Policial

Patrulhas já acompanham 1,2 mil vítimas de violência

Foz do Iguaçu – Salete é o segundo nome de uma mulher que até pouco tempo queria esquecer sua própria identidade. Mãe de dois filhos, viu o casamento desabar quando o companheiro começou a beber. Primeiro eram as agressões verbais, depois financeiras e não tardou chegaram as físicas. “No começo ele me xingava, depois quando não tinha mais dinheiro para beber passou a ficar com meu salário para gastar com festa e em casa passávamos necessidades. Quando comecei a reclamar vieram as agressões físicas, até que não suporei mais e pedi a separação”, relata a doméstica.

O fim do relacionamento foi conturbado e ela precisou de medida protetiva da Justiça, pois ainda corre riscos devido às constantes ameaças do ex-marido. “Ele passou a me seguir e disse que, se eu não voltasse, ele me mataria e mataria as crianças. Vivo em pânico”, desabafa.

Se por um lado as marcas físicas das agressões já sumiram, as deixadas no campo psicológico dificilmente serão vencidas. “Não me aproximo de mais ninguém porque na minha cabeça qualquer pessoa que eu possa encontrar vai ser como ele. Tenho pesadelos, desenvolvi síndrome do pânico. É isso o que acontece com uma pessoa vítima da violência. A sensação que dá é que a vida acabou”, revela.

Assim como Salete, há um grande e crescente número de mulheres que tomaram coragem e deram um basta na violência doméstica e familiar, mas a estimativa é de que o número daquelas que ainda sofrem caladas é bastante elevado. “Não podemos precisar se são as agressões que estão aumentando ou se são as mulheres que têm mais coragem para denunciar”, admite a psicóloga Cristine Bolzan Cogo.

Início

A psicóloga atua hoje na Patrulha Maria da Penha em Toledo. Essas patrulhas estão sendo criadas justamente para garantir um alento às pessoas vítimas de agressão e ameaças intrafamiliar.

Por enquanto, apenas três municípios do oeste implantaram as Patrulhas: Foz do Iguaçu, Toledo e Cascavel.

Elas são compostas por um psicólogo, um assistente social e geralmente dois guardas municipais. Assim que a vítima for inserida ao programa e receber a medida protetiva, a equipe é notificada, faz uma visita residencial e se coloca à disposição como uma aliada no combate à violência doméstica. Pelo menos uma vez por mês os guardas municipais fazem visitas surpresas às vítimas para saber se os agressores estão cumprindo com a distância regulamentar e, principalmente, diagnosticar se o agressor não oferece riscos à integridade física e psicológica.

Em ação

Dos três municípios do oeste onde as patrulhas já foram implantadas, apenas em dois elas estão ativas e nas ruas. Em Toledo, segundo a psicóloga Cristine Bolzan Cogo, hoje há 217 medidas protetivas acompanhadas de perto, número que não para de aumentar.

Mas o município que mais chama a atenção é Foz do Iguaçu. Segundo a Guarda Municipal local, são cerca de mil medidas protetivas, a maioria a mulheres vítimas de violência – de todas as espécies – pelos então companheiros. Isso significa que, em apenas duas cidades, são 1,2 mil acompanhamentos com uma média de visitação diária de 40 pessoas. Em Foz, a patrulha vai a pelo menos 30 residências por dia.

Já em Cascavel a Patrulha ainda espera para andar. Segundo o coordenador da Guarda Municipal, coronel Avelino José Novakoski, ela foi implantada oficialmente em dezembro de 2017, mas devido ao recesso do Judiciário, iniciado em 19 de dezembro e que se encerra nesta semana, os trabalhos nas ruas ainda não começaram. “Mas acredito que ainda neste mês de janeiro, mais tardar início de fevereiro, começaremos os atendimentos, pois teremos em mãos as medidas protetivas a serem acompanhadas”, revela.

A violência que não para

Criada em agosto de 2016, a Patrulha Maria da Penha em Toledo recebe mais serviço a cada mês. “A Patrulha é uma ponte entre as vitimas e o Judiciário. Os documentos oficiais chegam à Secretaria de Políticas para as Mulheres para os encaminhamentos e os atendimentos feitos então pela Patrulha Maria da Penha”, explica a psicóloga Cristine Bolzan Cogo.

Segundo ela, a média mensal de medidas protetivas passou de 28 para 50 ao longo de 2017.

E a Patrulha Maria da Penha não acompanha apenas mulheres vítimas de violência conjugal. Os registros são menores entre outros agressores, mas há casos de violência entre pais e filhos e parentes próximos que vivem debaixo do mesmo teto. “Pode ser uma mãe que tenha sofrido ameaça de um filho, o pai que tenha sido vítima de violência. Ela envolve qualquer situação de vulnerabilidade com a relação à vida intrafamiliar”, reitera a psicóloga.

Como denunciar?

Se você é vítima de violência doméstica e familiar procure a Delegacia de Polícia mais próxima. Se a violência é praticada pelo companheiro e na sua cidade existir Delegacia da Mulher, o boletim de ocorrência deverá ser registrado ali. Para obter a medida protetiva é preciso representar contra o agressor. O boletim de ocorrência seguirá para o Poder Judiciário, que terá até 48 horas para deferir ou não a medida, que estabelece distância mínima que o agressor deve manter da vítima. Em caso de descumprimento, o agressor pode ser preso e, neste caso, quem faz a prisão é a Polícia Militar.

Se você conhece alguém vítima de violência doméstica também pode denunciar anonimamente pelo telefone 180.