Cotidiano

Proposta russa de trégua é rejeitada após aval do país a ataques em Aleppo

UN-SYRIA-CONFLICT-GJ82US5A5.1.jpgNOVA YORK – O Conselho de Segurança das Nações Unidas rechaçou a Rússia após o país vetar neste sábado uma resolução redigida pela França, demandando fim imediato a ataques aéreos e voos militares sobre a cidade síria de Aleppo e pedindo trégua e acesso a ajuda humanitária através da Síria. Após o veto russo, o órgão rebateu em massa o rascunho de uma proposta de cessar-fogo apresentada pelo próprio país. aleppo

É a quinta vez que a Rússia veta uma resolução da ONU sobre a Síria durante o conflito que já dura mais de cinco anos. Nas quatro vezes anteriores, Moscou foi apoiada por Pequim, mas neste sábado a China se absteve de votar. Angola também se absteve, enquanto a Venezuela se uniu à Rússia no voto contra o texto. Dos 15 membros do conselho, 11 votaram a favor da versão preliminar da resolução.

Uma resolução da ONU precisa de nove votos a favor e nenhum veto para ser adotada. Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China têm poder de veto. A Rússia já indicara que não apoiaria a resolução francesa, afirmando que ela daria mais poder a grupos “terroristas”, como se refere a rebeldes contra o regime de Bashar al-Assad.

O Conselho vetou, posteriormente, o projeto russo de cessar-fogo, que, segundo os EUA e outras nações, supostamente beneficiaria o regime sírio. Dos 15 membros, nove votaram contra (como EUA, França e Reino Unido). Quatro votaram a favor, e dois se abstiveram. O texto da Rússia, obtido pela AFP na sexta-feira, pede “a instauração imediata de um fim das hostilidades, especialmente em Aleppo”, e solicita a todas as partes que permitam o acesso da ajuda humanitária.

CONFLITO SEGUE EM CRESCIMENTO

Duas semanas depois do lançamento de uma ofensiva grande sobre Aleppo do Exército sírio, com o apoio de Moscou, as tropas de Damasco seguiam avançando, ganhando terreno dos rebeldes por três eixos.

Aleppo é o principal foco do conflito que arrasa há mais de cinco anos a Síria, que deixou mais de 300.000 mortos, provocando a pior tragédia humanitária desde a Segunda Guerra Mundial.

A parte Leste da cidade, onde os rebeldes estão mobilizados, foi arrasada por bombardeios muito intensos, que deixaram centenas de mortos e destruíram as infraestruturas civis.

“A batalha se desenrolava no centro, especialmente no bairro de Bustan al-Basha, onde o exército está avançando, no sul, em Sheikh Said, e na periferia norte, onde o regime tomou o bairro de Uwayja”, explicou à AFP o diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman.

A ONG informou que desde o início da ofensiva de Damasco e Moscou, em 22 de setembro, 290 pessoas morreram, a maior parte delas civis, incluindo 57 menores de idade. Enquanto isso, nos bairros controlados pelo governo 50 civis morreram, entre eles nove crianças.

Durante o dia, os bombardeios se concentraram sobretudo nas zonas de combates, informou o correspondente da AFP na parte rebelde.

Em alusão à tensão cada vez mais palpável entre Estados Unidos e Rússia, o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, disse em uma entrevista publicada neste sábado que o período atual é “mais perigoso” que a Guerra Fria.

“É uma ilusão pensar que se trata da antiga Guerra Fria. A época atual é diferente, mais perigosa”, declarou o ministro alemão. “O risco de um confronto militar é considerável”, acrescentou.

O embaixador britânico na ONU, Matthew Rycroft, rejeitou o texto, estimando que se trata de uma manobra russa destinada cinicamente a “desviar a atenção da necessidade de deter os bombardeios sobre Aleppo”.

Por sua vez, a Rússia ameaçou usar seu direito de veto para bloquear a proposta francesa.

“Não vejo de que maneira poderíamos deixar que esta resolução seja aprovada”, disse à imprensa o embaixador russo na ONU, Vitaly Churkin.

O ministro francês advertiu que a votação deste sábado será “a hora da verdade para todos os membros do Conselho de Segurança (…) em especial para nossos sócios russos”, pedindo “uma rebelião da consciência humana”.