Cotidiano

Pediatra da UPA de Madureira de 87 anos diz que não quer parar nunca

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RIO ? Com 87 anos, Dulcídio Barbosa Leite se orgulha da vida pacata que leva. Acorda todos os dias às 6h para a leitura dos jornais, sai para caminhar e fazer compras e ainda ajuda a mulher nos afazeres domésticos. Uma rotina que, embora possa parecer simples, pede disposição e disciplina e o ajuda a cumprir os plantões de 12 horas na pediatria às quintas-feiras na UPA de Madureira, onde trabalha desde a inauguração da unidade.

Médico há 62 anos, ele afirma ?não querer parar nunca” e conta não ter vício algum (?Não fumo e não bebo nada alcoólico?), adotando para si dieta condizente às recomendações que faz aos pacientes de até 12 anos e aos pais deles.

? Bebo seis litros de água por dia e não como carne vermelha há 30 anos. Faço questão de me alimentar bem, comendo massa, peixes, frutas e legumes diariamente. Faço tudo isso porque não quero parar nunca. Dos 247 colegas da minha turma da Faculdade Nacional de Medicina, menos de 70 ainda estão vivos. Eu sou um deles e ainda quero viver muito ? afirma ele.

Tamanha disposição faz com que perca de foco em alguns momentos o tempo que atua na profissão.

? Na correria, não lembro nem a idade que tenho. Só me dou conta quando encontro na rua algum paciente de 50 anos que eu vi nascer. Tem famílias que cheguei a acompanhar três gerações ? relata Leite.

A experiência adquirida permite um olhar criterioso para chegar a um diagnóstico. Por isso, o plantão acaba significando horas de trabalho intenso, já que o pediatra acaba dando pouco tempo à titubeação.

? Nesse período do plantão, chego a receber mais de 50 crianças. Em todos os atendimentos, priorizo a área clínica e o contato com o paciente, examinando a garganta, o pulmão e o abdômen e fazendo a pesagem. A gente examina minuciosamente para saber como melhor encaminhar cada caso ? resume ele, que ressalta que na pediatria, ao contrário de outras áreas de especialização médica, o comum é encontrar médicos acima dos 50 anos.

Filho de um ferroviário com uma dona de casa, ele desde pequeno tomou gosto pela medicina e, garante, nunca pensou em enveredar por um rumo diferente.

? Tive três irmãs, uma delas médica. Mas não fui influenciado por ninguém, mas sempre gostei da medicina e acabou sendo um caminho natural. Amo o que eu faço ? resume ele, que também guarda especial atenção à Madureira.

Nascido no bairro, trabalhou nos primeiros dez anos de carreira na região, da qual ainda foi administrador regional a convite do então deputado Jorge Leite, já falecido.

? E ainda por cima sou portelense ? ressalta.