Cotidiano

Política falida requer ações inovadoras de consórcios

Não fossem boa vontade e dedicação dos profissionais, pouco seria feito caso houvesse total dependência da União

Toledo – A precariedade da saúde pública brasileira põe em xeque atendimentos essenciais. Com recursos escassos para investir em atenção primária, dificilmente dá-se atenção a outras esferas, como é o caso das demandas relacionadas aos dependentes químicos. Não fossem boa vontade e dedicação dos profissionais, pouco seria feito caso houvesse total dependência da União.

Parcerias com estados e municípios, por meio de consórcios, renovam as esperanças de quem precisa de ajuda. No Oeste, as unidades do SIM-PR (Serviço Integrado de Saúde Mental) do Ciscopar (Consórcio Intermunicipal de Saúde Costa Oeste), que abrange os municípios da 20ª Regional de Saúde de Toledo, e de Cascavel, que engloba 25 cidades da 10ª Regional de Saúde, são exemplos que deram certo e precisam ser lembrados no Dia Internacional de Combate às Drogas, lembrado neste domingo.

Levantamento apontou que durante todo o ano passado 4.141 atendimentos foram realizados na região. Pelo CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) AD III de Cascavel foram executados 846 atendimentos no ano passado, 196 acolhimentos noturnos por até 15 dias e 98 acolhimentos num período de seis meses. De janeiro a maio deste ano, 452 pacientes já foram atendidos, e a partir de abril, quando os acolhimentos iniciaram, 65 pessoas buscaram os acolhimentos noturnos durante 15 dias, e 25 durante seis meses. 

A estrutura na região, segundo o coordenador do SIM-PR em Toledo, Tiago Murilo Correia Neves, é suficiente para atender a atual demanda, mas existem pontos que precisam ser avançados. Um deles é o conceito de redução de danos, ação que prevê a diminuição do uso de entorpecentes e não seu corte imediato. “A política de combate às drogas no Brasil é falida, o que nos faz seguir por outros caminhos. O encontrado, e que tem dado certo, é o de redução de danos, em que o tratamento consiste na diminuição do uso de drogas, até que o usuário consiga parar definitivamente”, diz Tiago.  

Aumento de 142%

Dados da unidade do SIM-PR em Toledo registraram volume ainda maior de atendimentos. Segundo Tiago, houve acréscimo de 142% no número de pacientes que procuraram ajuda em comparação aos 12 meses de 2014.  Em um ano, os atendimentos passaram de 1.240 para 3.001, envolvendo atendimentos psiquiátricos, médicos, psicológicos, acolhimentos por até 15 dias, enfermagem e serviço social. “Cerca de 80% dos pacientes que buscam ajuda são homens, na faixa dos 40 anos, e a maioria deles tem problemas com o álcool”, relata Tiago. A procura bem acima da média ocorreu, segundo Neves, pela formatação do serviço, que proporciona tratamentos individuais. “Antigamente, eles [os pacientes] eram forçados pela família a serem internados. Hoje, são eles mesmos que procuram a gente, e querem se tratar, o que impõe uma questão de responsabilidade ao paciente”.

Na escola

O secretário Antidrogas de Cascavel, Eugênio Rozetti Filho, destaca a importância da prevenção às drogas nas escolas. “Em razão da orientação muitas pessoas deixam ou evitam o uso de drogas. Logo da criação da Secretaria, em 2011, nosso maior problema era com o crack. Hoje, estamos lutando pesado contra o álcool. Levar esses assuntos para a sala de aula é extremamente importante, pois podemos prevenir que muitas crianças e adolescentes passem por esse caminho”, diz Eugênio.

Retrato do crack

Estudo da CNM (Confederação Nacional dos Municípios) de 2014 identifica a presença do crack nas cidades e zonas rurais, um retrato de como a droga afeta os municípios. No Brasil, 1.153 cidades possuem graves problemas com o entorpecente, considerado de nível alto pela Confederação. A maioria dos municípios brasileiros – 2.096 no total – se classificam no nível médio de problemas relacionados ao crack. O restante divide-se em baixo (1.194), sem resposta (950) e sem problemas (253).

No Paraná, dos 399 municípios 92 estão entre os que apresentam os maiores riscos. A maioria dos municípios paranaenses se encaixam no nível médio, totalizando 192 cidades, 89 no nível médio, além de 38 sem resposta e 16 sem problemas.