Policial

Paraná tem uma morte a cada dois dias

Toledo – A cada dois dias uma mulher é vítima do companheiro no Paraná. Os números alarmantes são Ministério Público do Estado, repassados a pedido do Jornal O Paraná. Hoje é o encerramento da campanha de 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher (de 25 de novembro a 10 de dezembro). A data marca o Dia Internacional dos Direitos Humanos.

Conforme a assessoria de imprensa do Ministério Público, esses dados podem ser ainda maiores, uma vez que vários casos ainda estão como inquéritos nas delegacias do Estado e ainda nem chegaram ao conhecimento do MP.

De janeiro a 30 de novembro deste ano, 137 mulheres foram assassinadas no Paraná. O número é 17% menor que ano passado, quando houve 166 casos, mas quase 9% maior do que o registrado em 2015, quando 126 mulheres morreram nas mãos de maridos, namorados ou companheiros.

A reportagem solicitou ao MP dados referente a algumas cidades da região oeste, cuja concentração populacional é maior. Segundo o MP, Cascavel, com pouco mais de 316 mil habitantes, concentra o maior número absoluto de feminicídios nos últimos três anos: 12 casos – cinco em 2015, quatro em 2016 e três este ano.

As vítimas de 2017 foram Salete de Fátima dos Santos, de 49 anos, morta pelo ex-marido Pedro Fernandes em um acidente automobilístico. Ela estava em casa com o namorado quando Pedro a obrigou a entrar no carro e de lá seguiram em alta velocidade pela BR-369. Em determinado trecho da rodovia, Pedro jogou o carro em que eles estavam contra um ônibus. Salete morreu na hora; Pedro fugiu, mas foi preso alguns dias depois.

A segunda vítima de feminicídio em Cascavel foi Maria Virgínia da Silva, de 43 anos. Ela chegava ao trabalho, no Bairro Guarujá, quando foi surpreendida pelo ex-companheiro Ademir Francisco Branco. Maria foi esfaqueada, chegou a ser socorrida, mas não resistiu aos ferimentos. A terceira vítima foi Marigeize Dalbosco Gomes, de 29 anos. Ela estava grávida de oito meses e foi morta pelo marido, Luiz Roberto Gomes, que cometeu suicídio logo depois.

No entanto, em termos proporcionais, Toledo detém a liderança: foram 6,66 mortes para cada 100 mil pessoas. Em Cascavel, o índice é de 3,79 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes.

Toledo registrou nove casos nos últimos três anos – cinco em 2015, dois em 2016 e outros dois em 2017. Na sequência estão Foz do Iguaçu, com cinco (três em 2016 e dois em 2017) e Assis Chateaubriand, com um feminicídio por ano.

Rejeição é principal motivação das mortes

Não aceitar o fim do relacionamento é o motivo mais comum apontado pela polícia quando se trata de violência contra a mulher, principalmente em casos de feminicídio.

De acordo com a delegada da Mulher de Toledo, Fernanda Lima Moretzsohn, toda e qualquer ameaça deve ser levada a sério: “Em poucos casos o autor não demonstra sinais de violência antes do crime. Na maioria deles há ao menos uma ameaça, uma briga, uma agressão. A mulher tem que levar todas essas situações em consideração porque, se ela pensar que não vai acontecer nada hoje, se não levar o caso adiante, pode sim ser morta”.

Segundo a delegada, quase que a totalidade dos algozes é justamente aqueles que deveriam defender a mulher. “Quando a mulher resolve viver uma vida ao lado de alguém ela imagina que esse alguém vai protegê-la, mas nem sempre é isso o que acontece. O álcool e o ciúme são dois ingredientes que não combinam e, quando misturados, podem causar um problema muito grande”.

Em Toledo, a delegada conta que a implantação da Delegacia da Mulher, em junho do ano passado, fez com que o número de denúncias de violência domésticas crescesse consideravelmente. “Antes as mulheres precisavam ir várias vezes até a delegacia para enfim finalizar uma denúncia. Hoje, com a Delegacia da Mulher, ela vem até aqui e já sai com a certeza de que conquistará uma medida protetiva e que, a princípio, nada mais grave vai acontecer”.

Conforme Fernanda, o apoio da família é fundamental: “Hoje a mulher tem mais coragem de denunciar e os familiares e amigos acabam ajudando-a, não só em servir como testemunhas, mas também a apoiando depois, o que é muito importante”.

 

*********** EM NÚMEROS *********

CIDADE 2015 2016 2017 TOTAL

Cascavel 5 4 3 12

Foz do Iguaçu 0 3 2 5

Toledo 5 2 2 9

Palotina 0 1 0 1

Santa Helena 0 0 1 1

Medianeira 2 0 0 2

Assis Chateaubriand 1 1 1 3

Matelândia 1 0 0 1

Paraná 126 166 137 429

 

O que é feminicídio?

A Lei 13.104/2015 altera o Código Penal para prever o feminicídio como um tipo de homicídio qualificado e incluí-lo no rol dos crimes hediondos. Na prática, isso quer dizer que casos de violência doméstica e familiar ou menosprezo e discriminação contra a condição de mulher passam a ser vistos como qualificadores do crime. Os homicídios qualificados têm pena que vai de 12 a 30 anos, enquanto os homicídios simples preveem reclusão de 6 a 12 anos.