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Protesto de jogador da NFL contra racismo ganha apoio de Obama

A três dias do início da temporada 2016-17 da NFL, um gesto do quarterback Colin Kaepernick causou polêmica, dividiu um país acostumado a tratar os seus símbolos nacionais de forma quase sagrada e provocou até o comentário do presidente Barack Obama. Durante um jogo da pré-temporada contra o San Diego Chargers, o jogador do San Francisco 49ers e seu companheiro de time, Eric Read, se ajoelharam durante a execução do hino nacional americano.

Após a vitória por 31 a 21 sobre o San Diego, Kaepernick disse que o gesto foi para chamara a atenção para os problemas de racismo e a violência da polícia contra os negros nos Estados Unidos.

– Não sou anti-americano. Eu amo a América. Eu amo as pessoas. É por isso que estou fazendo isso. Eu quero ajudar a América a ser um lugar melhor, e acredito que ter essa conversa ajuda as pessoas a entenderem melhor de onde as pessoas vêm – disse o quarterback.

O protesto de Kaepernick gerou enorme controvérsia. Mas ganhou o apoio de muitos torcedores no estádio e também de uma estrela do futebol feminino. A meia Megan Rapinoe, de 31 anos, repetiu o gesto do quarterback durante a execução do hino americano antes do empate por 2 a 2 deste fim de semana entre o seu time, o Seattle Reign, e o Chicago Red Star, pela liga de futebol feminino dos Estados Unidos.

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Rapinoe disse que o seu gesto foi um aceno para Kaepernick e um alerta para os problemas semelhantes que passam os homossexuais nos Estados Unidos. Rapinoe é homossexual.

– Foi muito intencional – disse Rapinoe. – Foi um pequeno aceno para Kaepernick e para tudo o que ele está passando agora. É nojenta a maneira como ele está sendo tratado e a forma como boa parte da mídia está cobrindo isso. Precisamos ter uma conversa mais plural sobre a questão racial neste país. Sendo uma gay americana, eu sei o que significa olhar para a bandeira e não ter a proteção das suas liberdades. É algo pequeno que eu poderia fazer (o protesto) e algo que pretendo continuar fazendo no futuro e espero que isso possa desencadear uma conversa significativa em torno dessa questão. É importante ter pessoas brancas apoiando as de cor nisso. Não precisamos ser os líderes, é claro, mas dar apoio a eles é algo realmente poderoso – disse a jogadora.

Precisamos ter uma conversa mais plural sobre a questão racial neste país

E Kaepernick ainda teve o apoio do cornerback Jeremy Lane, do Seattle Seahawks. Ainda na pré-temporada da NFL, o jogador se sentou durante o hino antes da partida contra o Oakland Raiders.

OBAMA COMENTA

O protesto de Kaepernick acabou chegando ao presidente Barack Obama, que comentou o caso. Ele saiu em defesa do jogador do San Francisco 49ers. Para Obama, o atleta está apenas ?exercendo o seu direito constitucional?. Ele argumentou ainda que o quarterback está sinceramente ?preocupado com questões reais? e que ?precisam ser conversadas?.

– Devo confessar que não pude pensar muito em futebol enquanto estou aqui e não acompanhei esse caso de perto – disse Obama, que está na reunião do G-20 na China. – Mas eu entendo, pelo menos, que ele está exercitando o seu direito constitucional de fazer uma declaração. Há um longo histórico de atletas que fizeram isso.

Ele está exercitando o seu direito constitucional de fazer uma declaração

Para Obama, pode ser duro principalmente para os soldados americanos compreenderem o protesto de Kaepernick, mas também é preciso ouvir as questões para as quais ele chama a atenção.

– Há diferentes formas de você fazer isso. quando se trata da bandeira e do hino nacional e do sentido de que esta detém para nossos homens e mulheres de uniforme e aqueles que lutaram por nós – isso é uma coisa difícil para eles passarem e em seguida ouvir as suas preocupações mais profundas. Mas eu não tenho dúvidas de que ele está sendo sincero. Ele se preocupa com algo que é legítimo, que precisa ser debatido.

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Kaepernick disse que pretende doar US$ 1 milhão para diferentes organizações que ajudam os negros nos EUA.

– A mensagem é que temos uma questão nesse país e precisamos lidar com ela. Temos muitas pessoas oprimidas, muitas pessoas que não são tratadas igualmente, que não tem oportunidades iguais. A brutalidade da polícia é uma coisa séria que precisa ser tratada. Há uma série de questões que precisamos conversar.

Com suas declarações, porém, Kaepernick causou a ira da polícia, que ameaçou boicotar os jogos do 49ers nesta temporada. Segundo o chefe da polícia de Santa Clara, Michael Sellers, o gesto do quarterback ?não ajuda a deixar o país unido?. Em um comunicado, a polícia disse que Kaepernick apresentou um ?comportamento inapropriado? e ?ameaça a harmonia das relações de trabalho?.

?Por mais desagradáveis que suas declarações sejam, estas ações são protegidas pela Constituição. Os policiais estão aqui para proteger os direitos de qualquer pessoas, mesmo que discordemos de suas posições?.