Cotidiano

Pivô de escândalo, mulher de Fillon recebeu dinheiro do Parlamento francês

FRANCE-ELECTION_FILLON-GCV33VPUA.1.jpgPARIS – A menos de três meses para a eleição presidencial francesa, o candidato da direita François Fillon, mergulhado em um escândalo de emprego fantasma de sua família, tenta relançar sua campanha, mas enfrenta novas revelações. O jornal “Le Canard Enchaîné”, responsável pelas primeiras revelações do “Penelopegate” há duas semanas, publicará novos elementos do caso em sua edição de quarta-feira. Segundo o veículo, a esposa do ex-primeiro-ministro, Penelope, recebeu em 2002 16.000 euros em indenizações ligadas a uma licença e, em 2013, 29.000 euros em prêmios pagos pela Assembleia Nacional.

No total, Penelope teria cobrado mais de 800 mil euros como assistente parlamentar. “Na época, a lei não previa um tal nível de indenizações por licença a um assistente parlamentar”, assegura o jornal. Além dela, dois filhos de Fillon cobraram 100 mil euros como assessores parlamentares quando ainda eram estudantes, revelou o diário. fillon

A nova revelação surge em meio a uma tentativa de contra-ataque do candidato. Após duas semanas de turbulência que o fez perder o favoritismo na corrida presidencial, François Fillon realizou esta manhã uma reunião com parlamentares, antes de viajar ao nordeste da França.

“Não há plano B”, mas “apenas um plano A de Ataque”, disse ele a seus colegas aparentemente desorientados com a aproximação da eleição presidencial de 23 de abril e 7 de maio.

Ele deve continuar sua ofensiva com a publicação de uma “Carta aos franceses” na quarta-feira.

Na segunda-feira, o candidato defendeu a “legalidade” de ter empregado Penelope e dois de seus filhos durante uma coletiva de imprensa transmitida ao vivo e acompanhada por mais de 2 milhões de espectadores e internautas.

Mas também reconheceu que tais práticas chocavam a opinião pública atual e, pela primeira vez, apresentou suas “desculpas” pela contratação de membros da família como assistentes parlamentares.

Até então favorito nas pesquisas, Fillon afundou nas intenções de voto após o escândalo. Uma pesquisa da OpinionWay divulgada nesta terça-feira aponta o candidato conservador em terceiro lugar com 20%, atrás da líder da extrema-direita Marine Le Pen (25%) e do centrista Emmanuel Macron (23%), o que o tiraria do segundo turno.

ACUSAÇÃO DE PERSEGUIÇÃO

A Justiça francesa lançou uma investigação para determinar a natureza do trabalho que desempenharam. De acordo com o Canard Enchaîné, os investigadores ainda não encontraram qualquer evidência do trabalho de Penelope Fillon.

Fillon tem questionado a validade da investigação, dizendo que viola o princípio de separação de poderes entre o Judiciário e o Legislativo.

Em um desmentido divulgado nesta terça-feira, o candidato conservador acusou o semanário Canard Enchainé de publicar “mentiras”, pois as novas cifras teriam sido declaradas pertinentemente.

Enquanto seu próprio campo começa a temer a perspectiva de uma eliminação logo no primeiro turno, seus aliados mais próximos o defenderam após a coletiva de imprensa.

“Relançamos a campanha”, assegurou Christian Jacob, líder dos deputados do seu partido, Os Republicanos. Ele “provou que é realmente o chefe” e “que não há um plano B”, disse Bruno Retailleau, seu coordenador da campanha.

Mas há dias, seu próprio campo discute um candidato alternativo, como o ex-primeiro-ministro Alain Juppé, que, no entanto, garantiu que não entraria na briga.

De acordo com uma pesquisa publicada nesta terça-feira, dois terços dos franceses (65%) não estão convencidos das explicações do candidato, e um pouco mais de um terço (35%) estima que ele deve manter a candidatura.

“A questão não é saber se os políticas estão convencidos, e sim os franceses”, diz Nathalie Kosciusko-Morizet, deputada e candidata na primária da direita em novembro.