Cotidiano

Produção aumenta, mas preços não terão queda

Toledo – O oeste do Paraná caminha para se consolidar como polo nacional da piscicultura, principalmente após a implantação de mais um frigorífico voltado ao abate de tilápias, agora em Palotina, em um investimento de R$ 110 milhões da C.Vale e com expectativa de atingir um abate recorde de 600 mil peixes dias, meta vislumbrada para os próximos anos. Nesta primeira etapa, serão inicialmente 75 mil peixes/dia. Metade da produção de peixes do Brasil envolve a tilápia.

A primeira cooperativa a explorar esse nicho de mercado na região foi a Copacol, com um frigorífico instalado há cerca de dez anos em Nova Aurora e produção anual de 15 mil toneladas. Na época, o anúncio dos investimentos soou como música nos ouvidos dos piscicultores, que estavam desmotivados e sem alcançar o retorno projetado.

Agora, a expectativa gira em torno da redução do quilo da tilápia pago no comércio. Hoje o quilo da iguaria não sai por menos de R$ 20 nos mercados. Um valor salgado para o gosto de muitos consumidores, que só não comprar mais a carne por conta do preço elevado. “Se pudesse, comprava todos os dias, porque sei do poder nutricional dessa carne [peixe] e seus benefícios para a saúde”, comentou Rosália dos Santos, enquanto conferia o valor do quilo do peixe em um supermercado da cidade.

A expectativa maior é vivida pelo consumidor, que ainda considera salgado o preço pago pelo quilo da iguaria na região. Em média, o quilo do peixe não sai por menos de R$ 20 em alguns estabelecimentos especializados na venda de peixes no oeste. E o cenário não é dos mais animadores, mesmo com o anúncio de novo investimentos na atividade.

O engenheiro de pesca do Instituto das Águas de Toledo, Robert Gordon Hickson, não vê qualquer possibilidade do valor do quilo pago pelo consumidor sofrer queda. “A não ser que ocorra uma superprodução na região”, disse. “Se isso não acontecer, o preço se manterá estável, justamente porque o custo de produção ainda é considerado elevado pelo produtor de peixe”.

Segundo Hickson, o custo de produção é norteado pela mão de obra, ração e medicamentos. “O preço pode cair se ocorrer uma grande produção regional e o valor dos grãos usados como insumo apresentarem retração nos valores”, comentou. “Enquanto isso, o valor não sofrerá mudanças e o consumidor continuará pagando o mesmo valor que desembolsa hoje pelo quilo da tilápia”.

Para o engenheiro de pesca, o valor pago no mercado interno na região só cai se o mesmo ocorrer com o valor da ração, da energia elétrica ou do combustível (usado nos geradores), o que dificilmente ocorrerá. Outro fator que pode influenciar na queda do preço é um maior subsídio no setor por parte do governo federal e a definição de uma política específica de comércio desses produtos, que impactaria diretamente no mercado consumidor.

Mais produção

Os novos empreendimentos anunciados vão contribuir para o crescimento do número de produtores de peixe na região oeste. A exemplo do que fez quando passou a operar o frigorífica da Copacol, há quase dez anos, a movimentação em torno das outorgas do Instituto das Águas deve ser intensa com o novo abatedouro da C.Vale, que nesta etapa inicial, deverá abater ao dia 75 mil peixes, com perspectivas futuras de chegar a 600 mil unidades diariamente. “Há uma carência de proteína animal e esse nicho em potencial deve suprir a demanda existente”.

A FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) recomenda o consumo per capita anual de até 50 quilos. “No Brasil, a média de consumo não chega a 25 quilos per capita ao ano”, comentou Hickson.

Os maiores produtores

Segundo a Associação Brasileira de Piscicultura, em 2016, Paraná, Rondônia e São Paulo foram os maiores produtores de peixes do Brasil. No ano passado, a produção do setor alcançou 640.510 toneladas, sendo que o Paraná foi responsável por 93.600 toneladas da produção, seguido de Rondônia com 74.750 toneladas e São Paulo, com 65.400 toneladas. A receita brasileira fechou com 4,3 bilhões durante o ano e o segmento gerou mais de 1 milhão de empregos.

Outros estados como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul têm investido em medidas para aumentar a produção, já que o Brasil tem demonstrado grande potencial para aumentar a produção, já que dispõe de água, espécies promissoras, clima favorável e alta tecnologia.

Outra questão que tem encorajado os produtores é o aumento do consumo de peixes por parte da população brasileira. Dados de 2016 do Ministério da Agricultura mostram que o brasileiro consome 14,4 quilos/habitante/ano de pescado, uma das espécies mais produzidas no País; 2,4 quilos a mais que o recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde).