Cotidiano

Perguntas e respostas sobre Jorge Luz, alvo da Blackout, 38ª fase da Lava-Jato

Apontado como o “operador dos operadores” dentro da Petrobras, Jorge Luz atua como lobista junto a governos e empresas públicas há mais de 30 anos. Ele não foi encontrado na manhã desta quinta-feira pela Polícia Federal, que não conseguiu cumprir o mandado de prisão.

Quem é Jorge Luz?

Para os investigadores da Lava-Jato, Jorge Luz é um lobista que atua pelo menos desde 1986 nas diretorias Internacional e de Abastecimento da Petrobras e seria uma espécie de mentor do operador Fernando Soares, o Fernando Baiano, ligado ao PMDB. Luz é apontado como o “decano” dos operadores de negócios suspeitos envolvendo a estatal, pioneiro do modelo de relacionamento com fornecedores que ensejou um dos maiores escândalos da história recente do país.

Qual é a ligação dele com a Petrobras?

Registros de reuniões ocorridas na Petrobras, obtidos pelo MPF, mostram Luz ao lado de Fernando Baiano com o ex-diretor da área internacional Nestor Cerveró. A Mercedes-Benz dirigida por Luz ocupava frequentemente, por muitos anos, vaga no estacionamento reservado para diretores. Em operações já descritas na investigação, ele chegou a fechar contrato direto entre uma de suas empresas, a Gea Projetos, com a diretoria de Abastecimento, então gerida por Paulo Roberto Costa, no valor de R$ 5,2 milhões. Em sua delação, Costa disse que só foi mantido diretor, no segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, por intermédio de Luz, a pedido do PMDB.

Como funcionava o esquema de Jorge Luz?

Com bom trânsito entre políticos do PMDB, PT e PP, Luz criava oportunidades de bons negócios para empresas nacionais e multinacionais e, em troca, receberia uma comissão, a ser dividida com parlamentares do esquema. Nos documentos apreendidos pela Polícia Federal (PF) no escritório do ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, Luz e seu filho Bruno aparecem vinculados ao pagamento de propinas em contratos com as empresas Trafigura e Glencore, vendedoras de combustível, e Sargeant. A propina era depositada em contas no exterior em nome de Humberto Mesquita, genro de Costa.

Como era distribuída a propina?

O empresário Milton Schahin, um dos sócios do Grupo Schahin, entregou, em abril do ano passado, ao juiz Sérgio Moro, documentos que comprovariam o pagamento de cerca de US$ 2,5 milhões em propina por exigência de Jorge Luz, apontado como operador de propina do PMDB na Petrobras. O valor, segundo ele, teria sido depositado em contas indicadas por Luz. No início desta semana, Schahin assinou acordo de delação com o MPF, ainda não homologado pela Justiça. Milton afirmou, em depoimento a Moro, ter ouvido de Luz que o dinheiro seria destinado a Nestor Cerveró, Fernando Soares, o Baiano, Edson Musa e Luis Carlos Moreira.

Como era a relação de Jorge Luz com políticos?

Nascido no Pará, Jorge Luz sempre foi próximo ao senador Jader Barbalho, do PMDB. Na delação, Paulo Roberto Costa diz que Luz também é amigo do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. A PF também apurou que Luz e o deputado Vander Loubet (PT-MS) viajaram duas vezes no mesmo avião para Miami, em dezembro de 2010 e em agosto de 2011. Luz, Loubet e o ex-deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) são investigados no mesmo inquérito. Vaccarezza, segundo a PF, teria recebido propina de R$ 400 mil por contrato de importação de asfalto entre a Petrobras e a empresa norte-americana Sargeant Marine, fechado por intermédio de Luz. Loubet, segundo a Procuradoria-Geral da República, atuava em conjunto com Vaccarezza no esquema. Paulo Roberto Costa disse à Justiça que chegou a participar de reunião na casa de Luz, na Barra, com Vaccarezza e Loubet, ?em 2009 ou 2010?, para tratar de repasse à campanha do ex-deputado.

De onde veio Jorge Luz?

Filho de um comandante da Marinha nascido na região de Bragança (PA) e que mantinha relações com políticos paraenses, Luz veio para o Rio ainda jovem e recebeu formação militar. Na década de 80, quando não prezava pela discrição, costumava desfilar pelas ruas da Barra, no Rio, com uma Ferrari. Nessa época, visitava com frequência o estado natal, onde se dizia braço-direito do então governador Jader Barbalho (PMDB). No final da segunda gestão de Barbalho, no início dos anos 90, quando ele se licenciou para a campanha ao Senado, Luz se mudou para um hotel em Belém de onde, segundos fontes próximas, auxiliava o então vice-governador Carlos Santos (PP-PA).

Jorge Luz atuou em outros negócios?

Segundo os procuradores, parte dos pagamentos de propina a Othon Pinheiro da Silva, presidente licenciado da Eletronuclear, foi lavada pelo operador Jorge Luz e o filho dele, Bruno Luz, por meio da Dema Participações e Empreendimentos. O depósito foi de R$ 276 mil. De acordo com o MPF, entre janeiro de 2008 e agosto de 2015 Othon Silva recebeu R$ 3,438 milhões da Andrade Gutierrez e R$ 1,529 milhão da Engevix a título de propina em contratos de montagem e obras da usina de Angra 3.

Ariadne da Cunha Lima, com quem Luz manteve um relacionamento de quatro anos, no início dos anos 1990, conta que viajou com ele no Brasil e no exterior:

? Na época das privatizações, eu estava com ele na mesa de jantar, ao lado de empresários espanhóis, para tratar da venda das empresas de telefonia. Ganharam tudo o que queriam. Se tem um grande negócio acontecendo, com certeza ele (Luz) estará presente. Tem sido assim, desde a restauração da democracia ? contou Ariadne, que depois viria a se casar com Jair Coelho, empresário conhecido como o ?Rei das Quentinhas?.

Qual era a participação de Bruno Luz, filho de Jorge, no esquema?

Bruno é sócio de Pedro Augusto Henriques, filho do lobista João Augusto R. Henriques, na Partners Air Serviços., do grupo da Fortuna Tec, que distribuía querosene para a BR Distribuidora. A força-tarefa da Lava Jato acredita que Henriques movimentou milhões de dólares em propinas do PMDB. Em sua delação, o lobista contou que conheceu Luz em ?1998/1999? e que manteve ?uma relação social? com ele até 2002.