Cotidiano

Polícia Civil prende 8 líderes do MST

A lista de acusações é grande: furto e dano qualificado, roubo, invasão, incêndio criminoso, cárcere privado, lesão corporal e porte ilegal de arma

Quedas – A Polícia Civil do Paraná realizou ontem a Operação Castra para prender 14 pessoas de uma organização criminosa suspeita de furto e dano qualificado, roubo, invasão de propriedade, incêndio criminoso, cárcere privado, lesão corporal, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e irrestrito e constrangimento ilegal. Até o fim da tarde ontem, oito haviam sido presos – os outros são considerados foragidos. Os alvos da operação são integrantes do Movimento Sem-Terra, entre eles um vereador eleito em 2016 (Claudelei Torrente de Lima, o Cachorro), e um dirigente nacional do movimento.

A operação aconteceu em Quedas do Iguaçu, Francisco Beltrão e Laranjeiras do Sul, todas no interior do Paraná – há mandados a sem-terra de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Foram cumpridos oito de 14 mandados de prisão preventiva, 10 de busca e apreensão e dois de condução coercitiva – quando a pessoa é levada para prestar depoimento na delegacia.

Cerca de 70 policiais civis participam da Operação Castra. Foram destacados policiais das delegacias de Cascavel, Francisco Beltrão e Laranjeiras do Sul, além de homens da Divisão Estadual de Narcóticos de Cascavel (Denarc), do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), do Tático Integrado Grupos de Repressão Especial (Tigre) e do Grupamento de Operações Aéreas.

A investigação começou em março de 2016, por policiais da Delegacia de Cascavel, após a invasão da Fazenda Dona Hilda, em Quedas do Iguaçu, quando empregados da propriedade foram mantidos em cárcere privado por horas e sob a mira de armas de fogo. O dono da terra disse à polícia que após a invasão sumiram cerca de 1,3 mil cabeças de gado e que teve um prejuízo estimado em R$ 5 milhões, referentes aos danos à propriedade rural.

Os bois eram transportados com documentação irregular e a investigação apontou que uma parte destes animais foi vendida pelos integrantes do MST. Os alvos desta ação policial também cobravam uma taxa em dinheiro de até R$ 35 mil, ou sacas de grão, para autorizar que os donos fizessem a colheita da própria plantação.

Acic apoia operação e direito à propriedade

A Acic se manifesta oficialmente sobre a prisão de líderes sem-terra na manhã de ontem. O documento foi encaminhado pela entidade ao governo estadual, à Secretaria de Segurança Pública e à Polícia:

Prezado Senhor:

“Durante muitos anos, o MST e seus líderes foram praticamente inatingíveis pelas leis e pelas forças policiais. Um movimento clandestino e que se pauta na desordem teve suas ações acobertadas por muitos anos por um governo movido por ideologias que jamais foram compactuadas pela maioria dos brasileiros.

Por historicamente defender o trabalho, a legalidade e o respeito à Constituição, a Acic se manifesta a favor da operação de forças policiais que, na manhã desta sexta-feira, prendeu líderes do MST em várias regiões do Brasil, principalmente em Quedas do Iguaçu, no Sudoeste do Paraná. Em Quedas está um dos maiores e mais destemidos focos do Movimento Sem-Terra, que há anos e à sombra da lei trazem sofrimento e desesperança a empreendedores, a trabalhadores e às suas famílias.

A construção de um novo País, no qual todos respeitem e dediquem obediência às leis, passa pelo rigoroso cumprimento de medidas nas esferas judicial e policial. A Acic é a favor do direito à propriedade e da segurança jurídica, condições fundamentais para a paz no campo. Sociedade e entidades não toleram a violência, a omissão, o furto, a depredação e toda forma de excessos que há tanto o MST e seus líderes praticam, atos infelizmente tão comuns e repetidamente mostrados pela imprensa nos últimos anos”.

Cordialmente, Associação Comercial e Industrial de Cascavel

MST diz ser vítima de perseguição

Curitiba – O MST também se manifestou sobre a operação de ontem. Acompanhe trechos do documento: “Mais uma vez o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra é vítima da criminalização por parte do aparato repressor do Estado Paranaense. A ação violenta batizada de Castra aconteceu na nessa sexta-feira (4/11/2016), no Paraná, em Quedas do Iguaçu; Francisco Beltrão e Laranjeiras do Sul; também em São Paulo e Mato Grosso do Sul.

O objetivo da operação é prender e criminalizar as lideranças dos Acampamentos Dom Tomás Balduíno e Herdeiros da Luta pela Terra, militantes assentados da região central do Paraná. Até o momento foram presos seis lideranças e estão à caça de outros sob diversas acusações, inclusive organização criminosa.

Desde maio de 2014 aproximadamente três mil famílias acampadas ocupam áreas griladas pela empresa Araupel. Essas áreas foram griladas e por isso declaradas pela Justiça Federal terras públicas, pertencentes à União que devem ser destinadas para a Reforma Agrária. Lembramos que essa ação faz parte da continuidade do processo histórico de perseguição e violência que o MST vem sofrendo em vários estados e no Paraná. No dia 7 de abril de 2016, nas terras griladas pela Araupel, as famílias organizadas no Acampamento Dom Tomas Balduíno foram vítimas de uma emboscada realizada pela Policia Militar e por seguranças contratados pela Araupel.