Cotidiano

Posse de Trump é alvo de boicote de dezenas de congressistas

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WASHINGTON – Não são apenas os artistas que estão se negando a participar da posse de Donald Trump, na sexta-feira: ao menos 31 parlamentares, entre senadores e deputados, decidiram boicotar a cerimônia. O protesto inédito é uma reação à crítica do presidente eleito a um dos maiores líderes na luta pelos direitos civis. Trump se reuniu ontem com o filho mais velho de Martin Luther King no dia do feriado para honrar a memória do líder, mas não conseguiu estancar a nova polêmica racial a três dias de o magnata substituir o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. CONTEÚDO TRUMP 1701

Tudo começou no fim de semana, quando o deputado e ativista John Lewis ? famoso por ser um dos líderes da marcha de Selma, em Alabama, em 1965 ? disse que não iria à posse de Trump por considerar sua eleição ilegítima, alegando que a espionagem russa teria favorecido o republicano. Trump reagiu com força e disse que o deputado apenas ?fala, fala, fala?, mas que não faz nada por seu distrito ? na região de Atlanta, na Geórgia ? onde a violência cresce. Até republicanos moderados deram apoio a Lewis, mas a grande reação ficou com os democratas. O tema foi um dos mais debatidos ontem no Congresso:

?Depois de muito pensar, eu decidi #StandWithJohnLewis (?ficar ao lado de John Lewis?) e não participar da posse?, escreveu no Twitter Judy Chu, democrata da Califórnia, usando a hashtag que foi uma das mais populares pelos Estados Unidos ontem.

?Concordo com o vice-presidente Joe Biden, é hora de Trump crescer. Ser Potus (sigla para presidente dos EUA) é assunto sério, não brincadeira de criança e estou com @repjohnlewis?, escreveu o deputado John Conyers Jr, democrata do Michigan, também na rede social.

Este tipo de manifestação é inédito nesta dimensão. E tende a crescer ? novas adesões eram anunciadas na rede social a cada momento. Nesta primeira fase, congressistas mais à esquerda e ligados aos movimentos dos direitos dos negros encabeçavam a lista do boicote. A ausência de parlamentares deve abrir um novo flanco de resistência no Congresso e um pedido de investigações sobre a real participação russa nas eleições americanas de novembro.

A polêmica cresceu justamente durante o feriado americano em homenagem a Martin Luther King. Trump se reuniu com o filho mais velho do reverendo, Martin Luther King III, na Trump Tower, em Nova York. Acompanhado de diversos líderes negros, King III posou para foto ao lado do presidente eleito e, na saída da reunião, disse que teve um encontro construtivo, e tentou minimizar a polêmica:

? Acredito que, no calor dos acontecimentos, dizemos muitas coisas. O objetivo é unir os americanos. Somos um grande país ? disse King III, tentando passar algum otimismo. ? Em algum momento, temos que avançar.

Ele ainda contou que Trump afirmou que pretende representar todos os americanos. ?Comemore o dia de Martin Luther King e todas as muitas coisas maravilhosas que ele representava. Honre-o pelo grande homem que ele era!?, tuitou o magnata sobre o legado do líder do movimento de direitos civis nos EUA.

Filha de King defende Lewis

No entanto, a posição da família King não foi unânime. Ontem, Bernice King, filha mais nova do reverendo, posicionou-se ao lado de John Lewis, num discurso na Igreja Batista Ebenezer, em Atlanta, localizada no distrito pelo qual Lewis foi eleito e onde Luther King já pregou:

? Deus pode triunfar sobre Trump ? disse ela, sendo aplaudida de pé. ? Não temos que temer quem está na Casa Branca.

Mas especialistas afirmam que o presidente eleito erra ao continuar com uma atitude beligerante, que piorou o radicalismo do país desde a sua eleição. E, quase sempre, as reações de Trump ocorrem pelo Twitter ? que ele promete não abandonar depois que chegar à Casa Branca. Muitas manifestações estão programadas contra a posse de Trump. Boa parte delas é organizada por instituições de defesa de direitos dos afro-americanos.