Cotidiano

Por ?pegadinha?, MP de São Paulo instaura investigação contra Haddad

SÃO PAULO ? O Ministério Público do Estado de São Paulo instaurou, em dezembro, um procedimento investigatório criminal para apurar a responsabilidade do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, por uma alteração em sua agenda pública com o objetivo de aplicar um trote no radialista Marco Antonio Villa. De acordo com o documento, obtido pelo jornal ?O Estado de S. Paulo? e cujo teor foi confirmado ao GLOBO, Haddad, ?de forma livre, deliberada e consciente? alterou os dados da sua agenda para a brincadeira.

Os promotores Mário Antônio de Campos Tebet e Rita de Cassia Bergamo escreveram Haddad ?inseriu, de maneira maliciosa e astuta, declaração não verdadeira em sua agenda oficial?.

Em 16 de maio, a agenda do prefeito tinha apenas um compromisso: despachos internos a partir das 8h30. A agenda, no entanto, não era verdadeira, mas foi utilizada para enganar Marco Antonio Villa, que costumava criticar os prefeitos pela falta de compromissos. Logo pela manhã, no programa de rádio em que participa, Villa criticou Haddad:

?Qualquer um de vocês pode acessar, está escrito o seguinte: a partir de 8h30, despachos internos, e o resto está branco. Branco, branco, branco, branco. Não há nada, nada, anda?, comentou. Após o comentário, a Prefeitura retirou a agenda falsa do ar e o radialista voltou a atacar o então prefeito. ?Prefeito, o pessoal precisa ser mais espero aí, o stalinismo acabou. Eu só queria que o senhor, por favor, restabelecesse a sua agenda, que tem que ser de domínio público?.

Haddad, pelas redes sociais, revelou a brincadeira. Em uma publicação entitulada ?Trote num pseudointelectual?, Haddad afirmou que Villa, que também é historiador, comentava sua agenda com ?o conhecimento de quem nunca administrou um boteco?.

?Acho graça. Mas, hoje, para que os ouvintes tenham uma pálida ideia deste embuste, resolvemos substituir, por algumas horas, a minha agenda pela de outro político, apenas para vê-lo comentar, uma vez na vida, o dia-a-dia de quem ele lambe as botas?, escreveu Haddad, que chegou a pedir de desculpas caso alguém tenha se ofendido pelo procedimento. A assessoria da Prefeitura, à época, não divulgou de qual político pertencia a agenda.

Após a confusão, a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público e Social entrou com uma ação civil pública contra Haddad. Nesta ação, Haddad poderá ser punido no âmbito civil, como suspensão de direitos políticos. Agora, a Procuradoria-Geral de Justiça abriu uma investigação criminal.

Em nota, o ex-prefeito afirmou que ?a promotora está equivocada porque não houve a divulgação de uma agenda falsa. Divulgou-se apenas uma agenda no padrão de políticos tradicionais, como o presidente da República ou o governador do Estado, que não detalham seus compromissos internos. Tão logo a agenda foi mudada, foi publicada a sua íntegra. O ex-prefeito Fernando Haddad desconhece qualquer procedimento ou inquérito do Ministério Público sobre este assunto?.

*Estagiário, sob supervisão de Flávio Freire