Cotidiano

Produção cultural deve ficar mais difícil e cara com saída do Reino Unido da UE

RIO — Responsável, em grande parte, pela imagem que o mundo faz do Reino Unido, a sua indústria cultural deve ser profundamente afetada com a decisão dos britânicos de se retirarem da União Europeia (UE). Reconhecida em todo o mundo por causa de artistas que vão de Beatles a One Direction, a indústria fonográfica britânica – que traz, anualmente, cerca de 4 bilhões de libras para os cofres do governo – será uma das primeiras a sentir o baque, alerta Geoff Taylor, presidente executivo da BPI, associação que representa os produtores de música gravada no Reino Unido.

— O resultado do referendo da UE virá como uma surpresa para muitos na comunidade de música, que ficará preocupada com a incerteza econômica que se avizinha e com o impacto que isso pode ter sobre as perspectivas de negócios – alerta Taylor. – Essa decisão vai significar novas prioridades para a indústria da música em nosso trabalho com o governo.

A ideia daqui para frente, afirma o executivo, é pressionar as autoridades a negociarem rapidamente acordos comerciais que garantam o livre acesso aos mercados da UE para a música britânica e para os seus artistas em turnê.

— Nosso governo também terá agora a oportunidade de legislar em prol de regras mais severas para os direitos autorais que incentivem o investimento aqui no Reino Unido e que protejam os criadores da pirataria e da perda de dinheiro, nas brechas da lei, com as plataformas de tecnologia — acrescenta.

De Lily Allen aos Chemical Brothers, passando pelo guitarrista dos Smiths, Johnny Marr, muitos foram os músicos britânicos que lamentaram o resultado do referendo. Entre os nomes mais notórios da música, apenas os vocalistas do The Who, Roger Daltrey, e do Iron Maiden, Bruce Dickinson, assumiram publicamente a defesa do afastamento da União Europeia.

Presidente da Independent Film and Television Alliance e sócio da GFM Films, Michael Ryan acredita que a decisão dos eleitores britânicos tenha efeito “devastador” para o setor criativo dos países, como afirmou em comunicado divulgado na sexta-feira.

“É um grande golpe para a indústria do cinema e da TV. A produção de filmes e de programas de televisão é um negócio muito caro e muito arriscado, e é obrigatório que haja certeza sobre as regras que afetam o negócio.”

Para Ryan, a mudança abala as fundações da indústria britânica.

“A partir de hoje, já não sabemos como os nossos relacionamentos com os coprodutores, financiadores e distribuidores vão funcionar, nem se novos impostos serão lançados sobre nossas atividades no resto da Europa, ou como o financiamento de produção vai ser obtido sem apoio de agências de financiamento europeias.”

Como demorará anos – pelo menos dois, provavelmente algo entre cinco e seis — para o Reino Unido desembaraçar-se legalmente das instituições europeias, a insegurança jurídica tornará mais difícil e cara a realização de filmes independentes com o envolvimento britânico, acredita o executivo.

“A incerteza é o maior problema”, aponta Michael Ryan. “Fazer um filme independente financiado é arriscado mesmo no melhor dos tempos. Isto significará ainda mais gastos com advogados e contadores… Daqui a cinco ou seis anos, tenho certeza que vamos ficar bem. Até lá, estamos ferrados.”