Cotidiano

Pipoca no cinema será vítima da disputa de Trump com o México

NOVA YORK – Já que o governo do presidente americano se prepara para renegociar o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês), o chefe da maior rede de cinemas do México alerta que o fim do pacto comercial pode convencê-lo a comprar pipoca da Argentina ao invés dos Estados Unidos.

A Cinepolis de México, a quarta maior cadeia de cinemas do mundo, compra cerca de US$ 10 milhões por em grãos de milho americano de fazendeiros nos estados do Kansas, Missouri e Iowa, segundo o diretor-executivo Alejandro Ramirez. Ele disse que a companhia já avalia o fornecimento de milho da Argentina, após a vitória de Trump derrubar a cotação do peso mexicano frente ao dólar a níveis mínimos. Por enquanto, os Estados Unidos ainda vencem. Mas um imposto de apenas 2% poderia reequilibrar a balança, afirmou.

? Importamos todo nosso milho para as salas de cinema dos Estados Unidos graças ao fato de que há o livre comércio. Se não for esse o caso, se voltarmos a tarifas a níveis pré-Nafta, então seria mais barato trazer da Argentina.

Enquanto montadora de veículos como a General Motors e a Toyota Motor foram as principais afetadas pelo movimento de Trump sobre o Nafta, a Cinepolis mostra como exportações-chave americanas que não são ligadas à indústria poderiam se tornar danos colaterais. Ramirez, que administra uma câmara de negócios que inlcui as principais companhias multinacionais do país, afirmou que seu grupo está trabalhando com parceiros econômicos nos Estados Unidos para instruir políticos sobre o valor da integração econômica.

? Muitos das cadeias de valor são complexas, e ninguém realmente disse isso às pessoas ? apontou Ramirez. ? Nós todos precisamos trabalhar mais para informar. No passado, não era necessário porque nunca pensamos que o livre comércido seria colocado em risco.

Essa visão mudou com a eleição de Trump, que prometeu acabar ou renegociar o Nafta, que descreveu como ?o pior acordo comercial? da história dos EUA e um desastre para trabalhadores americanos. O México começou esta semana 90 dias de consultoria entre o governo e o setor privado para preparar as negociações que devem começar em maio. O presidente Enrique Peña Nieto e autoridades de alto escalão disseram que manter a região norte-americana como uma zona de tarifa zero é uma meta-chave.

Apesar de as compras da Cinepolis são apenas uma gota no oceano nos mais de US$ 2 bilhões em milho que os Estados Unidos exporta ao México anualmente, a ação de Ramirez mostra o alcance do possível impacto caso outros compradores sigam o exemplo.

O diretor-executivo disse que a conta anual total da sua companhia no México de bens americanos é de cerca de US$ 40 milhões. Isso inlcui telas, projetores, e US$ 6,5 milhões de queijo do estado de Wisconsin para cobrir os tradicionais nachos. No geral, a empresa tem cerca de 3,2 mil salas de cinema no México, e mais 1,7 mil pela América Latina, EUA, Espanha e Índia.

Enquanto a Cinépolis investiu cerca de US$ 140 milhões nos Estados Unidos, o México ? onde a companhia tem participação de mercado de 68% ? permanece seu maior mercado por muito. No país, cerca de 90% dos filmes exibidos nas salas da Cinépolis vêm dos Estados Unidos, disse Ramirez.

? Somos um dos maiores clientes de Hollywood ? afirmou.

Ramirez duvida que muitos americanos sejam familiares ao conceito de integração de cadeia de fornecimento, que gera a cada dólar de exportação mexicana um valor estimado de US$ 0,40 de conteúdo americano, segundo documento de 2010 do Escritório Nacional de Pesquisa Econômica. E fazendeiros americanos podem não saber quando seus produtos acabam no México, acrescentou. Espalhar essa mensagem, acredita Ramirez, é a missão de seu grupo, que trabalha com a Câmara de Comércio dos Estados Unidos e a Business Roundtable, um dos grupos empresariais mais influentes no mundo corporativo.

? Há coisas que podemos acha que não são um jogo de soma zero, mas uma solução ganho-ganho ? defende Ramirez. ? Um carro que foi montado no México, você não pode realmente dizer que é um carro mexiano. É realmente um carro norte-americano. Esse acordo de comércio livre tem sido crítico para a competitividade da região norte-americana como um todo.