Cotidiano

Por que nenhuma mulher ganhou um Nobel em 2016?

ESTOCOLMO, Suécia ? Quando o músico Bob Dylan recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, a lista dos notáveis que faturaram a láurea de maior prestígio internacional em 2016 foi fechada com uma característica no mínimo incômoda: todos os premiados deste ano são homens.

Esta realidade não foi rara ao longo dos 115 anos de Nobel, mas, nos dias de hoje, com a discussão sobre igualdade de gêneros tão evidente, críticos estão questionando por que os jurados não conseguiram encontraram nenhuma mulher em todo o mundo merecedora de uma das seis categorias do prêmio (Medicina, Física, Química, Economia, Paz e Literatura).

“Nenhuma mulher recebe o prêmio Nobel este ano. Ah, os tempos eles não estão mudando”, escreveu no Twitter a autora australiana Leah Kaminsky, fazendo referência à canção “The times they are a changin'”, lançada por Dylan em 1964, no álbum de mesmo nome.

Já a sueca Ebba Witt-Brattstrom, escritora e professora de literatura, acusou os jurados do Nobel de falta de imaginação depois que eles escolheram 11 homens para receber os prêmios de 2016. “Isto é deplorável, considerando os avanços das mulheres não apenas na literatura mas também na ciência”, disse ela ao jornal “Svenska Dagbladet”, da Suécia.

Desde o início do Nobel, em 1901, foram distribuídos prêmios para 833 homens e 48 mulheres. A categoria Economia é a mais desigual, com apenas uma mulher agraciada na História. As láureas da Paz e de Literatura têm os maiores números de mulheres: 16 e 14, respectivamente.

Mesmo assim, os comitês do Nobel garantem que o gênero dos possíveis ganhadores não é um fator considerado ao longo do processo de escolha. “Nós não olhamos para gênero. Nós olhamos para as descobertas científicas”, disse à agência de notícias Asssociated Press a cientista Sara Snogerup Linse, presidente do comitê que elege o premiado na categoria de Química.

Apenas quatro mulheres ganharam a honraria de Química até hoje, sendo que a mais recente foi a israelense Ada Yonath, em 2009. Sara Snogerup Linse explicou que, como os prêmios de ciência destacam descobertas de décadas atrás, a relação de agraciados reflete o domínio masculino na área de pesquisas no passado. Eventualmente, disse ela, as coisas vão se equiparar, já que mais mulheres estão conquistando avanços nos dias de hoje.

“Quando isso vai acontecer, ninguém pode dizer. Só podemos especular”, ponderou Sara.

De acordo com a cientista, a Academia Real de Ciências, que confere os prêmios de Química, Física e Economia, tenta fazer sua parte motivando as pessoas que podem indicar nomes a sugerir mais mulheres para o Nobel. A última vez em que nenhuma mulher foi premiada aconteceu em 2012, mas a mesma situação foi observada recentemente em 2010, 2006 e 2005.

A maior razão é a histórica falta de mulheres envolvidas nos campos de pesquisa exaltados pelo Nobel todos os anos, opina Carl Johansson, representante do Conselho de Pesquisas Sueco, que não é ligado às instituições que distribuem os prêmios Nobel.

Ele acha que a maioria de homens entre os membros dos comitês que elegem os agraciados pode ser um outro fator para essa realidade desigual, mas reconhece que é difícil de saber com certeza.

“Acho que a academia ainda é bastante hierárquica. É mais fácil para homens serem notados. Mas isto é difícil provar. É somente uma suspeita minha”, disse ele. “A dificuldade das mulheres para alcançar posições de destaque também pode ser outro motivo”.