Cotidiano

Planta nativa do Brasil pode desarmar bactérias resistentes a antibióticos

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RIO ? A aroeira-vermelha é usada há séculos por comunidades da Amazônia para tratar infecções, mas só agora pesquisadores descobriram que a planta possui um extrato com poder para desarmar bactérias resistentes a antibióticos. O estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade Emory, na Geórgia, EUA, mostrou que um composto refinado, extraído dos seus pequenos frutos vermelhos, inibe a formação de lesões de pele em camundongos infectados com a Staphylococcus aureus resistente à meticilina (SARM), umas das principais causadoras de infecções hospitalares.

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? Curandeiros tradicionais na Amazônia usam a aroeira-vermelha há séculos para tratar infecções na pele e em tecidos moles ? disse Cassandra Quave, professora assistente no Departamento de Dermatologia da Escola de Medicina da Universidade Emory e autora da pesquisa publicada nesta sexta-feira na ?Scientific Reports?. ? Nós separamos os ingredientes químicos dos frutos e os testamos sistematicamente contra bactérias que provocam doenças para descobrir o mecanismo medicinal desta planta.

O que chamou a atenção dos pesquisadores é que o composto não é capaz de matar as bactérias, mas reprime um gene que permite às células da bactéria de se comunicarem uma com as outras. Esse bloqueio na comunicações previne que as células de tomarem uma ação coletiva, um mecanismo conhecido como ?percepção de quórum?, e provocarem infecções.

? Essencialmente, o composto desarma a bactéria SARM, prevenindo que ela excrete toxinas usadas como arma para danificar tecidos ? explicou Cassandra. ? Então, o sistema imunológico tem uma chance melhor para curar uma ferida.

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A descoberta tem potencial para a descoberta de novas formas de tratar e prevenir infecções provocadas por micróbios resistentes a antibióticos, uma problema internacional crescente. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), todos os países do mundo já sofrem com o problema. Ainda não existem dados globais sobre a situação, mas apenas nos EUA as bactérias resistentes a antibióticos afetam 2 milhões de pacientes por ano, provocando 23 mil mortes.

Para combater os micro-organismos resistentes a antibióticos, muitos laboratórios estudam a criação de drogas ainda mais poderosas. Entretanto, essa ?corrida armamentista? pode não ter fim, pois as bactérias mais fortes, que sobreviverem a esses medicamentos, passarão seus genes adiante. O extrato da aroeira-vermelha atua de forma diferente: apenas desarma a bactéria sem matá-la. E os pesquisadores também notaram que o composto não afetaram a pele da cobaia, nem as bactérias normais, saudáveis, que habitam o tecido.

? Em alguns casos, é preciso atacar fortemente com antibióticos para tratar um paciente ? disse Cassandra. ? Mas em vez de sempre definir uma bomba para matar uma infecção, existem situações em que usar um método antivirulento seja igualmente eficaz.