Cotidiano

Presidente da Colômbia é acusado de receber propina da Odebrecht

SÃO PAULO – O Ministério Público da Colômbia acusa a campanha do presidente Juan Manuel Santos, vencedor do Prêmio Nobel da Paz ano passado, de receber US$ 1 milhão de propina da Odebrecht em 2014. O dinheiro faria parte de um suborno pago pela empresa brasileira ao ex-senador Otto Bula em troca de um contrato para construir uma estrada no país. O chefe da campanha nega as acusações.

As investigações na Colômbia começaram após a assinatura de um acordo entre Odebrecht e Braskem e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos em dezembro. As empresas confessaram ter pago US$ 1 bilhão em propina para políticos de 12 países, no que as autoridades norte-americanas chamaram de “maior caso de corrupção da história”.

O Ministério Público colombiano identificou um contrato entre Bula e Odebrecht de 2013 no qual a empresa se comprometia a pagar uma “comissão de sucesso” de US$ 4,6 milhões. O dinheiro saiu do Brasil em direção a empresas do Panamá e da China, cujos proprietários ainda são desconhecidos, mas atuariam em favor do ex-senador, que está preso desde 14 de janeiro. Desse total, Bula teria encaminhado US$ 1 milhão para a campanha de Santos. Segundo os promotores, 10% desse valor foi distribuído a funcionários da campanha.

Ministra dos Transportes na época da construção da rodovia Ocaña-Gamarra, Cecília Alvarez, será ouvida pelo procurador-geral Néstor Martinez Neira em 11 de fevereiro. O chefe de campanha de Santos, Roberto Prieto, negou que tenha recebido dinheiro da Odebrecht. Segundo ele, a campanha não recebeu doações irregulares e já teve as contas aprovadas pela Justiça

– Os recursos da campanha, como mostram claramente as contas apresentadas, provêm exclusivamente e totalmente do fundo partidário previsto na lei – afirmou à imprensa colombiana.

A divulgação das acusações do Ministério Público desencadearam declarações de assessores de Santos, que acusam o ex-presidente Álvaro Uribe de estar pro trás das denúncias. O ex-presidente colombiano ainda não se manifestou.

O Ministério Público investiga outras duas frentes de pagamento de suborno a políticos colombianos pela Odebrecht. O ex-vice-ministro dos Transportes, Gabriel Ignacio Garcia Morales, é acusado de negociar propina de US$ 6,5 milhões para a empreiteira ganhar a licitação para outra estrada, a Rota do Sul. O dinheiro foi lavado no sistema financeiro de Estados Unidos, Antigua e Andorra, segundo os investigadores. O suborno teria chegado a outras pessoas indicadas por Morales, que ainda serão interrogadas.

Por fim, a Odebrecht teria pago a contratação do marqueteiro Duda Mendonça para a campanha de Ivan Zuluaga, derrotado por Santos em 2014. A investigação foi transferida para o Conselho Nacional Eleitoral, que irá checar o “cumprimento das regras de financiamento eleitoral”, segundo a Procuradoria.

O acordo da Odebrecht com os Estados Unidos tem gerado uma série de reações na América Latina. Na terça-feira, a Procuradoria-Geral do Peru pediu a prisão preventiva por 18 meses do ex-presidente Alejandro Toledo, que é acusado de receber US$ 20 milhões da empreiteira. O julgamento do pedido de prisão está marcado para a manhã desta quinta-feira, segundo a Justiça peruana. Toledo também nega as acusações