Cotidiano

'Poliafetivos não têm direito de família', diz advogada contrária às uniões

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RIO – Presidente da Associação de Direito de Família e das Sucessões (ADFAS), Regina Beatriz Tavares da Silva está numa cruzada contra as uniões civis poliafetivas registradas em cartórios. Foi depois de uma representação judicial feita pela entidade que o Conselho Nacional de Justiça pediu aos cartórios do país para não sacramentarem novas uniões com mais de duas pessoas até que haja uma regulamentação sobre o tema. Nesta entrevista ao GLOBO, Regina usa palavras como “inconstitucionais”, “fora do ordenamento legal” e “desrepeito” para se referir a esse tipo de arranjo familiar.

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Por que a entidade entrou com essa representação contra os casais poliafetivos?

REGINA BEATRIZ: A nossa intenção é cumprir os objetivos da associação, cumprir o ordenamento legal, a Constituição, que, no seu artigo 226, parágrafo 3º, define união estável como sendo entre duas pessoas. Prevê que as uniões são apenas entre duas pessoas. Esse tipo de escritura é inconstitucional. Um tabelionato de notas não pode praticar um ato inconstitucional, violar a constituição federal.

Mas o que a tabeliã estaria fazendo de errado?

REGINA: O tabelionato cumpre a lei, ele não faz a lei. Essas escrituras qualificam esse tipo de relações como estáveis, contrariando o que diz a Constituição. Não são estáveis, são poligâmicas.

Os advogados que representam os poliafetivos afirma que as escrituras são declaratórias, apenas registrando o que já existe…

REGINA: Estão dizendo que são apenas declaratórias, não encaixa no ordenamento legal. Esse tipo de união, poliafetiva, não tem direitos de família e a sucessões. Elas dizem que os três, esse chamado trisal, têm dever e direitos de lealdade, fidelidade, assistência, presunção de partilha de patrimônio entre os membros, e ainda atribuindo direitos sucessórios a essas três pessoas. No entanto, essas pessoas não têm esses direitos, é um engodo, estão fazendo pessoas incidirem em erro, saem de lá achando que têm esse direito, quando não têm. Acham que a lei vale pra elas, quando não vale.

A senhora está dizendo que é má-fé dos envolvidos?

REGINA: Não posso afirmar que seria má-fé, mas é um grave equívoco, é desrespeitar a constituição, é desvirtuar a função do tabelionato que não é de fazer uma lei, é cumprir a lei.

Mas e os argumentos dos defensores do poliamor, de que a lei permite?

REGINA: Estão distorcendo uma decisão do STF, que, no acordão sobre as uniões homoafetivas, teria reconhecido as poliafetivas. Esse fundamento é errado. O STF é claro, o acordão diz que as uniões do mesmo sexo são uniões de família, estáveis, se são monogâmicas. Elas devem ser monogâmicas, está escrito. Acho esse argumento um desrespeito às uniões do mesmo sexo. Estão querendo fazer confusão, incluir uma promiscuidade nas uniões do mesmo sexo que não há, é um desrespeito com os gays e lésbicas.

Além do ordenamento legal, que outras razões levam a entidade a ser contra a união civil poliafetiva?

REGINA: Há estudos do Canadá e dos EUA mostrando que, nos países que adotam a poligamia, na África e na Ásia, há maior índice de violência doméstica, abusos sexuais, estupros, criminalidade e até o pior desenvolvimento das crianças, já que a família não dá a devida atenção às crianças, numa desigualdade imensa entre homens e mulheres. Os países de Índice de desenvolvimento humano mais alto são os que aderem à monogamia. Vi numa das escrituras que num dos trisais o homem fica com a administração de todos os bens e as mulheres ficam submissas, isso é um retrocesso.