Cotidiano

Peter Kronstrøm, pesquisador: 'O futuro de hoje não é o mesmo de ontem'

“Tenho 39 anos e faço análises de tendências para ajudar governos, instituições e empresas a se prepararem para o futuro. Ao conhecer muitos latino-americanos num intercâmbio, criei o sonho de vir para cá. Fiz MBA na Argentina, casei-me com um brasileiro e há quatro anos moro em São Paulo.”

Conte algo que não sei.

Nossas pesquisas apontam que uma das grandes mudanças de padrão na sociedade é a estrutura familiar. Hoje, na Suécia, 46% das casas são de solteiros. E, fora do Hemisfério Norte, a taxa de casas de pessoas solteiras que crescem mais rapidamente é a do Brasil. Temos que nos preparar para essa nova dinâmica social.

Uma sociedade mais individualista ou com mais liberdade de escolha?

Os dois. Uma das maiores tendências que percebemos é a individualização, ao mesmo passo que cada vez temos mais liberdade para sermos as nossas escolhas. Não precisamos mais seguir o mesmo padrão de nossos pais. A maior participação da mulher na sociedade, como mais liberdade financeira e independência, também faz aumentar esse fenômeno.

Qual o futuro do mercado de mídia?

Estamos em um marco zero, onde tudo pode acontecer. Começamos a viver uma reformulação do mercado. Tudo que conhecíamos anteriormente está sendo provocado, está se rompendo, principalmente pela mobilidade e pela popularização dos smartphones. Estamos vendo uma convergência entre as mídias. Existe hoje uma guerra de mindspace, que nada mais é do que o tempo, a atenção que o consumidor dedica àquela mídia. Estamos também vendo a chegada de assistentes virtuais. A inteligência artificial vai ser cada vez mais a nossa interface principal. Daqui a pouco, um assistente pessoal estará totalmente programado para atender a nossos desejos de informação.

Isso não pode gerar bolhas virtuais?

O problema é exatamente esse. O Facebook e o Google apresentam informações a respeito de nossas escolhas antigas. É o que chamamos de ecochamber, uma câmara de eco. Só estamos vendo notícias que acham que queremos saber. Os desenvolvedores dessas interfaces devem criar a opção de sermos apresentados a coisas novas. Porque, se estamos recebendo apenas informações baseadas em nossas escolhas passadas, nunca vamos ser surpreendidos. E inovação é quando somos apresentados a algo que nos surpreende, que nos dá um choque.

Algo que nem sabíamos que precisávamos saber…

Exatamente. Apostamos que os assistentes pessoais vão enfrentar esse problema. As pessoas vão querer sair dessas bolhas e enfrentar a sociedade pós-factual, onde a verdade não é mais primordial, mas sim quem grita mais. Se isso não acontecer, continuaremos olhando só o que conhecemos e com o que já concordamos. Às vezes, precisamos ser provocados para não concordar.

O futuro chega cada vez mais rápido?

O problema é que o futuro de hoje não é o mesmo de ontem. Ele muda todo dia. Olhando os últimos dez anos, vemos o surgimento de tecnologias que revolucionaram nosso modo de vida. É preciso imaginar cenários radicalmente diferentes. Estamos vivendo uma mudança de paradigma da sociedade industrial para a próxima sociedade. Para lidar com essas mudanças, além de ter um bom plano, é essencial aprender a se adaptar, reinventando-se ao longo do processo, característica que o Brasil tem mais do que qualquer outro país do mundo.