Cotidiano

Próximo do alagamento, atingidos são removidos

Consórcio Empreendedor tem impasse com 200 famílias e menos de 15 dias para regularizar situação

Capitão Leônidas Marques – Faltando menos de duas semanas para o início do enchimento do reservatório da Usina Hidrelétrica Baixo Iguaçu, famílias começaram a ser retiradas das propriedades por meio de cumprimento de remoção judicial.

Ontem (22), duas famílias viram suas casas e demais benfeitorias serem demolidas. Nem mesmo o apelo para manter em pé o pouco que construíram ao longo de décadas foi suficiente para impedir a ação das máquinas e dos policiais do Pelotão de Choque da Polícia Militar.

Um dos produtores rurais que perderam tudo é Sergio Dalabrida. Em 2006 ele arrendou dois alqueires na Linha Porto Três Irmãos. Agora, saiu do local com alguns móveis e roupas. As criações, que por anos foram seu principal sustento, ficaram para trás. “Começaram a tirar meus móveis à força e eu não consegui fazer nada. Não deram nem um segundo para retirar as minhas coisas”, lamenta.

A notificação para sair da área foi recebida pelo agricultor dia 6 de outubro, com prazo de até 11 dias úteis para ser cumprida. “A intimação veio, mas não acreditava que fariam isso”, confessa.

A segunda moradia a ser demolida foi a do agricultor Romeu Antonio Host. Ele também é arrendatário e agora, sem a casa nem o barracão onde trabalhava, não sabe de que forma vai sobreviver.

Nos dois casos, a indenização pela área teria sido paga pelo empreendedor ao proprietário da terra, só que os arrendatários saíram sem nada: “Tenho contrato, também tenho direito de ser indenizado. É uma barbaridade o que estão fazendo com os atingidos”, denuncia Host.

O MAB (Movimento dos Atingidos por Barragem) e o secretário estadual para Assuntos Fundiários, Hamilton Serighelli, afirmam que o problema atinge 200 famílias, a maioria delas com áreas arrendadas e com ações judicializadas pelo Consórcio.

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As remoções judiciais continuam ao longo da semana. De acordo com o MAB, a expectativa é de que hoje outras duas famílias sejam retiradas do local. Não há informações sobre o local, apenas de que o alvo seriam duas famílias também com áreas arrendadas.

 

Casas alugadas

As duas famílias que foram retiradas das áreas arrendadas seguiram para o Município de Capitão Leônidas Marques. Conforme o MAB, o Consórcio Empreendedor Baixo Iguaçu ficou responsável por pagar três meses de aluguel até que essas famílias possam se restabelecer.

Contudo, o Consórcio não confirma que vai pagar as despesas com locação e disse apenas, por meio de nota, que “a empresa adotará as medidas necessárias para que a decisão judicial seja cumprida de forma socialmente mais justa”.

As famílias informaram ao MAB sobre as péssimas condições que se encontram: “As casas são velhas, com chão de madeira totalmente estragado, sem as mínimas condições para que uma família more nesses lugares”, disse uma dos representantes do MAB.

 

Na mira do Consórcio

A preocupação em perder os imóveis não se restringe a quem mora na linha Porto Três Irmãos. O produtor rural Isaías Loures teme ser um dos próximos a ver sua casa demolida e ter de retirar seus pertences às pressas na mira da polícia.

“Sou proprietário, tenho um pequeno sítio na Linha Bevilaqua, e a água vai chegar lá. Até agora a empresa não procurou ninguém para fazer o acerto e com certeza o acerto que vão fazer é esse: Justiça, fórum. policial e destruição da casa de todo o mundo. O empreendedor não abre negociação e está ganhando tempo para que as coisas cheguem a esse ponto, fragilizando as pessoas, o agricultor, que tem até medo de buscar a Justiça”, relata.

Loures diz que ainda não foi notificado para sair da área onde mora e também não acertou o valor da indenização da área que será alagada.

 

O que diz o Estado

O secretário estadual para Assuntos Fundiários, Hamilton Serighelli, está ciente do cumprimento das ordens judiciais de remoção e marcou para hoje, em Curitiba, uma reunião com a Defensoria Pública e com representantes do MAB para tentar encontrar uma solução para o impasse que se arrasta desde 2014, quando tiveram início as negociações de indenização entre Consórcio e atingidos.

“As famílias que têm terras arrendadas estão reclamando que não receberam nada e estão sendo retiradas do local onde vivem. A advogada do MAB acompanhou tudo no local e deu o apoio necessário a eles. Agora, nessa reunião, vamos ver qual solução podemos encontrar para o problema dessas pessoas”, disse Serighelli.