Cotidiano

População poderá protestar por falta de água, diz ministro do TCU

augusto_nardes.jpgBRASÍLIA – O ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União (TCU), criticou a dificuldade do governo afastado da presidente Dilma Rousseff em fazer projetos saírem de ministérios e impactarem os cidadãos, e disse que a gestão interina de Michel Temer também pode “desmoronar” pela falta de coordenação. Relator da última auditoria que o TCU fez sobre o programa de revitalização do Rio São Francisco, Nardes comemorou a instalação de um comitê gestor para o programa “com 15 anos de atraso” nesta terça-feira, mas alertou que as falhas da transposição têm sido graves, o que pode fazer com que a próxima demanda popular seja por água.

São Francisco

– O povo está cansado, está nas ruas, reclamando de falta de segurança, de falta de educação, de falta de saúde, educação. Daqui a uns dias, vai reclamar por falta de água – declarou o ministro ao GLOBO, e complementou:

– Eu estou conversando com cada ministro, cada governador, e dizendo: Se vocês não se organizarem, a empresa Brasil não vai funcionar. Porque é competitividade com outras nações. Tem que ter governança, ou senão perde o poder.

Nardes esteve no Palácio do Planalto nesta terça-feira para o lançamento do programa de revitalização do Rio São Francisco. Na próxima quinta-feira, o TCU fará um evento sobre o tema. Duzentos e dezessete municípios devem ser beneficiados pelas obras de abastecimento e saneamento, a um custo estimado de R$ 1,162 bilhão até 2019. O projeto de revitalização já existia desde 2001, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso. Uma das novidades é que foi criado, depois de 15 anos, um comitê gestor para o programa. Nardes afirmou que é possível que, com a transposição concluída, a água chegue a um município sem saneamento.

– Tem que ter uma política integrada. Não adianta ficar trabalhando só os ministérios se não integrar com o agricultores que está lá na ponta. Ele que desmata – disse, e completou: – Eu disse ao presidente hoje: o senhor determinou o decreto, muito importante, mas agora tem que fazer o pessoal conversar.

Em 9 de dezembro do ano passado, Augusto Nardes foi relator no TCU do último monitoramento feito a respeito do programa de revitalização e transposição do Velho Chico. Os diagnósticos foram duros.

“Não foram apresentados documentos hábeis, a exemplo de cronogramas ou instrumentos de planejamento, que demonstrassem a existência de ações efetivas para o combate de processos erosivos”, escreveu, ressaltando que o Ministério do Meio Ambiente e a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) “não cumpriram de modo satisfatório nenhuma das recomendações” do TCU

Além de citar queda de orçamento para o programa, “apesar de o gestor ter afirmado a prioridade do projeto” – de 50% no caso dos Centros de Referência em Recuperação de Áreas Degradadas (CRADs) -, a consequência direta apontada no relatório do ministro foi a redução da vazão do Rio São Francisco e afluentes por conta de processos de erosão.

O ministro, que também relatou – e votou por rejeitar – as contas de 2014 da gestão da presidente afastada Dilma Rousseff, vê uma equipe mais “coesa” com Temer no Planalto, e pediu “humildade” para os próximos meses.

– Pelo menos vemos que é uma equipe mais coesa. A gente viu lá (no Planalto). Todo mundo falou, acho que isso foi importante. Não ficou um só falando. O maior problema é a falta de integração. Nenhum ministro pode se achar dono do seu ministério e achar que vai conseguir fazer sozinho. Tem que ter humildade, e capacidade de trabalhar em conjunto – afirmou Nardes, para quem o “grande gargalo” da administração petista foi a falta de um “centro de governo”, com integração.