RIO – As ações da Petrobras operam em alta nesta quarta-feira, com valorização de 0,45% nos papéis ON (ordinárias, com direito a voto), a R$ 15,12, e os PN (preferenciais, sem direito) ganhando 0,37%, a R$ 13,55, com o mercado otimista com o alinhamento de preços ao mercado internacional. No curtíssimo prazo, reduziria a lucratividade da companhia, mas também representaria alta quando as cotações subirem.
Sobretudo, os olhares se voltam para a sinalização de que a estatal, enfim, sairá da sombra do governo e ficará mais transparente e previsível.
? Se realmente o corte vier acompanhado de uma política de preços que siga as cotações internacionais, o que há muito é aguardado pelo mercado, seria uma notícia positiva, evidenciando maior transparência na gestão ? diz Bruno Piagentini Caolini, da Coinvalores, que, após o anúncio dos novos planos da Petrobras, nesta terça-feira, está recalculando, para cima, o preço-alvo para os papéis da companhia.? Mas, se for apenas corte de preços, é só mais uma medida populista, o que é ruim.
Para a equipe da corretora Coinvalores, a hipótese do realinhamento é a que mais ganha corpo, tendo em vista os anúncios feitos juntos com a divulgação do novo plano de negócios. ?A estatal informou que pretende adotar a mesma dinâmica de parcerias no segmento de refino que tem sido adotada em outras áreas, visando sua desalavancagem ? redução da relação de endividamento com patrimônio?, frisaram os analistas, em relatório.
Paulo Figueiredo, diretor de operações da FN Capital, reforça o coro dos que celebram a indicação do fim do intervencionismo.
? Devemos atentar que a gestão da Petrobras mudou e, por mais que ela seja uma empresa com controle estatal, a nova diretoria sinaliza uma gestão mais profissional e mais alinhada com os interesses da empresa e não do governo.
AO SABOR DO MERCADO
A metodologia de preços, com alinhamento ao mercado internacional, pode levar a altas de preços quando a cotação subir, lembra Phillip Soares, analista da Ativa Investimentos, para quem a notícia é positiva, pois ?ao estabelecer uma regra ao invés de atribuir o preço à uma decisão da diretoria (que no passado foi fortemente influenciada por fatores políticos), a companhia se blinda de influências políticas e se torna mais independente e mais inserida em um contexto de mercado?.
? A companhia pretende instaurar uma regra clara que pré-determine quanto será o preço do combustível, baseado nas cotações internacionais de mercado. Isto hoje representa uma queda, porque o preço interno está maior do que o praticado lá fora, mas em um evento de alta do petróleo, a regra iria atribuir um preço maior ao combustível, beneficiando seu caixa ? diz Soares. ? Evidentemente que hoje isto representaria uma queda na lucratividade da companhia, mas a nível institucional a notícia é boa.
Estrategista-chefe da XP, Celson Plácido também vê na perspectiva de corte de preços uma notícia ?levemente negativa?, por ora, mas que também tem, como traço positivo, a indicação de que o governo não está mais intervindo na companhia.
? Vale afirmar que se a empresa anunciar uma metodologia de preços de combustíveis, retira o viés intervencionista. Seguimos recomendado exposição ao ativo.
Alvaro Bandeira, economista-chefe do Home Broker Modalmais, destaca que há dúvida se a redução de fato se confirmará ainda neste ano.
? Pedro Parente, presidente da companhia, não falou explicitamente sobre isso ? diz. ? Acho que agora não vão reduzir preços, cobrindo parte das perdas anteriores da política caótica, num momento crítico de recuperação da companhia.
Soares, da Ativa, faz a mesma ressalva:
? O tom da diretoria no conference call de ontem era um pouco mais de médio prazo, pode demorar alguns meses para que esta regra seja definida e implementada, então é provável que os resultados deste ano ainda não sejam afetados.
De qualquer forma, não deve haver grande efeito sobre a demanda, avalia Alvaro Bandeira, para quem o maior efeito seria sobre redução da pressão inflacionária, ajudando na queda dos juros. Os analistas da Ativa também veem pouca correlação entre preços e demanda:
? Na nossa visão uma queda das vendas passa por uma situação macro de redução da demanda, onde a política de preços não teve muita interferência.
ESTRANGEIROS ANIMADOS
Ontem, após a divulgação do novo plano, as ações da companhia subiram mais de 3%, com a valorização reforçada por compras feitas por bancos estrangeiros.
? Havia expectativa de redução da produção, com o corte de investimentos. Porém, a companhia manteve o nível projetado, se apoiando num projeto de otimização ? diz Caolini.
A paciência do mercado pode durar até o fim deste ano, pois foi para este prazo que a companhia se comprometeu a entregar o desinvestimento na ordem de US$ 15 bilhões.
? A questão é se conseguirá ? completa o analista.