Cotidiano

Paulo Roberto Costa confirma que filha retirou R$ 50 mil de escritório

SÃO PAULO. O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou que apenas R$ 50 mil foram e uma planilha foram retirados de seu escritório por uma de suas filhas, Arianna Costa Bachmann, no dia 17 de março de 2014, quando a Lava-Jato foi deflagrada. As duas filhas e os dois genros dele respondem na Justiça por embaraço de investigação de organização criminosa. Segundo denúncia do Ministério Público Federal, os quatro haviam retirado diversos documentos e dinheiro, que interessavam como prova. De acordo com imagens gravadas pela câmara de segurança do prédio, Arianna subiu com uma bolsa e desceu com duas sacolas e um notebook. O marido dela, Márcio Lewkowicz, subiu e desceu quatro vezes com mochilas e sacolas.

Costa afirmou que Arianna ajudava no escritório, preenchendo notas fiscais e verificando depósitos, e que o marido dela usava uma sala para seu próprio trabalho. Segundo ele, “foi uma atitude impensada” e que as filhas e genros não sabiam que ele recebia propinas da Petrobras, apenas um deles, Humberto Sampaio Mesquita, “conhecia um pouco”.

No primeiro depoimento prestado sobre os valores que estavam no escritório, Costa afirmou havia 10 mil dólares em dinheiro e R$ 100 mil reais. No novo depoimento prestado nesta sexta-feira ao juiz Sérgio Moro, disse que não sabia ao certo a quantia e que depois soube que tinha apenas R$ 50 mil, que seriam usados em despesas do escritório. Ele não explicou se os US$ 10 mil estavam ou não no escritório e se foram retirados, afirmou apenas que os dólares eram dinheiro lícito por trabalho de consultoria.

– Eu não sabia o valor exato, não ficava contando todo dia – disse Costa.

Arianna afirmou que, quando a Polícia Federal chegou à casa dele, seu pai lhe deu uma chave de um armário e que pediu para pegar o dinheiro.

– Meu pai disse para ir ao escritorio, ele achava que tinha cerca de R$ 50 mil – disse.

Arianna disse que havia levado seu notebook para o escritório. O Ministério Público Federal lembrou que as imagens mostram que ela chegou apenas com uma bolsa. Arianna afirmou que não tinha ideia do que estava acontecendo e que pegou apenas os R$ 50 mil e pertences pessoais, além de folders de empresas. Além do dinheiro, afirmou que a única coisa que pegou relacionada à Lava-Jato foi uma planilha onde estava escrito “Beto”, mas que não sabia o que era.

Ela não soube precisar se o dinheiro estava em notas de R$ 100 ou R$ 50 e se estava dentro de algum saco ou sacola. Perguntada sobre a conta aberta por Costa em nome dela, afirmou:

– Ele só pediu que eu assinasse o papel, que poderia ficar para mim, mas não perguntei a origem nem porque iria abrir lá fora.

Arianna disse ainda que não encontrou com Humberto Mesquita e que chamou sua irmã, Shanni, ao escritório, somente para falar sobre a contratação de um advogado. Ela disse que Lewkowicz não ficou na mesma sala que ela e pegou apenas pertences dele.

Ao fim do depoimento, ela quis ler uma carta que escreveu sobre o pai e chorou. Disse que continua a admirar e se orgulhar do pai, que errou mas se arrependeu e está pagando pelos erros.

– Sempre ajudou as pessoas, os animais, sempre tratou as pessoas de igual para igual independente do cargo que ocupava e isso tudo me orgulha muito – disse.

Além de Arianna, seu marido, Marcio, sua irmã, Shanni Azevedo Costa Bachmann, e o marido de Shanni, Humberto Sampaio de Mesquita também prestaram depoimentos ao juiz Sérgio Moro. Nenhum dos três admitiu ter retirado documentos no escritório da Costa Global, empresa do ex-diretor da Petrobras.

Os dois genros de Paulo Roberto Costa tinham escritórios no mesmo edifício e ambos abriram contas utilizadas pelo ex-diretor. Marcio afirmou ter retirado apenas documentos relacionados a sua empresa, que estavam na empresa de Paulo Roberto Costa enquanto seu escritório estava em obras. Humberto afirmou que preferiu não subir ao escritório.

No entanto, de acordo com investigações da Polícia Federal, Humberto Sampaio Mesquita, marido de Shanni, funcionava como operador financeiro alternativo de Paulo Roberto Costa. Duas contas, uma em Luxemburgo e outra nas Ilhas Cayman, foram abertas em nome de Humberto. Enquanto Youssef trabalhava com recursos de grandes obras e empreiteiras, Mesquita operava valores menores, de fornecedores secundários.

Durante o seu depoimento, Mesquita afirmou que o ?Beto? ao qual se referia a planilha retirada por Arianna do escritório era ele próprio. Por meio de uma das contas offshore, ele recebia os pagamentos e os repassava a Paulo Roberto. Apesar de saber que seu sogro era funcionário público, Mesquita disse não saber que se tratava de pagamentos ilícitos.

– Eu entendi que eram comissões. Tanto essa atividade, quando foi me passado o convite e por isso eu entrei nessa situação, eu não tinha essa noção de ilícito. Eu não sabia como funcionava esse mercado, era uma coisa totalmente nova para mim.

(*Estagiário, sob supervisão de Flávio Freire)