Policial

Presos ameaçam “virar” penitenciárias de Cascavel

Na PEC, cubículo para seis detentos têm 15 prisioneiros; PIC também vive sob tensão

Cascavel – Da última rebelião registrada na PEC (Penitenciária Estadual de Cascavel) já se passaram cinco meses, as reformas não foram feitas, as melhorias da estrutura não saíram do papel e a sensação de que a “poeira” abaixou é falsa. Aliás, desde o motim de novembro ainda não se sabe exatamente a extensão dos prejuízos, nem mesmo quantos e quais presos fugiram. A Sesp (Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária) não divulga informação alguma a respeito.

Se a situação já era crítica, agora é desesperadora, revelam os agentes penitenciários. Eles estão trabalhando sob constante pressão, com ameaças frequentes vindas de presos, principalmente dos faccionados. “Temos convivido todos os dias com ameaças do estilo ‘vamos virar a cadeia novamente’ [iniciar outra rebelião]. Só que o problema é que, desta vez, eles estão dizendo que vão pegar os agentes para matar, não tem mais essa história de só fazer refém”, desabafa um agente.

Ele conta que oito de cada dez profissionais só dormem com uso de medicamentos. “Na noite que antecede o plantão a situação é tão crítica que para dormir os agentes tomam remédios pesados. A noite que antecede o dia do trabalho é um verdadeiro inferno. Não sabemos como vai ser porque as ameaças e os riscos são demais”, destacou.

Conforme os profissionais, os riscos se potencializam porque há um alerta – na linguagem da carceragem uma espécie de “salve” – para que a próxima rebelião se estenda à PIC (Penitenciária Industrial de Cascavel). “A PIC sempre foi uma cadeia mais tranquila, só que agora tem muito preso da PEC que foi levado para lá e eles também impõem o terror. Inflamam os ânimos de outros detentos. Estamos conscientes de que uma rebelião pode começar nas duas unidades a qualquer momento”, alerta.

Sem condições

Dentre os motivos apontados pelos presos para o novo motim estariam as péssimas condições estruturais da PEC, ainda destruída, além da superlotação. “Quando chove leva quatro dias para secar a penitenciária dentro. Alaga tudo, celas, ambulatório, é horrível. Cada cubículo que acomodaria seis presos de forma desconfortável hoje tem 15”, denuncia.

“Temos consciência e somos alertados todos os dias de que há risco de nova rebelião e vivemos com essas ameaças, somos ameaçados a toda hora”, revela.

Transferência

Outra reivindicação dos detentos é a transferência, o que os agentes adiantam: isso não vai acontecer. “Os presos acham que o Estado deve transferi-los porque a PEC está em péssimas condições, mas o Estado não vai compactuar com o crime organizado e não vai transferi-los. Então eles ficam nesse jogo de terror, ameaçando tomar a cadeia a qualquer momento novamente e sair matando e sabemos que eles são capazes”, alerta outro agente.

“Quando tem muito problema na PEC alguns presos são transferidos para a PIC e esses passam a inflamar os detentos de lá também. É caótica a situação”, lamenta.

Riscos

Dentre os riscos iminentes está o baixo efetivo de agentes. O preconizado é de um agente para cada cinco detentos, mas hoje na PEC há pelo menos 30 presos por agente. “E isso resulta em problemas psicológicos, uma elevada demanda de serviço. O Estado não contrata e não há previsão de contratação, estamos sem reajuste há quase três anos. Vivemos uma situação totalmente desconfortável e isso se estende aos presos e às suas famílias. A entrada para as visitas começa criteriosamente às 8h, mas com o baixo efetivo para as revistas, os familiares chegam até o preso apenas depois das 11h. Está complicado para todos”, destacou.

 

O que diz o Depen

Em nota, o Depen (Departamento Penitenciário) afirmou que “não recebeu nenhuma denúncia até o momento” sobre os riscos de nova rebelião na PEC nem na PIC. “De qualquer forma, esclarecemos que todas as informações levantadas nas unidades penais são analisadas pelo setor de inteligência do Departamento”.

Ainda de acordo com o Depen, quanto às melhorias relacionadas ao pós-rebelião, o afirmado é que “reparos urgentes e de hidráulica foram e estão sendo realizados com recursos do Fundo Rotativo do próprio Departamento Penitenciário”.

“Duas empresas foram contratadas de forma emergencial para o conserto do telhado e rede elétrica, esses dois contratos somam cerca de R$ 600 mil. O reparo do telhado teve início semana passada e os reparos da rede elétrica se iniciam esta semana”, informou, em nota.

O prazo contratual para o término desses reparos é setembro de 2018.

Sobre a ampliação da PIC, já anunciada várias vezes nos últimos anos, a Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária informa que a Caixa solicitou alterações no projeto da obra. As adequações serão realizadas pela Paraná Edificações. Não houve detalhamento sobre prazos.

Os presos

A PIC tem 397 presos e a PEC tem 766 presos. “Por questões de segurança, não divulgamos o número do efetivo de agentes”, afirmou o Depen.

Na época da rebelião, cerca de 150 presos foram transferidos da PEC para a PIC. Não foi informado se os detentos continuam locados na Penitenciária Industrial.