Cotidiano

Premiação do Sindicato dos Atores destaca ?Um limite entre nós? e ?The crown?

64641142_Actor Denzel Washington accepts Outstanding Performance by a Male A.jpgUm dos principais eventos que apontam as tendências para o Oscar, o prêmio do Sindicato de Atores (SAG, na sigla em inglês), anteontem, em Los Angeles, teve como destaque uma distribuição quase equilibrada entre os principais concorrentes de cinema, com pequena supremacia de ?Um limite entre nós?. Entre as categorias de TV, como destaca a colunista Patrícia Kogut no alto desta página, quem sobressaiu ligeiramente foi a série ?The crown?. Como era de se esperar de um ambiente como Hollywood, críticas às primeiras ações do governo Donald Trump invadiram os discursos de quase todos os vencedores.

O drama ?Um limite entre nós? (?Fences?, no original) valeu a Denzel Washington o prêmio de melhor ator e a Viola Davis o de atriz coadjuvante. Emma Stone levou o troféu de melhor atriz por ?La la land: cantando estações? e consolidou sua hegemonia, anunciada recentemente no Globo de Ouro. ?Estrelas além do tempo? (?Hidden figures?), cujas protagonistas são interpretadas por três atrizes negras, ganhou na categoria melhor elenco.

Série original da Netflix, ?The crown? levou os principais prêmios de atuação na categoria TV. Claire Foy, que interpreta a Rainha Elizabeth II, levou o troféu de melhor atriz. O prêmio de ator coadjuvante ficou com John Lithgow, por sua interpretação de Winston Churchill. A celebrada ?Stranger things? ganhou como melhor elenco de série dramática. ?Orange is the new black? ficou com o troféu de melhor elenco de série cômica.

No palco do SAG, que virou tribuna contra o autoritarismo e os excessos do recém-empossado presidente americano, se destacaram os discursos de Mahershala Ali, eleito melhor ator coadjuvante por ?Moonlight?, e de David Harbour, representando os colegas de ?Stranger things?.

?Nós ficamos presos nas minúcias, nos detalhes que nos tornam diferentes. Acho que existem duas maneiras de olhar para isso. Existe a oportunidade de ver a textura daquela pessoa, as características que a fazem única. E existe também a possibilidade de entrar em guerra por conta disso. Minha mãe é pastora. Eu sou muçulmano. Ela não deu cambalhotas quando eu contei que me converti, 17 anos atrás. Mas eu digo a vocês agora: nós deixamos isso de lado. E eu sou capaz de vê-la, e ela é capaz de me ver. Nós nos amamos, o amor cresceu?, disse Ali, emocionado.

Harbour foi mais enfático, no que contou com o entusiasmo de seus colegas e de Winona Ryder, que acompanhou a eloquência do colega com caretas e gestos: ?Como mostramos na contínua narrativa de ?Stranger things?, nós vamos repelir os valentões, vamos abrigar os esquisitos e os marginalizados, aqueles que não têm casa, vamos superar as mentiras, vamos caçar monstros e, quando estivermos perdidos em meio à hipocrisia e à violência casual de certos indivíduos e instituições, nós vamos, assim como o delegado Jim Hopper, socar a cara de algumas pessoas que tentarem destruir os mais fracos, os desprotegidos. E nós faremos tudo isso com alma, com coração e com alegria. Agradecemos por esta responsabilidade?.

Sindicato dos produtores

Em uma safra de recorte majoritariamente independente no cinema, a força dos filmes está nas interpretações. Na TV, onde os formatos estão mudando cada vez mais graças às plataformas de streaming, as produções também dependem de elencos afiados e de performances sólidas.

O musical de Damien Chazelle (?La la land?) foi o grande vencedor do prêmio concedido pelo Sindicato dos Produtores (PGA), que é o principal responsável pela votação do Oscar de melhor filme. Considerando que no passado recente houve apenas uma discordância entre as duas premiações, com ?A grande aposta? vencendo o PGA e ?Spotlight: segredos revelados?, a estatueta da Academia no ano passado, é de supor que só uma surpresa causará um descompasso.

Os principais candidatos a desafinar a melodia de ?La la land? são ?Manchester à beira-mar?, que traz Casey Affleck no papel de um pai de família que sofre uma perda quase insuperável, e ?Moonlight: sob a luz do luar?, que revela a luta de um rapaz gay para se manter vivo e íntegro dentro de uma comunidade hostil. Em comum aos três filmes está o investimento nos atores e em interpretações que são o sustento de suas tramas e narrativas.