carro pessoal, o motorista é funcionário de seu gabinete. No da escolta, da Câmara.

Além de custear Cunha, a Câmara também terá que achar outro local para a residência oficial, momentaneamente. Exercendo interinamente a função de presidente, Waldir Maranhão (PP-MA) não pode usar a residência, já ocupada por Cunha. Os aliados de Maranhão reivindicaram para ele um local para receber deputados e convidados, além de benefícios como staff presidencial e alimentação.