O tabaco contém mais de sete mil substâncias químicas e mais de cem delas são classificadas como tóxicas e carcinogênicas. Não é à toa que o cigarro interfere no paladar e olfato dos fumantes. As papilas gustativas, situadas na língua, exercem um papel fundamental na identificação dos sabores, do gosto e da temperatura dos alimentos, dentre outras funções. [1]
No tabagismo há uma perda importante da função das papilas, causada pela atrofia produzida pelas substâncias tóxicas. É por isso que muitos fumantes relatam sentir mais o gosto dos alimentos após iniciar o processo de parar de fumar. Esse o caso de Luiz Otávio Rangel Moreno, 43 anos, ecochef do Quetuttis Orgânicos, um delivery de refeições veganas e naturais. [2]
Luiz Otávio chegou a fumar até dois maços por dia. Ele relata ter percebido uma mudança significativa relacionada ao paladar e aos cheiros logo que começou a reduzir a quantidade de cigarros. Isso fez diferença inclusive no seu trabalho, obviamente.
– Começar a sentir gostos e aromas mudou muito a relação que tenho com os pratos que preparo. Tive vontade de começar a experimentar novos temperos e isso modificou bastante a minha postura na cozinha. Estou me tornando um chef mais ativo, curioso e aguçado na descoberta dos sabores e isso vem refletindo até mesmo na qualidade dos pratos que preparo.
Alberto José de Araújo, pneumologista e coordenador do Núcleo de Estudos e Tratamento do Tabagismo do IDT/UFRJ, explica, do ponto de vista científico, porque isso acontece:
? O tabaco, pela própria temperatura e componentes químicos, forma na língua uma camada de resíduos que diminui a sensibilidade das papilas gustativas. Uma das boas consequências da cessação do tabagismo é a de recuperar as sensações do sabor e olfato. A recuperação da sensação do paladar é uma das primeiras mudanças benéficas que o organismo experimenta após parar de fumar, já sendo sentida nas primeiras semanas.
O sabor não tem só a ver com o gosto, mas também com o aroma do que se vai à boca. É por isso que, quando estamos resfriados, a comida parece estar sem sabor, embora o paladar continue presente. Essa foi a principal diferença sentida por Vanessa Pagy, 34, que fumou por 12 anos e parou há quatro.
? Passei a ter maior percepção do cheiro do cigarro, tanto nas roupas quanto no corpo das outras pessoas. Hoje em dia, sinto o cheiro de cigarro à distância. Esse cheiro, que fazia parte de mim e eu nem percebia, hoje em dia é praticamente intolerável.
A sensação olfativa também é muito afetada no tabagismo. Entre os componentes identificados no tabaco, que promovem a redução da capacidade olfativa, incluem-se o monóxido de carbono, os aldeídos e os alcaloides do alcatrão e os metais pesados. Mas o pneumologista explica que esses efeitos também são reversíveis. [3]
– O tabagismo promove efeitos em longo prazo no olfato, mas que também podem ser revertidos. É esperado que já nas primeiras semanas após a interrupção, grande parte dos ex-tabagistas já experimente substancial recuperação da função olfativa.
Fontes:
1 – Agência para Substâncias Tóxicas e Registro de Doenças dos EUA (ATSDR)
2 – Alberto José de Araújo (CRM – 33644-2)
3 – Inca (Instituto Nacional de Câncer)
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