Cotidiano

Proibidos de deixar país, deputados acusam chavismo de retaliação

1057117168.jpgRIO E CARACAS – A luta de poderes entre o governo de Nicolás Maduro e a Assembleia Nacional (AN) venezuelana ? de maioria opositora ? ganhou mais um capítulo esta semana quando dois deputados que atuam como porta-vozes internacionais do Parlamento denunciaram terem sido impedidos de deixar o país. Luis Florido, presidente da Comissão de Política Externa da AN, descobriu que seu passaporte estava invalidado há duas semanas, quando voltava de uma viagem à República Dominicana, onde assistiu à cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe. Segundo ele, um agente da Polícia Federal afirmou, ainda no aeroporto, que seu documento havia sido cancelado por furto ? o que não aconteceu. VENE 1002

Além de Florido, o parlamentar Williams Dávila, também integrante da comissão, denunciou que seu passaporte fora suspenso por funcionários da imigração quando se preparava para viajar a Washington. Para eles, trata-se de uma represália por divergências com o governo.

? Há duas semanas, conversei com um responsável na Polícia Federal, que é também coordenador de logística do PSUV (partido de Maduro), e ele me garantiu que havia sido um erro técnico e que o problema seria resolvido ? contou Florido ao GLOBO, por telefone de Caracas.

OEA: ?ataque à imunidade parlamentar?

Mas, na segunda-feira, quando ia viajar ao Peru portando sua identidade ? ele não precisaria de passaporte porque os dois países fazem parte do Mercosul ? o parlamentar foi impedido de viajar: em seu nome, constava uma proibição de deixar o país. Agora, Florido diz estar tomando as medidas legais.

? É o cúmulo da malandragem ? reclamou Dávila, que planejava se reunir em Washington com senadores americanos e funcionários da Organização de Estados Americanos (OEA). ? É uma retaliação do governo por nossas denúncias internacionais sobre a situação da Venezuela.

Em visita ao Ministério Público, os dois pediram punição aos funcionários que violaram sua imunidade parlamentar.

? Nenhum funcionário público pode impedir o trabalho de um deputado. Não é apenas um ataque à imunidade parlamentar, mas uma violação aos direitos humanos ? denunciou Florido. ? Vamos abrir um recurso de amparo judicial.

Maduro acusa a oposição de fazer uma campanha de desprestígio contra seu governo e de ajudar a promover um boicote financeiro para que o país, mergulhado numa grave crise econômica, não possa ter acesso ao financiamento internacional. Ontem, a OEA instou as autoridades a devolver os passaportes aos dois deputados.

?Condenamos este ataque à imunidade parlamentar e reclamamos o pleno gozo dos direitos dos parlamentares?, disse a organização em nota.