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Preço de Jorge causa controvérsia, em especial após a melhora financeira do Fla

20160529121750_127.jpgHá um roteiro obedecido toda vez que um clube brasileiro perde um jogador para o exterior, no infindável êxodo que marca a rotina do futebol do país: anunciada a venda, torcedores discutem o preço e, em geral, argumentam que o talento em questão saiu barato para o comprador. Vendido ao Monaco, da França, o lateral-esquerdo Jorge, do Flamengo, é o mais novo personagem do debate. Foi avaliado em ? 8,5 milhões (quase R$ 29 milhões). Dono de 70% dos direitos econômicos, o rubro-negro ficará com quase R$ 21 milhões. Flamengo – 26.01

Jorge tinha multa rescisória de cerca de R$ 100 milhões, cabendo R$ 70 milhões ao Flamengo. O pagamento integral da cláusula penal não é prática habitual nas relações entre Brasil e Europa, dadas a disparidade de forças dos dois lados da negociação e o desejo dos jogadores de atuarem nas principais ligas do mundo.

Por outro lado, surge o argumento de que o valor ficou distante demais do teto ? 30% da multa ?, tratando-se de um Flamengo reestruturado financeiramente, em que a receita da venda de atletas é bem-vinda, embora não seja, segundo os dirigentes, necessidade urgente para permitir o funcionamento do clube.

Mas vale a pena colocar na balança, também, acotação recente de jogadores da mesma posição. Afinal, há posições claramente mais valorizadas do que outras. Levando-se em conta os oito últimos laterais-esquerdos que jogaram na seleção brasileira, a venda de Jorge supera a negociação de sete deles para o exterior. E o lateral rubro-negro só estreou com a camisa do Brasil na última quarta-feira, no jogo contra a Colômbia e, assim mesmo, numa seleção doméstica. Por outro lado, tem 20 anos, o que faz dele um ativo importante pensando numa revenda.

HISTÓRIAS DIFERENTES

Cada uma das vendas recentes tem particularidades, circunstâncias distintas da que cerca a saída de Jorge. Por exemplo, o único que custou mais do que o rubro-negro foi Alex Sandro. O lateral jogava no Santos, mas o Porto o comprou de um grupo de empresários, por ? 9,6 milhões.

Marcelo tinha 18 anos quando, em 2007, trocou o Fluminense pelo Real Madrid avaliado em ? 6 milhões (à época, cerca de R$ 16 milhões). Tinha dois anos a menos do que Jorge, mas já fora chamado para a seleção principal, embora sem estrear. Por outro lado, lá se vão dez anos e o mercado atual opera com valores maiores.

Aos 19 anos, Filipe Luís saiu do Figueirense para o Ajax por valor irrisório, em 2004. Ao contrário, Douglas Santos, vendido após a Olimpíada do Rio, trocou o Atlético-MG pelo Hamburgo por ? 6,5 milhões, aos 22 anos. Já tinha uma aparição na seleção principal e conquistara a medalha de ouro dias antes. Por outro lado, vinha de uma passagem curta e sem destaque na Europa.

Jorge supera, ainda, os valores de Fábio Santos, que trocou o São Paulo pelo Kashima Antlers por ? 2 milhões; assim como o de Maxwell, que foi do Cruzeiro ao Ajax por ? 3,5 milhões. Ambos saíram aos 20 anos. Ex-Barcelona e hoje na Turquia, Adriano trocou, aos 21 anos, o Coritiba pelo Sevilla por ? 2,1 milhões. Já André Santos, mesmo aos 26 anos, foi do Corinthians ao futebol turco por ? 6 milhões.

O Flamengo não tem um histórico de grandes vendas. Sua maior operação nos últimos dez anos fora a de Renato Augusto, que rendeu, em 2008, R$ 15 milhões. Neste caso, influi o câmbio: o euro estava cotado a cerca de R$ 2,50, contra os cerca de R$ 3,40 atuais. Renato foi cotado em ? 10 milhões e o Flamengo ficou com 60%. Depois, nos últimos dias de 2015, vendeu 50% dos direitos do zagueiro Samir por R$ 8 milhões. Em 2014 e 2015, o clube não cumpriu a meta orçamentária de receitas com venda de jogadores. O valor, no entanto, foi ultrapassado em 2016, quando entraram nos cofres R$ 17 milhões contra os R$ 10 milhões orçados. Além do dinheiro de Samir, o clube vendeu Kayke, por R$ 6 milhões, e o zagueiro Wallace, por cerca de R$ 3 milhões.