Cotidiano

Perfil: Shimon Peres, um fervoroso partidário da paz

201609140848192261_AFP.jpgJERUSALÉM – Shimon Peres, o último dos fundadores de Israel e ganhador do Nobel da Paz, era um veterano da política internacional, fervoroso partidário da paz e defensor, até seus últimos dias, do diálogo com os palestinos. Após deixar seu último cargo político, como presidente de Israel, em 2014, tornou-se referência em Israel. Nunca abandonou a cena internacional – mesmo nonagenário, continuou viajando pelo mundo, como orador requisitado em muitos foros mundiais. Nos últimos meses, no entanto, havia sido forçado a reduzir suas viagens.

Peres era particularmente apreciado no exterior. Os ex-presidentes Bill Clinton (dos EUA) e Mikhail Gorbachev (da antiga União Soviética) estiveram presentes na grande festa de seu 80º aniversário. À época, o cineasta Woody Allen lhe enviou uma saudação “de um mal judeu para um bom judeu”. PERES

Presente na cena política desde a criação de Israel, em 1948, Peres mostrou uma resiliência infalível. Forjado pelas derrotas, tinha uma dura disciplina e revelou, em 2012, o segredo de sua longevidade: exercícios diários, uma dieta muito frugal e uma ou duas taças de um bom vinho.

– Todo mundo come três vezes ao dia. Se você comer três vezes, se enche de gordura. Mas se você ler três vezes por dia, torna-se um sábio, e é melhor ser prudente do que cheio de gordura – aconselhou o líder em uma entrevista, afirmando que só dormia 4 ou 5 horas.

Quando se tornou, em 2007, chefe de Estado de Israel, utilizou a função para promover a paz, transformando-se em um dos grandes opositores do primeiro-ministro de direita, Benjamin Netanyahu. Mas a figura histórica do Partido Trabalhista, nem sempre foi um homem de paz. Nascido em Wiszniew, então parte da Polônia, pequena localidade na província de Minsk, chegou 11 anos mais tarde à Palestina. Fez parte da geração de dirigentes que participaram ativamente da criação do Estado de Israel. Considerado um dos falcões da legenda, quando ele era ministro da Defesa, na década de 1970, apoiou a criação dos primeiros assentamentos judaicos na Cisjordânia ocupada. Era primeiro-ministro quando a aviação israelense bombardeou a localidade libanesa de Qana, num ataque que matou 06 civis em 1996.

Apesar disso, Peres conseguiu ser reconhecido como uma pomba da paz, após impulsionar os históricos acordos de Oslo, selados em 1993 com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP).

À época, o premier Isaac Rabin, seu grande rival entre os Trabalhistas, ainda era muito cético sobre a via diplomática para alcançar a paz, e sobre o plano que planejava a criação de um Estado palestino que acabaria com décadas de conflito. Seu papel ativo nas conversações lhe rendeu, em 1994, o prêmio Nobel da Paz, que dividiu com Rabin e Yasser Arafat, então líder da OLP.

Peres rejeitava qualquer compromisso com os países árabes hostis, mas disse que tinha mudado de opinião após a visita histórica do presidente egípcio Anwar Sadat a Jerusalém, em 1977, coroada com o primeiro tratado de paz árabe-israelense. Seus críticos o chamavam então de oportunista.

Ele entrou na política graças ao “velho leão” israelense, David Ben Gurion. Sua carreira é um exemplo de uma infalível tenacidade, que fez com que ele se recuperasse de todos os contratempos e talvez acumulasse o recorde político de derrotas. Vencido na legislativas de 1977, 1981, 1984, 1988 e 1996, cultivou a imagem de “eterno perdedor” que se reerguia depois de cada fracasso. Mesmo assim, passou por quase todos os cargos no governo: foi duas vezes primeiro-ministro e uma vez presidente além de ministro dos Negócios Estrangeiros, da Defesa, da Informação, de Transportes e Integração.

Impulsor da indústria aeronáutica, através de uma cooperação militar com a França na década de 1950, também é considerado como o “pai” do programa nuclear israelense.